Tempestade perfeita é uma expressão utilizada para descrever situações onde uma combinação de fatores negativos ocorre simultaneamente. Na segunda-feira (12), após reportar um forte prejuízo no segundo trimestre de 2024, a Natura divulgou que a subsidiária Avon Products, que atua nos Estados Unidos, pediu recuperação judicial no país.

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Com uma dívida total de US$ 1,3 bilhão, sendo US$ 530 milhões (R$ 2,9 bilhões) em débitos com a empresa brasileira, o mercado reagiu com preocupação e as ações chegaram a cair 12% na terça-feira (13), fechando o dia com uma queda de 9%.

Fábio Barbosa, CEO da Natura, minimizou a situação, afirmando que o procedimento não impacta as operações da companhia brasileira e que apoia a decisão da Avon Products, considerando-a um passo importante para simplificar sua estrutura e pagar as dívidas.

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Como maior credora, a Natura &Co se comprometeu a financiar US$ 43 milhões na modalidade DIP (debtor- in-possession) e a fazer uma oferta de US$ 125 milhões para adquirir as operações da Avon fora dos EUA, via leilão, pretendendo usar seus créditos com a Avon Products como contraprestação.

“Nossa capacidade de apoiar a Avon durante esse procedimento é uma demonstração da força do nosso negócio, que continuará a operar normalmente”, afirmou Barbosa.

O executivo também informou que os estudos para uma possível separação de Avon e Natura foram suspensos até a conclusão do processo.

“Acreditamos no potencial da Avon e apoiamos essa medida [RJ], que representa um passo importante para simplificar nossa estrutura.”
Fábio Barbosa, CEO da Natura

No mercado, a principal preocupação é se a Natura conseguirá replicar seu sucesso local no exterior, considerando especialmente os desafios financeiros e a necessidade de integrar completamente as operações da Avon em outros países.

Para o economista Rica Mello, CEO do Grupo BCBF, a situação pode até facilitar a aquisição global da Avon, permitindo à Natura expandir suas operações.

“Apesar dos desafios atuais, a Natura tem demonstrado capacidade de gerenciar com sucesso suas aquisições e operações, o que sugere que poderá continuar crescendo, mesmo diante das dificuldades. Embora o mercado esteja cauteloso, há uma perspectiva de que a Natura possa sair fortalecida dessa situação, consolidando sua posição global”, disse o especialista.

A Natura &Co passa nos últimos anos por um longo processo de reestruturação, que tem se mostrado bem-sucedido. Apesar do tímido crescimento das receitas, a redução de custos operacionais e a venda de ativos importantes, como a The Body Shop, têm permitido a entrega de melhores resultados nos balanços.

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A economista da 31 Capital, Raphaela Oliveira, destacou, no entanto, as dificuldades de se realizar uma reestruturação corporativa em um cenário globalizado e altamente competitivo. “A aquisição da Avon foi motivada pela busca de sinergias e expansão de mercado, mas os custos de integração e os desafios culturais podem ter sido subestimados, resultando em custos de transação mais elevados do que o esperado”, apontou Oliveira.

A equipe de análise do BTG Pactual escreveu em seu relatório que, embora o processo do Chapter 11 da Avon adicione complexidade à avaliação de mercado da Natura, no fim das contas, a recuperação judicial pode simplificar a estrutura da companhia.

Já a analista da Levante Inside Corp, Caroline Sanchez, lembrou que a Avon pressiona os resultados da Natura há algum tempo, e agora a incerteza aumenta com a recuperação judicial.

“O anúncio feito em fevereiro, dos estudos para a separação de Avon e Natura, animou o mercado, mas isso agora foi por água abaixo”, apontou. Sanchez vê uma perspectiva difícil para a Natura, pois, além de o mercado de cosméticos ser altamente competitivo, a Avon é um ativo complicado.

Balanço

O balanço do segundo trimestre apontou que:

• as vendas da Avon caíram 1% no Brasil em comparação com o ano de 2023,
• enquanto na Avon Hispânica, excluindo a Argentina, as vendas caíram 11% ano a ano (+2% incluindo a Argentina),
• e a Avon International reportou uma queda de 8% nas vendas no mesmo período.

É importante ressaltar que, diante da recuperação judicial da Avon, a Natura&Co fez uma baixa contábil de R$ 725 milhões, fato que impactou diretamente o balanço da empresa, que reportou um prejuízo de R$ 859 milhões.

Desconsiderando o efeito contábil da Avon Products, o lucro líquido da Natura teria sido de R$ 162 milhões no segundo trimestre.

O faturamento avançou 5,4% e somou R$ 7,4 bilhões nos meses de abril a junho, impulsionado pela operação na América Latina, que cresceu 8,4%, com as fortes vendas da marca Natura, especialmente no Brasil, superando as projeções do mercado.

De acordo com relatório do Citi, os resultados apontam que a operação da Avon na América Latina está próxima de um ponto de inflexão, após todos os investimentos na integração das marcas.