A turbulência global atingiu o Brasil em cheio. Ações, juros e dólar oscilaram violentamente, drenando bilhões de reais do bolso dos investidores. Em apenas um dia, a tenebrosa segunda-feira 8, as duas maiores empresas da bolsa, Petrobras e Vale, perderam R$ 42 bilhões em seu valor de mercado. No dia seguinte, esse prejuízo foi recuperado parcialmente. Sustos como esse devem se repetir nos próximos meses. ?O investidor terá de se acostumar com um cenário de mais turbulência?, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. A parte boa é que quem tiver paciência, disciplina e tolerância aos riscos vai encontrar várias oportunidades de ganho. Para orientar o investidor, DINHEIRO conversou com vários especialistas e resumiu suas recomendações nas perguntas abaixo. 

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1) As ações caíram a níveis de 2009. É hora de entrar na bolsa? Quais são os papéis mais promissores?

 

Sim, mas com muita cautela, pois os riscos são altos. A forte queda nas cotações fez as ações de algumas empresas ficarem atrativas. A explicação é simples. Apesar de todos os sustos internacionais, a economia brasileira está em condições melhores do que no início da crise de 2008. ?As empresas brasileiras estão menos endividadas e menos expostas ao câmbio e as reservas internacionais brasileiras cresceram 50%, de US$ 220 bilhões para US$ 330 bilhões?, diz Gilberto Poso, economista do banco HSBC. Outro ponto a considerar é que os fundamentos internos que vinham sustentando os bons resultados das empresas não mudaram. A economia e os salários continuam crescendo, e os bancos não têm problemas em emprestar dinheiro. Portanto, nada indica uma forte queda no ritmo dos negócios. Assim, as empresas que não dependem das exportações estão bastante protegidas da crise. ?Os papéis de companhias voltadas para o mercado interno não deixaram de ser uma boa alternativa?, diz Poso. Poucos analistas esperam uma alta acelerada dos preços ? ao contrário, a expectativa é de uma recuperação lenta e gradual. No entanto, quem tem capital para investir e não se assusta com a perspectiva de ter de enfrentar mais um ou dois solavancos pode faturar um ganho superior ao da renda fixa, ainda que precise esperar os primeiros jogos da Copa do Mundo de 2014 para poder desfrutar dos lucros (leia as estratégias de Warren Buffett e de George Soros para a crise no final da matéria).

 

O que comprar: ações de varejo e shoppings. Mais recomendações em www.revistadinheiro.com.br

 

 

 

2) Vale a pena aplicar na renda fixa?

 

Sim. Nos últimos tempos, a alta da inflação vem fazendo o Banco Central (BC) elevar a taxa de juros. Agora, segundo os especialistas, o ritmo da economia mundial está mais fraco e a pressão externa sobre os preços no Brasil vai arrefecer, reduzindo o fôlego da inflação. Até algumas semanas antes da turbulência, os prognósticos do mercado eram de que o BC deveria aumentar mais um pouco os juros, em até meio ponto percentual. ?Algumas previsões indicavam uma taxa Selic de 13% ao ano, mas agora essa hipótese foi afastada?, avalia o economista-chefe do banco Pátria, Luís Fernando Lopes. Uma inflação menor eleva o ganho real das aplicações em juros, pois as taxas ainda vão demorar um pouco para começar a cair. Aplicações em títulos públicos prefixados rendem 12,5% ao ano, ao passo que papéis pós-fixados pagam inflação mais 6% ao ano, com risco próximo de zero. ?Esse retorno ainda compensa para o investidor que não gosta de correr riscos?, diz Lopes. 

 

O que comprar: prefira as aplicações prefixadas e de prazo superior a dois anos, que vão garantir as taxas elevadas por mais tempo.

 

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3) Compensa investir em ouro e outras commodities?

 

Talvez, dependendo do ativo. Muitas commodities estão caras. O melhor exemplo é o ouro, cujos preços bateram seu recorde histórico no início da semana. Segundo os profissionais do mercado, uma fatia dessa alta era puramente especulativa. Fundos de hedge internacionais vinham aproveitando o dinheiro barato para apostar na demanda da China para comprar toneladas do metal. Eles compraram também bilhões de barris de petróleo e montanhas de minérios como zinco, cobre e níquel. Apesar do susto, esse movimento deve continuar, pois as taxas de juros nos Estados Unidos vão continuar baixas. ?As commodities devem manter seus preços no médio prazo, em função das perspectivas razoáveis nos países emergentes?, diz Goldfajn. Ele lembra, porém, que essas aplicações não rendem juros nem pagam dividendos. A única maneira de ganhar é vender por um preço superior ao da compra.

 

O que comprar: a melhor maneira é comprar títulos internacionais lastreados em commodities. Outra opção é comprar ações de empresas brasileiras que operem nesse mercado, ou optar pelos contratos de ouro na BM&FBovespa. 

 

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4) Comprar ações americanas é bom negócio?

 

Sim. ?As ações nos Estados Unidos são duplamente atrativas: estão baratas e são cotadas em dólar, uma moeda que está depreciada em relação ao real?, diz Poso, do HSBC. Quem teme o impacto da crise sobre os resultados pode ser agradavelmente surpreendido. Segundo Poso, os resultados semestrais das empresas americanas já divulgados mostram que as companhias fizeram sua lição de casa, pois os números melhoraram. O risco, nesse caso, é o impacto negativo de uma economia dos Estados Unidos enfraquecida sobre aquelas empresas voltadas apenas para o mercado interno americano. ?No entanto, as empresas com operações importantes na Ásia e na América Latina vão ser beneficiadas?, diz ele. 

 

O que comprar: é possível investir diretamente em ações americanas. Quem quiser poupar trabalho pode comprar títulos dessas empresas, negociados em reais, na bolsa brasileira. Essa aplicação vai ficar ainda mais fácil a partir de setembro, pois, na terça-feira 9, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em discussão o lançamento de fundos de ações voltados para esses papéis (veja mais aqui).

 

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