A Comissão Europeia anunciou, nesta quarta-feira (2), a adoção do projeto que confere um selo de sustentabilidade a investimentos em energia, incluindo a geração nuclear e de gás, apresentado como uma etapa para a neutralidade de carbono.

A regulamentação busca impulsionar fortes investimentos em iniciativas de energia limpa e renovável. A inclusão de centrais nucleares e a gás gerou acirradas discussões entre os países-membros da União Europeia.

O documento foi aprovado nesta quarta-feira pelo colegiado de comissários europeus, e agora terá início um longo processo até sua plena implementação, um caminho que não será fácil.

Até agora, apenas os investimentos em iniciativas de energias renováveis podiam beneficiar deste “selo verde” da Comissão.

Em um comunicado, a Comissão Europeia disse que “hoje (quarta-feira) completamos uma etapa importante na transição” para a neutralidade de carbono.

A comissária europeia para os Serviços Financeiros, Mairead McGuinness, disse que “devemos usar todas as ferramentas à nossa disposição, porque temos menos de 30 anos” para alcançar a ambiciosa neutralidade de carbono.

A ideia de estabelecer uma estrutura regulatória para investimentos “sustentáveis” em energia foi inicialmente recebida com amplo apoio, mas a inclusão de usinas nucleares e de gás fóssil diminuiu drasticamente o entusiasmo.

A Comissão havia enviado na última ata do dia 31 de dezembro uma proposta sobre essa iniciativa aos países da União Europeia, e as capitais do bloco tiveram até 21 de janeiro para apresentar seus pontos de vista.

– Divisões –

A inclusão da energia nuclear e de gás no projeto foi defendida por vários países liderados pela França, que alegam que fontes renováveis (como solar ou eólica) não cobrirão as necessidades de eletricidade do bloco.

Em contrapartida, a Alemanha – país altamente dependente do gás para movimentar sua indústria – liderou o grupo de países que se opõe à inclusão da energia nuclear no programa de investimentos “sustentáveis” e defende a inclusão do gás.

Dessa forma, Paris e Berlim procuraram garantir que matrizes energéticas de fundamental importância para suas economias fossem incluídas no projeto.

Enquanto isso, Áustria, Dinamarca, Suécia e Holanda publicaram uma carta conjunta contra a inclusão do gás, uma fonte de energia fóssil.

Para esses quatro países, a intenção da UE de ver seu plano de categorização se tornar o “padrão” seria seriamente afetada.

O projeto, entretanto, recebeu forte apoio da Polônia e da República Tcheca, dois países que precisam substituir suas usinas a carvão altamente poluentes.

Ariadne Rodrigo, especialista em finanças sustentáveis da ONG Greenpeace, denunciou “uma tentativa de roubo. Alguém está tentando desviar bilhões de euros de energias renováveis e afundá-los em tecnologias que não fazem nada para combater a crise climática”.

A partir de agora, começa a correr um prazo de quatro meses (que pode ser prorrogado por mais dois meses) para que o Parlamento Europeu trate do texto.

A princípio, o Conselho Europeu (que representa as nações do bloco) também poderia bloquear sua plena autorização para o programa, embora para isso precisaria unir o voto de 20 países membros, cenário que no momento parece impossível de alcançar.