RESUMO

• A JBS, maior processadora de carne do mundo, faturou R$ 375 bilhões em 2022
• Operação brasileira se tornou maior empregadora do país: 151 mil funcionários
• Frigorífico está construindo o primeiro Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em proteína cultivada no País
• Mercado vê potencial nos papéis da empresa, por conseguir mitigar riscos da natureza cíclica do negócio
• Analistas alertam que as contratações decorrentes da expansão trazem desafios: preparar mão de obra e transferir cultura

No mundo do agronegócio, o dito popular “o olho do dono é que engorda o boi” é quase um mandamento bíblico. É sob o olhar atento do chefe que os negócios ganham força, peso e musculatura. Essa máxima exemplifica com exatidão o desempenho da JBS, maior empresa de proteína animal do planeta.

Nos últimos anos, a companhia se tornou um colosso de resultados recordes. Em 2022, sob as rédeas do CEO global Gilberto Tomazoni, homem de confiança da família Batista e o primeiro presidente a não pertencer ao clã fundador, atingiu faturamento de R$ 375 bilhões em todo o mundo — alta de 6,9% sobre o ano anterior e o melhor balanço desde a fundação, em 1953, na cidade goiana da Anápolis.

Já a operação brasileira da JBS, sob o comando do xará Gilberto Xandó, engordou não só os resultados, mas também a folha de pagamentos. Pela primeira vez na história, ela assumiu a posição de maior empregadora do Brasil, com 151 mil funcionários. O feito se deu após um megaciclo de investimentos de R$ 8 bilhões, definido há três anos, em:
• expansão das fábricas,
• diversificação de portfólio,
• aquisições.

De janeiro a agosto, a empresa recrutou 7 mil pessoas, ultrapassando a rede varejista Carrefour em número de carteiras assinadas. A dianteira da JBS deverá ficar ainda maior nos próximos meses.

Outras 5 mil vagas serão preenchidas em 14 estados até o final deste ano, segundo Xandó. “Há demanda por mão de obra em todas as nossas unidades no País”, afirmou em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Vamos inaugurar fábricas nas próximas semanas e expandir nossas operações em todos os segmentos. Hoje estamos com uma estrutura de produção que dará conta do crescimento de uma década”, disse.

Ao contratar 7 mil funcionários neste ano, a JBS alcançou 151 mil postos de trabalho e ultrapassou o Carrefour como maior empregador do País

A JBS pegou o gosto por mega aquisições em 2007, quando comprou a americana Swift por US$ 1,4 bilhão. Foi a mais importante aquisição da empresa até então e a transformou na maior processadora de carne bovina do mundo.

Em 2009, desembolsou R$ 800 milhões pela Pilgrim’s Pride Corporation, com operações no México, Porto Rico e Reino Unido.

Já em 2013, adquiriu a Seara pelo valor de R$ 5,85 bilhões, assumindo uma operação parruda em aves e suínos.

Até em peixes o grupo tem investido. Na Austrália, comprou a Huon Aquaculture, uma das líderes no segmento de salmão. No Brasil, a empresa está expandindo essas operações em peixes e frutos do mar sob a marca Seara.

A força da JBS no mercado de trabalho reflete a pujança dos negócios do grupo. Pelos cálculos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a companhia movimentou no ano passado o equivalente a 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Em cifras, foram impressionantes R$ 155,2 bilhões, com negócios que vão desde o core business da proteína animal até atividades como couros, biocombustíveis, fertilizantes biológicos e proteínas cultivadas — aquelas desenvolvidas em laboratório, que parecem com carne, têm gosto de carne, mas sua origem pode ser vegetal ou de células de animais multiplicadas em laboratório.

Foi no ano passado que a JBS incorporou ao grupo a BioTech Foods, uma das líderes mundiais em pesquisa e produção dos chamados alimentos do futuro. Esse nicho será, na avaliação de Xandó, um dos grandes vetores de crescimento de novos negócios no Brasil.

Na quarta-feira (26), a empresa deu início às obras para a construção do JBS Biotech Innovation Center, o primeiro Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em proteína cultivada no País.

Previsto para ser inaugurado no final de 2024, o empreendimento ficará no Sapiens Parque, em Florianópolis, e será o maior centro de pesquisa voltado para a biotecnologia dos alimentos no mercado nacional.

Receberá um investimento de US$ 22 milhões, entre obras civis e aquisições de equipamentos, para a implantação dos laboratórios (fase 1) e da planta-piloto (fase 2), e terá uma equipe científica de 25 pós-doutores e especialistas em diversas áreas.

A JBS assumiu a liderança global em produção de couros, que são vendidos para a indústria de calçados e acessórios, além de fornecedores de montadoras de automóveis (Crédito:Cláudio Gradilone)
(Ricardo Cardoso)

Perspectivas

Apesar de a JBS possuir uma imensa exposição global, com operações em mais de 190 países, 260 mil colaboradores e 330 mil clientes, é principalmente no Brasil que o grupo tem se consolidado como uma fábrica de empregos.

Em outubro, a empresa vai oficializar a abertura da mais moderna fábrica da empresa em Rolândia, no Paraná. O complexo, com duas unidades de produção para empanados e salsichas, vai empregar 4,5 mil funcionários.

A planta de Dourados, no Mato Grosso do Sul, a maior da companhia, também está em fase de ampliação e deve encerrar o ano com 6,5 mil colaboradores.

Também neste ano, a JBS conclui a abertura de suas plantas no Mato Grosso, nos municípios de Juara, Diamantino e Confresa, que somarão 2 mil vagas formais. “Mais importante que a força desses empregos para a JBS é o que eles proporcionam para a economia do Brasil.”

