28/07/2024 - 12:37
Protestos contra turismo de massa e efeitos negativos sobre comunidades locais vêm se espalhando pelo continente. Veja o que algumas cidades estão fazendo para abordar o problema.Recentemente, manifestantes usaram pistolas de água contra turistas desavisados em Barcelona durante manifestações contra o turismo de massa na Espanha. As imagens do incidente rapidamente correram o mundo. Mas Barcelona não é o único destino espanhol no qual muitos moradores se mostram fartos com a presença de tantos turistas e seus efeitos negativos sobre o comércio e o mercado imobiliário local. Também ocorreram protestos nas Ilhas Canárias, nas Ilhas Baleares e na Andaluzia.
Em 2023, a Espanha recebeu mais de 85 milhões de turistas. O país foi segundo destino turístico mais popular do mundo, depois da França. No entanto, muitos moradores da Espanha não estão sozinhos em seu ressentimento em relação ao turismo de massa. Destinos turísticos importantes na Europa, incluindo Itália e Grécia, também estão discutindo e impondo maneiras de desestimular a presença de tantos visitantes.
Barcelona: Fim dos aluguéis “Airbnb”
A conversão de milhares de apartamento em propriedades para aluguéis de temporadas de curto prazo na Catalunha teve um impacto especialmente drástico no mercado imobiliário local. O prefeito de Barcelona, Jaume Collboni, anunciou recentemente planos para banir todas as moradias do tipo “Airbnb” dentro de cinco anos.
A administração da cidade espera que mais de 10.000 apartamentos sejam recolocados no mercado de aluguel de longo prazo.
Durante os recentes protestos antiturismo em Barcelona, manifestantes criticaram o aumento dos preços dos aluguéis nos últimos anos, que tornaram a vida significativamente mais cara para muitos moradores. Collboni disse durante uma coletiva de imprensa que os aluguéis aumentaram mais de 70% em Barcelona na última década. No ano passado, a Catalunha liderou as estatísticas de turismo da Espanha, com 18 milhões de visitantes.
Maiorca: Limites para compradores de imóveis?
A ilha espanhola de Mallorca também foi palco de vários protestos contra o turismo de massa nos últimos meses. Assim como na Catalunha, a falta de moradia acessível para os moradores locais é uma das principais fontes de descontentamento.
Os legisladores da ilha estão debatendo limitar a venda de imóveis apenas para os residentes permanentes de Maiorca, embora ainda não esteja claro como isso poderia ser conciliado com a legislação da União Europeia. Mas controles sobre o setor de aluguel já vêm sendo reforçados.
A capital da ilha, Palma, por exemplo, criou um plano de ação para identificar e multar proprietários de acomodações turísticas irregulares. No ano passado, quase 12,5 milhões de turistas visitaram a ilha, estabelecendo um novo recorde. No entanto, a cidade também vem impondo limites ao número de navios de cruzeiro que podem atracar no porto de Palma.
Ilhas Canárias: Baixos salários são fonte de ressentimento
As Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no Oceano Atlântico, também registraram um número recorde de turistas – aproximadamente 14 milhões em 2023. No entanto, o descontentamento no arquipélago está crescendo.
Em abril, milhares de pessoas participaram de uma manifestação. Entre outras reivindicações, os manifestantes pediram uma distribuição mais justa da receita gerada pelo setor de turismo.
O salário médio nas Ilhas Canárias continua particularmente baixo, apesar do crescente número de turistas. No entanto, em contraste com a grande maioria dos destinos de turismo de massa, ainda não há cobrança de uma taxa turística nas Canárias. Entretanto, um novo “imposto ecológico” para turistas está previsto para ser introduzido nas ilhas a partir de janeiro de 2025, de acordo com o conselho de Tenerife.
Paris: Turistas terão que desembolsar mais
Qualquer um que visite a capital francesa deve estar preparada para pagar a taxa de turismo da cidade, cobrada por pessoa em pernoites em Paris e municípios da região de Ile-de-France. O dinheiro gerado pela taxa é usado para investimentos destinados a beneficiar pessoas que vivem nas áreas afetadas.
No entanto, em vista dos Jogos Olímpicos de 2024, a França anunciou um aumento de 200% na taxa. Dependendo da categoria do hotel, os visitantes devem pagar até € 14,95 (cerca de R$ 90) por dia para as acomodações mais caras.
Anteriormente, a França já havia limitado os aluguéis de curto prazo a 120 dias por ano após um registro.
Amsterdã: sem mais novos hotéis
Amsterdã desempenha um papel de liderança quando se trata de impor limites ao turismo de massa. Em contraste com outros destinos, as autoridades da capital holandesa já definiram a capacidade turística máxima da cidade em 20 milhões de pernoites por ano.
A medida foi desencadeada pela política de “turismo em equilíbrio” de Amsterdã, que foi criada em 2021 depois que 30.000 residentes pediram um controle mais rígido do setor de turismo.
Novos hotéis só poderão ser construídos se outro for fechado, e a cidade está pedindo às empresas do ramo hoteleiro que escolham locais fora do centro da cidade. No futuro, o número de navios de cruzeiro que chegarão ao porto também será limitado.
Grécia: Limites para navios de cruzeiro?
A Grécia pode estar pronta para introduzir limites semelhantes para navios de cruzeiro. O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis disse à rede Bloomberg que Santorini e Mykonos estão “claramente sofrendo” com o excesso de turistas. Ele acrescentou que a decisão de limitar as visitas de cruzeiros pode ocorrer já no próximo ano.
De acordo com o Escritório Federal de Estatística da Grécia, o sul do mar Egeu tem a maior proporção de turistas da UE por habitante.
No início deste ano, as autoridades gregas também introduziram uma “taxa de resiliência à crise climática”, que adiciona um custo extra para pernoites em acomodações turísticas, incluindo os aluguéis do Airbnb. O governo disse que a taxa, que pode chegar a 10 euros (R$ 61) para a categoria de hotel mais cara, ajudará os profissionais de turismo no caso de uma emergência climática ou catástrofe natural, como incêndios ou terremotos.
Veneza: cobrança de entrada para visitantes diários
A partir deste ano, qualquer pessoa que não passar a noite no centro histórico de Veneza deverá pagar ingresso em determinados dias do ano. Inicialmente, a taxa era de 5 euros (R$ 30), mas o valor poderá dobrar em determinados dias no próximo ano, de acordo com relatos da mídia local.
O objetivo da medida é reduzir o número de excursionistas que passam somente algumas horas e gastam pouco dinheiro na cidade, mas que ainda assim contribuem para os problemas de excesso de turismo. Veneza atrai cerca de 20 milhões de turistas por ano.