21/03/2014 - 12:27
Jogos de videogame, desenhos animados e, agora, filme de sucesso em Hollywood. Esses foram alguns dos ingredientes que fizeram a dinamarquesa Lego se recuperar de uma quase falência no começo do século, mais precisamente em 2001. Depois de registrar um prejuízo de US$ 144 milhões um ano antes, a empresa fundada pelo carpinteiro Ole Kirk, em 1934, passou a alternar altos e baixos até recuperar a imagem como uma das maiores fabricantes de brinquedos do mundo. A companhia fechou 2013 com seu maior lucro da história: US$ 1,1 bilhão dentro de uma receita de US$ 4,1 bilhões. No Brasil, a marca nunca foi tão forte como hoje.
O período de recuperação da Lego coincide com dois pontos, ambos ocorridos em 2005. O primeiro foi o lançamento do jogo para videogame baseado nas trilogias de Guerra nas Estrelas, dirigidas por George Lucas. O título eletrônico ajudou a colocar a empresa nos eixos: de perdas de US$ 325 milhões em 2004, o lucro voltou a ser encaixado nos números da empresa, que desde então não parou de crescer.
O segundo fato foi o acordo para que o grupo paulista M.Cassab fosse a distribuidora oficial dos produtos da Lego no Brasil. O M.Cassab não é um parceiro pequeno. O grupo faturou um total de R$ 1,2 bilhão no ano passado, com operações que vão da distribuição de produtos químicos e cosméticos, entre outros, até o varejo de utilidades domésticas. Tornou-se, portanto, um parceiro capaz de colocar o Brasil no campo de visão da Lego.
Quero ser grande
“Ainda não somos os maiores em termos de faturamento, mas os atuais resultados mostraram para a matriz o nosso potencial”, diz Robério Esteves, diretor de operações da M.Cassab. O grupo não fornece números no País, mas afirma que as vendas cresceram 61% apenas no ano passado – a média era de 28%. “Viramos um polo estratégico para a empresa, ainda mais com o aumento de renda do brasileiro”, afirma Esteves. O diretor, porém, quer entrar no ranking dos dez países que mais vendem da empresa.
Para isso, diversas ações foram e estão sendo feitas. Propagandas em canais infantis de televisão a cabo, criação de duas lojas conceito, uma em Curitiba e outra no Rio de Janeiro, e renovação rápida da linha de produtos. Os brinquedos lançados e fabricados na Dinamarca chegam ao País em dois meses. “A intenção é iniciar a importação pelo México ainda esse ano”, afirma o diretor. “Queremos diminuir esse processo em 15 dias.”
A filial brasileira, contudo, concorre com os eletrônicos e o interesse das crianças nas novas tecnologias. “Mas a Lego entendeu que precisava estar em todos os meios”, diz Esteves. “Ela teve uma visão 360º e começou a produzir desenhos, jogos na internet, aplicativos em português.” A relação com os lojistas também foi fundamental para o aumento nas receitas da M.Cassab. “Nosso desafio é fazer com que eles perceberem que o produto é lucrativo para a loja de brinquedos.”
Câmbio contra
Apesar de gerar ganhos, os clientes estão pagando cada vez mais caro pelos produtos. A caixa mais simples do brinquedo inspirado em Star Wars não sai por menos de R$ 300. “O câmbio alto tem nos atrapalhado com o preço”, diz Esteves, que estima um crescimento de 30% em 2014. “Se conseguimos resultados positivos com o mercado instável, por que não manter as expectativas de crescimento?”
Embora os jogos de videogame da série Lego já somem mais de 115 milhões de unidades vendidas e o filme “Uma Aventura Lego” ter arrecadado mais de US$ 200 milhões em bilheteria, a M.Cassab não vê nem um centavo de todo esse dinheiro. “Claro que é importante para o marketing e ajuda a tornar o produto mais conhecido, mas temos participação apenas nos brinquedos de montar”, afirma o responsável pela Lego no País. Para a M.Cassab, a aposta está no desafio de que esse tipo de diversão proporciona às crianças – e a intenção dos pais de tirar a atenção dos filhos da tela de computadores e televisores. “Os brinquedos Lego estão muito alinhados à essa expectativa das novas gerações”, afirma.