A expansão acelerada das contratações da JBS vai exigir cautela e estratégia por parte da companhia, segundo Marcos Freitas, especialista em mercado de trabalho e fundador da consultoria Seja Alta Performance.

“O maior desafio da JBS será fazer o cascateamento da cultura, promover os objetivos dos donos e acionistas, e garantir o alinhamento do time com os propósitos da organização.”
Marcos Freitas, especialista da Seja Alta Performance

A aceleração da JBS, seja no campo dos negócios, seja no ritmo de contratações, é vista com bons olhos pelo mercado e investidores. Na quarta-feira (27), a corretora EQI Research divulgou recomendação de compra para JBS. A casa de análise projeta salto de 80% nos papéis JBSS3, com preço-alvo de R$ 32 ao final de 2024. “Vemos o momento do ciclo bovino mais favorável para frigoríficos com exposição aos mercados sul-americanos”, afirmam os economistas da corretora, em relatório.

A EQI considera que a JBS tem portfólio de produtos e presença geográfica altamente diversificados, possui a maior capacidade entre todos os frigoríficos brasileiros de mitigar os riscos trazidos pela natureza cíclica do negócio. “A pior parte do ciclo bovino nos EUA já ficou para trás e devemos começar a ver margens crescentes nos próximos trimestres.”

Já a Ativa Investimentos avalia que a boa liquidez da JBS dá a ela uma vantagem em termos de crescimento. “Dentre os anúncios mais recentes, podemos citar a listagem de suas ações nos EUA, se tornando uma empresa com dupla listagem, na B3 e na NYSE”, disse, em relatório. “Com o movimento, a JBS pretende equalizar seus múltiplos com suas concorrentes, como a Tyson Foods.”

Enquanto nutre seus planos de crescimento no Brasil e no mundo, a companhia segue se consolidando como uma incessante máquina de geração de renda e emprego. É sob os olhos de Gilberto Xandó que a JBS engorda os seus resultados no País.

ENTREVISTA: Gilberto Xandó, presidente da JBS Brasil

“Estamos com uma estrutura de produção que dará conta do crescimento de uma década”

Gilberto Xandó, CEO da JBS Brasil (Crédito:Natália Flach)

Ser a maior empresa empregadora do Brasil fazia parte do plano da companhia?
Não planejamos ser os maiores. Aconteceu naturalmente. A expansão da estrutura da JBS no Brasil nesses últimos anos demandou investimentos elevados e crescimento nas contratações. Os R$ 8 bilhões que definimos como plano de investimento há três anos, para expansão e agregação de valor, fizeram com que atingíssemos essa posição no mercado de trabalho.

Quais segmentos demandaram mais investimentos e contratações?
Expandimos em praticamente todas as linhas de produtos e de plantas. Na área de alimentos preparados, duas grandes fábricas nossas no complexo de Rolândia receberam investimentos relevantes. Uma de empanados e outra de salsicha. Passamos a ter 4,5 mil funcionários lá.

O foco das contratações foi no Paraná?
Não só lá. Expandimos a unidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, que é a nossa maior planta. Lá temos 6,5 mil funcionários. E em todas as áreas fizemos contratações. Foram 7 mil neste ano, e temos outras 5 mil vagas em aberto. Vamos seguir aumentando a capacidade de abate de suínos, de alimentos preparados, frescal, de defumados, presunto, apresuntado, salame e muitos outros.

A expansão é para se ajustar à demanda?
Não só para a demanda atual, mas para a demanda projetada para os próximos dez anos. Estamos com uma estrutura de produção que dará conta do crescimento de uma década. Por isso é que chegamos a 151 mil funcionários, o que nos leva a essa posição de ser o maior empregador do Brasil.

Qual é a maior dificuldade para se contratar tanta gente, em tão pouco tempo?
O desafio do Brasil é a formação de mão de obra, em qualidade e quantidade. Por isso desenvolvemos internamente várias iniciativas para atrair profissionais qualificados. Contratamos aproximadamente 6 mil venezuelanos, que trabalham já conosco nas plantas do Ceará e Mato Grosso do Sul. Temos imigrantes do Haiti. E incentivamos que o trabalhador que hoje é operador 1, se torne 2 e depois 3. Temos vários programas de qualificação.

A JBS tem políticas de cotas, de igualdade de gênero e inclusão de minorias?
A gente acolhe 100% da diversidade. Somos muito abertos nesse sentido. Mas não estabelecemos cotas. Em cada novo negócio, a gente coloca foco na diversidade, mas sem determinar número mínimo de vagas. E temos comitês internos que estão sempre monitorando isso.

E qual a estratégia para atrair e reter talentos nos cargos de comando?
Somos uma empresa de valores. Temos atraído pessoas pelos nossos valores. Aqui está muito claro para todos o que a gente acredita ou não acredita. Nos últimos 10 anos, principalmente, fortalecemos muito a nossa cultura. Isso ficou muito forte na companhia. E isso faz com que as pessoas tenham atitude de dono, que sejam disciplinadas, tenham simplicidade e sejam pessoas humildes. Essa postura está muito ligada à forma como nós conduzimos o negócio. Temos as pessoas certas dentro da companhia. Nossos valores têm sido, talvez, o principal patrimônio de atratividade e retenção de pessoas na JBS.

Essa cultura de valores não ficou abalada depois das polêmicas envolvendo os irmãos Wesley e Joesley na Lava Jato, que levaram ao afastamento deles do comando da empresa?
Não, não. Não tem relação uma coisa com a outra. Nosso compliance existe há mais de 30 anos. Esses eventos que você citou, nada a ver. Fizemos um grande evento de cultura no ano passado, com 15 mil líderes pelo mundo, onde ficou muito claro a importância da cultura para nós, para todos os 260 mil funcionários em todas as 135 fábricas pelo mundo.