06/01/2025 - 6:00
Quando Donald Trump afirma que as tarifas de importação do Brasil são muito altas e que vai adotar o mesmo percentual, deixa claro o que já se vislumbrava no horizonte há algum tempo. Se a ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos for confirmada, estaremos diante de mais um protecionismo tarifário.
Indiretamente, é como se as portas do mercado norte-americano estivessem se fechando para nós, especialmente considerando as pretensões de ampliação das exportações de produtos manufaturados, que geram empregos qualificados no território nacional. Nesse cenário, resta ao Brasil exportar os produtos com menor valor agregado, sobre os quais não temos controle de preço nem de quantidade.
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Mesmo com as commodities ainda corremos risco, caso as medidas anunciadas por Trump contra a China sejam concretizadas, pois uma provável sobretaxação norte-americana aos produtos chineses provocará redução na demanda do país asiático por commodities, o que levará à baixa nos preços e, consequentemente, a uma queda no superávit comercial do Brasil.
Portanto, até aqui, as medidas anunciadas por Trump em nada colaboram com o comércio exterior brasileiro, ao contrário, tornam as coisas mais difíceis.
Junto com 2025, surge uma série de incertezas no planeta, que vão dos conflitos na Ucrânia e Oriente Médio a fenômenos resultantes das mudanças climáticas, passando pelo alerta constante de interrupção na produção de petróleo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Pensando em nossa realidade doméstica, nem mesmo a desvalorização do real frente ao dólar é um alento aos exportadores. E os motivos são que os custos cambiais sobre as matérias-primas também aumentaram e, sobretudo, dificilmente conseguimos vender as commodities pelo mesmo preço em dólar, pois os importadores apelam por descontos, alegando que as empresas brasileiras vão ganhar com a taxa de câmbio. Ora, se a balança comercial é medida pelas receitas de exportações em dólares, ao reduzir o preço das commodities na moeda americana, teremos uma queda no saldo da balança.
É bem verdade que as muitas variáveis que hoje nos circundam, podem impactar negativa e até positivamente o comércio internacional. A grande certeza, no entanto, é a imprevisibilidade, o que nunca é desejável em atividades econômicas. Todavia, em meio ao ambiente conturbado, o fechamento do acordo de livre comércio entre os blocos Mercosul e União Europeia desponta como uma das melhores notícias para o nosso comércio exterior em 2024.
O mundo recebe a mensagem de que os produtos e serviços do Mercosul – e, naturalmente, do Brasil – são confiáveis e atrativos, logo, novos mercados se abrem para nós. É uma oportunidade para mostrar que o país não é apenas um fornecedor de commodities, mas também pode vir a ser de manufaturados.
Há estudos que apontam que para cada US$ 1 bilhão de manufaturados exportados, são gerados 30 mil empregos diretos e indiretos; como a balança comercial brasileira de manufaturados está fechando 2024 com um déficit de US$ 135 bilhões de dólares, estamos desperdiçando cerca de 4 milhões de empregos qualificados.
Para que o impacto favorável do acordo Mercosul-UE seja efetivo e possamos melhorar nossos números de manufaturados, precisamos melhorar nossa competitividade. E para competir no mercado global, temos que reduzir o custo Brasil. Um grande passo foi dado recentemente com a regulamentação da Reforma Tributária.
Não obstante o comércio exterior não tenha sido plenamente atendido em suas demandas, o setor reconhece e celebra os avanços alcançados com a Reforma, e ressalta que esta será ainda mais eficaz se for associada a outras reformulações estruturais que o país necessita. Os desafios globais tendem a ser multiplicados, cabe ao Brasil se preparar verdadeiramente para enfrentá-los.
*José Augusto de Castro é presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB