15/06/2024 - 9:00
A dona dos remédios de perda de peso que tem feito sucesso pelo mundo atingiu um valor de mercado de mais de U$ 570 bilhões. Com isso, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk é maior que toda a economia do país, que registrou um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 410 bilhões no ano passado.
O Ozempic, uma injeção de semaglutida lançada em 2017 para tratar o diabetes tipo 2, ficou rapidamente famoso. O efeito secundário da droga chamou a atenção da mídia, de celebridades, influenciadores, políticos e empresários, o que aumentou a popularidade da “caneta emagrecedora”.
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As pesquisas pela droga no Brasil cresceram 307,6% neste ano, aponta estudo da Semrush, chegando a 1,5 milhão de buscas mensais na internet.
Em 2021, a Novo Nordisk lançou um segundo produto à base de semaglutida, o WeGovy, para tratamento de obesidade. Com o boom dos remédios, a empresa centenária surfou uma onda positiva durante todo o ano de 2023:
Se tornou a empresa mais valiosa da Europa, superando a marca de luxo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton). No fechamento desta reportagem, o valor de mercado da Novo era de US$ 623 bilhões frente a US$ 408 bilhões da LMVH.
Seu desempenho ajudou a Dinamarca a evitar a recessão, já que o setor farmacêutico foi um dos principais responsáveis pelo crescimento de 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do país – mais de quatro vezes o crescimento da Zona do Euro, que fechou em 0,4%;
Foi responsável pelo maior investimento industrial da história do país feito por uma empresa, no valor de US$ 8,6 bilhões, para expandir suas fábricas na pequena cidade de Kalundborg, de 17 mil habitantes;
Foi a maior pagadora de impostos e a maior empregadora dinamarquesa nos últimos anos.
O crescimento da Novo Nordisk impacta diversos setores do país. Além do investimento direto em fábricas, a empresa também investiu na ampliação de uma rodovia para dar conta do fluxo das novas unidades e movimenta o mercado secundário.
Enquanto universidades aumentaram as vagas em cursos de biotecnologia de olho na demanda futura por esses profissionais, a fundação tocada pela empresa oferece bolsas e patrocina cursos de doutorado e pesquisa em áreas de desenvolvimento como ciências de dados, biotecnologia e bioengenharia.
O efeito Ozempic também impacta indiretamente o mercado de trabalho, pois gera empregos em indústria, fabricação e fornecimento de materiais e laboratórios, explica o economista Philipp J.H. Schröder, professor e pesquisador da Universidade de Aarhus, em Copenhague.
E muita gente está de olho nesses postos. A Novo Nordisk foi eleita a melhor empresa para se trabalhar do mundo, segundo o ranking Best Places to Work 2023. E uma pesquisa divulgada em maio pela Universum revelou que a empresa também é a mais desejada entre os estudantes do país, desbancando a Lego, referência de empresa dinamarquesa e que ocupou a primeira posição nos anos anteriores.
Mas a popularidade também trouxe desafios: a alta demanda pelo Ozempic levou a uma escassez do produto. Diante disso, a empresa precisou racionar as vendas dos remédios e investir pesado em seu projeto de expansão, mas prevê que a limitação da oferta ainda pode persistir.
A expansão do escopo do tratamento impactou completamente o modo de tocar o negócio e interagir com os clientes, afirmou o CEO da empresa, Lars Fruergaard Jorgensen, para o jornal americano The New York Times. E entender completamente a obesidade e suas doenças correlatas ainda é um desafio para a Novo Nordisk.
O valor alto do produto e a diferença de preço entre países coloca a empresa como alvo de críticas. No Brasil, por exemplo, a unidade de 0,25/0,5mg é vendida por cerca de R$ 1 mil. Na Dinamarca, o valor é de 873,35 coroas dinamarquesas (equivalentes a R$ 670).
Nos Estados Unidos, maior mercado consumidor do produto, o valor listado é muito mais alto, cerca de mil dólares por caneta, mas há descontos significativos de acordo com o tipo de plano de saúde e receita dos pacientes.
Bolha?
O fenômeno acende dois alertas. Primeiro, de que o efeito Ozempic, com sua popularidade repentina, seja uma bolha prestes a estourar. Segundo, que a importância da empresa para a economia dinamarquesa pode tornar o país hiper dependente dela – e suscetível a possíveis oscilações e choques.
Para Schröder, o chamado “efeito Ozempic” não é uma bolha por três motivos: a indústria farmacêutica no país é consolidada e a Novo produz metade da insulina disponível para o tratamento de diabetes no mundo, o lançamento do WeGovy e o investimento em pesquisa e inovação mostram que a empresa está disposta a diversificar sua oferta, e a natureza dos tratamentos de longuíssimo prazo dos produtos garantem demanda constante.
“A proteção de patente garante que você possa manter sua vantagem competitiva por vários anos antes que os concorrentes inovem e comecem a competir com você. Portanto, não é um mercado volátil. É claro que eventualmente novos produtos podem aparecer e causar problema, mas não é uma coisa da noite para o dia”, analisa o professor.