20/09/2022 - 22:39
Uma imagem que mostra um avião com cauda de tubarão, hashtags que evocam de forma enganosa energia limpa, imagens da natureza sendo bombardeada abusivamente… Um relatório feito por pesquisadores da Universidade de Harvard divulgado nesta terça-feira revela as práticas das empresas para “se tornarem verdes” nas redes sociais.
A pesquisa, encomendada pela organização ambientalista Greenpeace, analisou nos meses de junho e julho textos e imagens de mais de 2.300 publicações procedentes de cerca de 20 empresas europeias, incluindo as maiores montadoras, companhias aéreas e empresas de petróleo e gás.
“Neste verão, quando a Europa experimentava temperaturas recorde e incêndios, essas empresas guardaram silêncio sobre as mudanças climáticas e prosseguiram com o que interpretamos como posicionamento de marca”, disse à AFP o principal autor do trabalho, Geoffrey Supran.
Intitulado “Three Shades of Green(washing)”, o relatório mostra que uma em cada cinco dessas empresas transmitiu mensagens sobre eventos esportivos ou causas sociais, em vez de mostrar o que estava vendendo. O termo “greenwashing” se refere às estratégias de marketing que buscam criar uma imagem de responsabilidade ambiental para uma empresa ou produto.
Entre outros exemplos, o relatório descreve como no Instagram um avião da Lufthansa se mesclava com o corpo de um tubarão no oceano para destacar um material que imita a pele do animal e é usado para melhorar a aerodinâmica.
No Twitter, a Lufthansa e a Air France fizeram uso da hashtag #SustainableAviationFuel (combustível de aviação sustentável), sem mencionar que o mesmo é apenas uma pequena parte do total usado pela indústria, destaca o relatório.
Uma publicação da companhia Wizz Air por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente mostrava uma mulher negra idosa, parte árvore, parte pessoa, de pé em uma floresta exuberante, para promover um artigo sobre como reduzir o consumo particular de energia, uma prática comum, que visa a “redirecionar a responsabilidade” para comportamentos individuais, em vez dos governos ou da indústria, segundo o relatório.
No YouTube, um vídeo da montadora Fiat mostrava um grupo de jovens cruzando estradas de montanhas magníficas. Os pesquisadores “observaram fortes respostas afetivas dos consumidores às imagens da natureza”, explicou Supran. “Isso pode sugerir que uma empresa é mais ecológica do que parece, de forma sutil, que pode enganar até mesmo os observadores mais críticos.”
Segundo Silvia Pastorelli, do Greenpeace, o relatório revela “um esforço sistemático de greenwashing, que será combatido por meio da proibição legal da publicidade de combustíveis fósseis ou do seu patrocínio em toda a Europa, como foi feito com o tabaco”.