A Alemanha está introduzindo uma forma alistamento voluntário para incentivar jovens a se tornarem militares. Mas, em alguns países europeus, o serviço obrigatório nunca foi abolido. Veja a situação de algumas nações.Após o fim da guerra fria, uma série de países europeus, como a Alemanha e a França, aboliram seus mecanismos de serviço militar obrigatório. No entanto, nos últimos anos, com a deterioração da situação de segurança na Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o crescente distanciamento dos EUA de questões militares europeias, vários países vêm reintroduzindo o alistamento obrigatório ou debatendo incentivos para atrair jovens para as fileiras militares.

No entanto, alguns países, como a Finlândia, nunca chegaram a abolir o serviço obrigatório.

Veja como alguns países europeus lidam com a prática.

Alemanha

Em 2011, a Alemanha aboliu o serviço militar obrigatório. Mas a maior economia da Europa agora tem revisto essa decisão, com algo que o Ministério da Defesa alemão chama de “novo serviço militar”. A medida visa incentivar um alistamento voluntário, no qual um questionário é enviado a todos os jovens de 18 anos. Na Alemanha, o processo será voluntário — pelo menos no início.

A partir de 1º de julho de 2027 o questionário então se tornará obrigatório para todos os homens dessa idade. “Os jovens serão obrigados a preencher o questionário”, diz o site do Ministério da Defesa da Alemanha. “Para pessoas de outros gêneros, responder é voluntário, já que não estão sujeitas ao alistamento.”

Quem quiser se alistar nas Forças Armadas passará então por um processo seletivo e, se aprovado, receberá o status de “soldado temporário” (SaZ). Isso coloca os novos recrutas em uma posição financeira melhor, e os bônus devem tornar compromissos mais longos com o exército mais atrativos.

O alistamento não será obrigatório sob as novas regras, mas o modelo inclui essa possibilidade. Caso a situação de segurança mude ou não haja voluntários suficientes, o governo alemão poderá ordenar o recrutamento obrigatório, com aprovação do Parlamento (Bundestag). Basicamente, a partir de 2027, o questionário digital obrigatório permitirá ao governo saber quantos possíveis soldados existem, onde estão, qual seu estado de saúde e em quais áreas eles poderiam servir.

Depois do serviço voluntário, os jovens alemães permanecerão ligados ao exército por meio da reserva militar — não farão parte do exército regular, mas poderão ser convocados sempre que necessário e participar de treinamentos. Esse aumento de reservistas é crucial para os objetivos da Otan de reforçar o poderio dos seus membros europeus. Dessa forma, as Forças Armadas da Alemanha vão tentar compensar a atual escassez de pessoal.

França

A França aboliu gradualmente o serviço militar obrigatório entre 1997 e 2001, mas em 2019 o presidente Emmanuel Macron introduziu o Service National Universel (SNU), um programa de um mês para jovens de 15 a 17 anos, parcialmente organizado pelos militares, que também inclui conteúdos sociais e cívicos.

Há discussões frequentes sobre a volta do serviço obrigatório. Em 2018, Macron anunciou planos de introduzir a obrigatoriedade, mas até hoje o SNU continua voluntário. A França não tem fundos nem apoio político suficientes para ir além. O foco está nos reservistas, que devem mais do que dobrar — de 46 mil para 105 mil até 2035, o que equivale a quase um reservista para cada militar ativo.

Reino Unido

O serviço militar obrigatório foi abolido entre 1960 e 1963. O país mantém um exército profissional, mas, como a Alemanha, sofre com a falta de voluntários.

Analistas militares alertam que retomar a obrigatoriedade não seria eficiente nem prático. A recomendação é expandir também as forças de reserva.

Polônia

O serviço militar obrigatório foi abolido em 2008, mas, desde a invasão russa da Ucrânia, a Polônia vem se rearmando mais do que a maioria dos países europeus. O objetivo é ter 300 mil soldados até 2035, sendo 50 mil das Forças de Defesa Territorial — uma espécie de guarda nacional composta por soldados em meio período que levam habilidades civis para o exército.

O país também mantém reservistas (ex-soldados em treinamento regular) e introduziu aulas de treinamento militar em escolas para adolescentes de 14 a 16 anos, que aprendem sobre segurança nacional, resgate em desastres, primeiros socorros e até manuseio de armas.

