O mercado de automóveis segue em sua tormenta iniciada durante a pandemia que resultou em modelos 0km mais caros, vendas em baixa e o carro usado sendo o preferido do consumidor na hora de trocar o veículo.

Recentemente colaborou para esse cenário a elevada taxas de juros no país, que dificulta o acesso ao crédito para quem busca comprar um veículo novo. Ou seja, mais um ponto para os usados, em especial para os modelos com mais de 10 anos de fabricação.

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Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), os modelos entre 11 e 15 anos de fabricação eram em 2019, 17,8% das vendas de carros usados no pais. Em 2022, esse percentual saltou para 25,5%, mostrando que os “velhinhos” estão chamando cada vez mais a atenção do consumidor.

Mas quais os cuidados que se deve ter ao comprar um carro com uma vida tão longa? O consultor automotivo e CEO da Mobiauto, Sant Clair Castro Jr., define cinco dicas essenciais para o consumidor. Vamos a elas:

1 – Defina o carro ideal

“Verifique quais são suas necessidades, qual o valor máximo você pode gastar e como você quer pagar. Feito isto, a tarefa é encontrar um veículo que se enquadre ao valor estipulado.”, explicou Sant Clair.

2 – Consulte e compare ofertas

“Leia atentamente as informações do classificado e dê preferência para descrições com o máximo de detalhes sobre o veículo, veja as fotos atentamente, compare o valor com outros anúncios e sempre desconfie de carros com valor muito abaixo da Tabela Fipe”.

3 – Conheça o carro pessoalmente

“Entre em contato com o vendedor, peça para conhecer o veículo e fazer um test drive. Aproveite também para fazer todas as perguntas que estiverem na sua cabeça sobre o histórico do veículo para o vendedor”.

4 – Compre carro de procedência

“Prefira carros de lojas ou concessionárias, pois possuem garantia legal e, se possível, faça um laudo cautelar para descobrir o histórico do veículo”.

5 – Leve em seu mecânico

“Se gostar do carro e pretender ficar com ele, peça para o vendedor, seja da concessionária/revendedor ou pessoa física levar o veículo até uma oficina mecânica de sua confiança para fazer a inspeção. Ou leve um mecânico com você”, disse o consultor.

O mercado de carros usados também é cercado de outras dúvidas para o consumidor, além de velhos pensamentos. Vamos falar de alguns deles:

Carro único dono

Na hora de buscar seu carro usado, é muito comum escutar do vendedor que o carro só teve um dono proprietário, como uma garantia de um veículo em bom estado. Mas será que é assim mesmo? Quem explica é Reinaldo Hagge, diretor comercial da DEKRA Brasil, empresa de vistoria automotiva.

“Geralmente sim, pois é possível traçar uma linha do tempo junto ao antigo proprietário, em termos de plano de manutenção realizada em Concessionária autorizada da marca, manutenção privada, possíveis sinistros junto as Companhias de Seguro, etc. De qualquer forma, o fato de um veículo ter pertencido a somente um proprietário por si só, não é garantia de qualidade ou procedência.”

Odômetro adulterado

Outro temor do comprador de carro usado é ter a certeza de que a quilometragem do veículo registrada no odômetro seja a correta, ao invés de adulterada para parecer menos rodado. Como perceber um odômetro adulterado?

“Sem a realização de uma leitura de Scanner junto a central eletrônica do veículo, é praticamente impossível garantir a idoneidade da quilometragem registrada no odômetro. Porém, existem alguns pontos que podem auxiliar o consumidor, um deles é o comparativo do atual estado de conservação com a atual quilometragem do veículo”, disse Hagge.

Castro Jr. traz outras informações que podem evitar a compra de “gato por lebre”. “Tenha em vista que a média de quilometragem que se adota no Brasil é em torno de 13.000 km anuais. Você pode usar uma margem de erro em torno de 20% para cima ou para baixo. Ou seja, um carro com mais de dez anos abaixo de 100.000 km é raro; assim como acima de 160.000 km é exagerado.”

Carro usado é sinônimo de gasto?

Quem vai comprar um carro usado tem que ter em mente que pode ter que arcar com alguns custos de manutenção referentes a itens de desgaste, como filtros, óleo, velas e pastilhas de freios, que costumam ser mais baratos.

Já outros pontos do veículo, como suspensão, motor ou câmbio, podem significar um gasto mais elevado no reparo e que podem frustrar o novo proprietário, por isso é importante ter um mecânico para olhar o veículo ou ainda contratar um Laudo Cautelar e Laudo de Avaliação Mecânica para evitar surpresas desagradáveis.

“Lembrando que baixa quilometragem e ano de fabricação não garantem qualidade de um veículo usado. Temos diversos exemplos de veículos com mais de 10 anos de uso, quilometragem original e em melhor estado de conservação do que veículos de 2 ou 3 anos de uso. O histórico de manutenção e cuidado é o que irá definir a qualidade e vida útil do bem em questão”, destaca Reinaldo Hagge.

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