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Uma boa gestão é sempre boa para os acionistas. Em geral, empresas bem administradas dão lucro e suas ações rendem bons dividendos. Mas nem sempre isso é necessário. O que é bom mesmo para o acionista é quando a empresa é disputada por seus concorrentes. É o caso da GVT. Na quarta-feira 7, a Telefônica fez uma oferta hostil de R$ 6,5 bilhões pelo controle da empresa, que um mês antes estava na mira da gigante francesa Vivendi por R$ 5,4 bilhões. Nos dois casos, os acionistas ganharam uma bolada, mesmo que nenhum negócio tenha sido fechado. Só com o anúncio da quarta-feira, as ações subiram 13,74%, chegando a R$ 46,52. Apesar disso, é quase unanimidade no mercado financeiro que o preço da ação da GVT não vale mais do que os R$ 42 registrados nas últimas semanas.

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“Qualquer valor acima dos R$ 42 é lucro para uma empresa que tem registrado sucessivas quedas na rentabilidade sobre o patrimônio”, diz Kelly Prentin, da SLW Corretora. De fato, em junho do ano passado, o índice era de 9,09%. Em dezembro, despencou para 1,71% e em junho deste ano subiu um pouco, para 1,97%.
A conta para a oferta pública de ações é um pouco complexa. A GVT dispõe de uma cláusula conhecida por pílula de veneno. Ela exige que, se um acionista comprar uma determinada fatia relevante do capital, ele deve fazer uma oferta de aquisição dos papéis de todos os demais acionistas a um determinado preço, baseado na cotação mais alta em bolsa dos últimos 12 meses. No caso da GVT, gerida por Amos Genish, a composição acionária é de 68,9% no mercado e 31,1% entre os controladores Swarth e Global Village Telecom Holland. Além disso, o valor das pílulas é de 125% em cima dos R$ 48 oferecidos por ação pela Telefônica, o que daria algo em torno de R$ 60. É por isso que tanto a Telefônica quanto a Vivendi condicionaram suas ofertas à dispensa dessa cláusula.

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E mais. Qualquer que seja a decisão, o negócio pode resultar na saída da GVT do Novo Mercado. Primeira operadora a ingressar no segmento que prega melhores práticas corporativas, a GVT precisa manter um percentual mínimo de 25% das ações em circulação no mercado. Em conversa com analistas, o vice-presidente de finanças da Telefônica, Gilmar Camurra, deu a entender que a oferta da empresa estaria condicionada à saída da GVT do Novo Mercado.
“Estamos fazendo uma transação para obtermos 100%”, afirmou o executivo.

Com uma clientela reduzida em relação aos concorrentes, a GVT vem investindo pesadamente na ampliação de sua infraestrutura, presente em 82 cidades de 14 Estados, o que tem gerado um crescimento anual da ordem de 30%. É uma rede altamente preparada para o tráfego de dados, motivo que despertou o interesse da Vivendi, especializada na distribuição de conteúdo. “É isso que interessa à Telefônica, que está deficitária no tráfego de voz e querendo investir nos dados”, analisa o ex-presidente da Anatel Renato Guerreiro, da Guerreiro Consult. “Não me espantaria ver a GVT fechando o negócio com a Telefônica e depois fazendo um acordo que possa complementar o que a Telefônica não tem, como a mídia da Vivendi.” Esse jogo não deve encontrar muita dificuldade para ser aprovado pelos órgãos reguladores. Assim como outras empresas-espelho criadas na privatização do setor – a GVT era espelho da Brasil Telecom -, já estava prevista na legislação a venda para outras concessionárias caso elas não se fortalecessem no mercado. “Foi o que aconteceu com as duas Vésper, que foram compradas pela Embratel”, lembra Guerreiro. “Além disso, estaria sendo criada uma forte concorrente para a Oi.” Coincidentemente, a Anatel recebeu na quinta-feira 1º o pedido de anuência da GVT sobre a oferta da Vivendi, feita antes da oferta da Telefônica. De qualquer forma, quem sai ganhando é o acionista.

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