Suécia

O serviço militar obrigatório foi abolido em 2010, mas reintroduzido em 2017. Todos os jovens de 18 anos devem se registrar online e fornecer dados pessoais ao exército. Depois disso, uma porcentagem — geralmente entre 5% e 10% — é convocada. Tanto homens quanto mulheres podem ser recrutados.

Desde 2023, também existe um serviço civil obrigatório em alguns setores estratégicos, como agências municipais de resgate e fornecimento de energia elétrica.

Finlândia

O serviço militar obrigatório foi abolido no país. Todos os homens a partir de 18 anos devem servir; mulheres podem se voluntariar. O serviço básico dura entre seis e 12 meses.

Cerca de dois terços de cada geração cumprem o serviço militar, uma das taxas mais altas da Europa.

Depois do treinamento, quase todos os homens tornam-se reservistas e podem ser convocados regularmente. Assim, a Finlândia, com 5,6 milhões de habitantes, pode mobilizar rapidamente cerca de 280 mil soldados, e o total de reservistas é de aproximadamente 900 mil.

Noruega

O serviço militar é obrigatório para homens e mulheres de 18 a 19 anos desde 2013. A primeira turma mista treinou em 2016, tornando a Noruega o primeiro país da Otan a recrutar ambos os gêneros.

Apenas uma fração dos jovens é chamada, e o serviço militar, mesmo obrigatório, tornou-se algo prestigioso devido à seletividade. O país também depende cada vez mais de reservistas.

Dinamarca

O serviço militar é obrigatório para homens de 18 anos e, a partir de julho de 2025, também para mulheres. Até 2026, a duração do serviço aumentará de quatro para 11 meses.

Oficialmente, os recrutas são escolhidos por sorteio. Na prática, porém, o exército recebe mais voluntários do que precisa — cerca de 8 mil se candidatam por ano, quando apenas 4 mil vagas são abertas.

Áustria

O serviço obrigatório continua vigente: homens a partir de 18 anos devem servir seis meses no exército ou nove meses em serviço civil. Mulheres podem se voluntariar.

Embora o debate sobre abolir o alistamento ecloda ocasionalmente, a atual situação de segurança na Europa torna essa possibilidade remota. O país não faz parte da Otan e também depende bastante de seus reservistas.

Letônia

O serviço militar obrigatório foi abolido em 2006, mas voltou em 2023. Homens de 18 a 27 anos devem servir por 11 meses; mulheres podem se voluntariar.

A reintrodução está sendo gradual, por falta de infraestrutura e instrutores. Até 2027, o objetivo é treinar 7.500 pessoas por ano, ampliando as forças armadas de 22 mil para 50 mil soldados, incluindo reservistas e defesa territorial.

Lituânia e Ucrânia

A Lituânia reintroduziu o serviço militar obrigatório em 2015 para homens de 18 a 23 anos e recruta cerca de 3.500 por ano via sorteio. Embora o serviço militar obrigatório se aplique aos homens, existe uma opção de serviço voluntário para homens e mulheres. Os cidadãos podem optar por adiar o serviço, e há discussões em andamento para uma possível reforma do sistema de recrutamento, para incluir mais indivíduos.

Já a Ucrânia reinstaurou o serviço militar obrigatório em 2014. Desde a invasão russa em 2022, todos os homens de 18 a 60 anos estão sujeitos a servir. Hoje, cerca de 1 milhão de ucranianos fazem parte do exército, além de outro milhão de reservistas.

Grécia

Todos os homens de 18 a 45 anos devem servir 12 meses no exército. Mulheres podem se voluntariar. Quem recusa por objeção de consciência deve cumprir períodos mais longos de serviço civil.

Todos os recrutas tornam-se automaticamente reservistas, e o país realiza treinamentos regulares. O objetivo é chegar a 150 mil reservistas ativos até 2030.

Turquia

Todos os homens de 20 a 41 anos devem servir pelo menos seis meses. Porém, após o primeiro mês, aqueles que podem pagar cerca de 243 mil liras turcas (R$ 32 mil) são dispensados do restante. Quem se recusa a servir pode enfrentar multas ou prisão.