É dura a vida no Sultanato de Brunei depois do escândalo financeiro que resultou no sumiço de US$ 16 bilhões dos cofres estatais no final dos anos 90. É tão dura a vida no minúsculo território asiático pousado num manancial de petróleo na ilha de Bornéu que, na semana passada, o casamento do príncipe Al-Muhtadee Billah Bolkiah com a plebéia Sarah Salleh foi regido pela modéstia. Ao menos assim a cerimônia foi definida pelo pai do noivo, Hassanal Bolkiah, um dos homens mais ricos do planeta, hoje em plena crise financeira. Coitado. Como tudo deveria parecer simples (para os padrões locais, saliente-se), foram desembolsados míseros US$ 5 milhões. O príncipe, de 30 anos, usava uma coroa de ouro e uma tradicional adaga malaia adornada com uma cobra. A futura princesa, nascida na Suíça há 17 anos, tinha um vestido cravejado de diamantes dos pés à cabeça.

Orações muçulmanas, resquícios das raízes islâmicas de Brunei, ditavam o ritmo da boda realizada diante de 2 mil convidados. À saída, houve um cortejo de 100 limusines puxadas por um Rolls Royce de ouro com os pombinhos a bordo. E, como a maré está brava naquelas plagas, o monarca deu um jeito de economizar, e emprestou para a festa seus carrões (ele tem 150 limusines na garagem do palácio de 1.788 quartos, mais que no Vaticano). Assim, guardou dinheiro com o possível aluguel dos veículos. Esperto, ainda conseguiu morder US$ 300 mil da companhia de petróleo, braço da Shell.

Só não houve verba para levar uma banda ou um cantor de peso ao rega-bofe, numa tradicional iniciativa da família de sangue azul. Há oito anos, quando completou 50, Hassanal contratou Michael Jackson. Desta vez, não houve jeito de atrair uma estrela internacional. Ah, que falta fazem aqueles US$ 16 bilhões surrupiados pelo irmão do rei. Assim é a crise no Brunei. No auge dela, devido à roubalheira do passado, e apesar do barril de petróleo a mais de US$ 40, deu-se o casamento que fez história. Foi, para eles, o equivalente à união de Di e Charles entre os súditos da casa de Windsor.