22/10/2020 - 11:58
O crescimento do mercado gamer no Brasil e no mundo já não é exatamente uma novidade. Mas isso não indica facilidade em lidar com esse segmento. Ainda há muito trabalho para conhecer, interpretar e atender um público que é tão leal quanto diverso. Um público que é capaz de abrir infinitas possibilidades para empresas criarem e investirem, mas que impõe a essas companhias um nível de exigência altíssimo.
É extremamente desafiador observar esse mercado e perceber que não há sinais de homogeneidade. Porque, afinal, todos podemos ser gamers, do aficionado que passa horas na frente de um computador super-equipado ao jogador casual que se diverte com puzzles em um smartphone. Os gamers podem ser jovens, podem ser adultos e podem ser idosos. Podem ser homens e podem ser – muitas – mulheres. Então, como decifrá-los? Como atendê-los bem?
Antes de qualquer ação, seja uma campanha de marketing ou o lançamento de um produto, é preciso saber com quem você deseja se comunicar. Se o objetivo é atingir heavy users de PCs e monitores, a estratégia vai passar por plataformas de streaming e redes sociais diretamente ligadas ao mundo gamer e o produto deverá atingir o máximo de performance possível: alta resolução, maior nível de imersão e conforto visual e compatibilidade com as melhores placas de vídeo do mercado.
Esse seria o topo de uma cadeia de consumidores, aqueles que apresentam ticket médio mais alto, que estão dispostos a montar setups poderosos para obter melhor desempenho. Mas eles não estão sozinhos nessa cadeia. Podemos encontrar jogadores assíduos. Podemos encontrar os fãs apaixonados por consoles de mesa ligados a TVs premium. E podemos encontrar divisões até mesmo entre os jogadores de smartphones, hoje prontos para minigames de passatempo ou conteúdos mais avançados.
Cada perfil terá determinados desejos e necessidades. Cada grupo será impactado de uma forma diferente pela comunicação e por novidades no mercado e reagirá também de maneira distinta na hora de consumi-las. E isso vai além da plataforma ou da frequência de uso. Hoje, ser gamer deixou de ser uma personificação masculina e adolescente. Dados da Pesquisa Game Brasil (PGB), realizada em fevereiro deste ano, mostram que a maioria dos gamers do país tem entre 25 e 34 anos e é composta por mulheres.
Elas são ainda mais dominantes entre os players casuais e só não são maioria entre os heavy users, mas ignorar esses números e cultivar estereótipos é desperdiçar oportunidades. Há cada vez mais garotas sendo apresentadas a esse universo, de forma mais precoce do que no passado e com mais conteúdos que geram representatividade. Há ‘pro’ players mulheres bem sucedidas, há mulheres em destaque entre influenciadores gamers nas redes sociais e há jogos com mulheres protagonistas. É um movimento inevitável e de brilhar os olhos.
Diante de tantas possibilidades – tanto para criar novos produtos quanto para escolher nichos dentro desse mercado -, é necessário ter cuidados. Principalmente na hora de dialogar com os heavy users, os mais aficionados. Eles vão investir alto, vão ser leais às marcas que atenderem às suas necessidades e até por isso são extremamente exigentes, críticos. Isso demanda preparo, embasamento e convicção para apresentar discursos e produtos.
É algo que vale tanto para uma empresa de tecnologia que pretende aproveitar esse crescimento dos gamers – no Brasil, houve aumento de 7,1% em relação a 2019, segundo a PGB – quanto para marcas não-endêmicas. Ou seja, companhias que desejam atrelar seus nomes a um segmento aquecido, relevante e diverso, mesmo sem produzirem diretamente para eles, como patrocinadoras de eventos de e-Sports, de pro players ou até mesmo dentro dos jogos.
*Patrícia Pessoa, diretora de marketing da divisão de consumer electronics da Samsung Brasil.