24/06/2025 - 9:47
Exuberante e perigoso, Monte Rinjani já foi cenário de ao menos duas mortes desde 2022. Parque nacional reconhece que treinamento de guias certificados “não é tão rigoroso”.A vista exuberante do Monte Rinjani, onde caiu a brasileira Juliana Marins no último sábado (21/06), faz das trilhas que o circundam um popular destino turístico da Indonésia. Com 3.726 metros de altura, o vulcão é não só parte do Círculo de Fogo do Pacífico como também o segundo mais alto no país e impressiona pela sua caldeira de 50 quilômetros quadrados.
As formações rochosas no Parque Nacional Monte Rinjani, na ilha de Lombok, se tornaram também o cenário de excursões de alto risco para turistas estrangeiros, com pelo menos duas mortes nos últimos três anos.
O site do parque, cuja área equivale a aproximados 41 mil campos de futebol, descreve o vulcão como “muito escalável por visitantes com alto nível de aptidão física.” Ao mesmo tempo, reconhece o alto risco de fatalidades, mesmo durante viagens com guias certificados.
“Crucial é entender e respeitar esta grande montanha: tristemente, visitantes morreram aqui ao não seguirem procedimentos sensíveis e fazer todas as preparações necessárias”, diz o texto, com uma advertência sobre a qualificação dos líderes das excursões: “Os padrões de certificação e o treinamento exigido não são nem de perto tão rigorosos quanto o esperado em muitos outros países. Acidentes graves, incluindo fatalidades, ocorrem em trilhas no Rinjani conduzidas por esses guias credenciados.”
Mortes durante excursões
Em maio deste ano, um malaio de 57 anos morreu depois de escorregar, perder o equilíbrio e cair numa parte íngreme da trilha ao redor do Monte Rinjani, de acordo com a imprensa indonésia. Assim como Juliana, ele fazia o percurso com outros turistas e um guia.
O turista teria tentado seguir o caminho de descida sozinho, enquanto os seus companheiros descansavam. Ele teria recusado o uso de equipamentos de segurança, oferecido pelo guia, para atravessar aquele trecho.
Já em 2022, um homem israelense-português de 37 anos morreu após sofrer uma queda de aproximadamente 150 metros, quando estava quase chegando ao cume do monte, segundo a imprensa israelense. A recuperação do seu corpo demorou três dias.
Os turistas assinam a um papel reconhecendo que são responsáveis por si próprios, e não a organização que lidera a viagem. Mas é também permitido aos aventureiros subirem sozinhos, com equipamentos alugados na própria montanha, por ser “de longe a opção mais barata”, diz o site do parque.
A entrada no parque custa 150 mil rúpias indonésias, o equivalente a cerca de R$ 50. Na plataforma especializada TripAdvisor, os preços das excursões oferecidas costumam variar entre 175 e 430 dólares por pessoa (ou seja, entre aproximados R$ 960 e 2,3 mil). As ofertas são geralmente acompanhadas de fotos de turistas de várias idades e sem aparente preparo físico ou equipamentos especializados.
A receita das atividades turísticas e das taxas de entrada é usada para conservação e manutenção sustentáveis da área, segundo o parque.
“Dois passos atrás para cada passo à frente”
O trecho mais desafiador do percurso são os últimos mil metros antes do ponto mais alto da trilha, e muitos turistas param ao chegarem na borda da cratera, a aproximadamente 2,7 mil metros de altura. Juliana caiu de um ponto próximo ao cume, após ter relatado ao guia que estava cansada demais para continuar.
“Ela estava ali como qualquer turista, para conhecer o local, pela vista. No grupo dela, ninguém era especialista em nada de montanhismo, porque esse é um passeio que é vendido como um passeio para turistas, que vão com um guia para conhecer o local”, contou Mariana Marins, irmã de Juliana, à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Normalmente, uma caminhada até a borda da cratera envolve dois dias e uma noite, de acordo com o site do parque. Por sua vez, a subida até o cume exige geralmente três a quatro dias de viagem.
No nicho especializado, são muitos os relatos sobre o grande desafio físico para quem se arrisca a subir ou descer o vulcão, onde abundam as subidas íngremes e terrenos acidentados.
“O trecho final até o cume é particularmente desafiador, pois envolve caminhar por areia vulcânica solta de pedra-pomes, o que faz com que cada passo pareça dois passos para trás para cada passo à frente,” diz o site de uma empresa especializada nas excursões.
Baixas temperaturas
Já o site do parque destaca o risco de encontrar baixas temperaturas de até 4 graus e fortes ventos, recomendando o uso de roupas apropriadas. “A 2 mil metros de altura, você sentirá que não está mais nos trópicos, pois o ar quente e úmido que sobe perde temperatura e pode cair como chuva.”
Mais de três horas depois da queda, Juliana foi filmada por um drone de turistas que alcançaram o seu grupo. Mexendo-se com alguma dificuldade, ela não vestia casaco na hora do acidente e estava sem os óculos, dos quais precisa para enxergar. Ela também não tinha acesso a alimentos nem água da fresta entre rochas na qual ficou presa.
O Monte Rinjani é um vulcão ativo, cuja primeira erupção registrada é de 1847. Desde 1994, houve três períodos de atividade, que chegam a durar vários meses.
Em 2009, a fumaça e as cinzas chegaram a subir oito quilômetros em uma de diversas erupções naquele ano, forçando o fechamento das trilhas. Em 2010, a erupção superou cinco quilômetros de altura.
ht/cn (ots)