O gestor de recursos coreano Mu Hak You é uma das personagens mais misteriosas do mercado financeiro. Discretíssimo, não dá entrevistas e não se deixa fotografar. “Nossa política é nunca falar com a imprensa”, diz Gabriela Han, responsável pelo marketing da GWI, a gestora de recursos do empresário. A aversão à publicidade é inversamente proporcional ao gosto pelo risco. Ao gerir seus fundos, Mu Hak You leva ao limite as apostas nos mercados futuro e a termo. Por conta disso, ele encerrou a segunda semana de agosto fazendo exatamente o que não gosta: aparecendo na mídia. Os resgates dos fundos da GWI foram congelados no dia 12 devido às pesadas perdas, e os cotistas deverão se reunir no dia 26 para decidir o que fazer com o que restou do dinheiro. 

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Turbulência Internacional – Queda em Wall Street provocou perdas dos investidores no exterior,

que tiveram de vender ações brasileiras para compensar os prejuízos

 

Segundo um levantamento da empresa de dados Economatica, dois dos fundos da GWI lideraram os prejuízos em seus segmentos (veja quadro). O fundo de ações GWI Classic, que segue o Índice Bovespa, perdeu 21% de seu valor nos oito primeiros dias de agosto. Nesse mesmo período, o GWI Pipes, fundo de ações livre (que não segue nenhum índice), recuou 43%. Na prática, Mu Hak You quebrou, de novo, repetindo o que ocorreu em 2008. Desta vez, o objeto da especulação foram as ações do frigorífico Marfrig (leia mais aqui).

 

Assim como Mu Hak You, outros gestores provocaram sobressaltos nos cotistas de seus fundos. A turbulência no mercado internacional fez com que muitos investidores de fora tivessem de fazer dinheiro a toque de caixa para cobrir perdas em outros mercados, e a saída foi vender papéis brasileiros. Com isso, a bolsa desabou e, com ela, o patrimônio dos fundos. Um bom exemplo é o multimercado BTG Pactual Index, cujas cotas amargaram uma queda de 17,4% nos oito primeiros dias do mês. A mediana (não confundir com a média) desse segmento registrou uma valorização de 0,2% no mesmo período. Outro caso de prejuízo foi o dos fundos CS Selection e CS Ibx Premium, geridos pelo Credit Suisse, que amargaram perdas de 16,9% e de 19,2%, respectivamente. Procurados, BTG Pactual e Credit Suisse recusaram-se a falar com a DINHEIRO.

 

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Repetindo o padrão - Não é a primeira vez que as apostas de Mu Hak You obrigam seus fundos a congelar os resgates.

Uma reportagem de DINHEIRO de 2009 mostrava o mesmo problema, decorrente da crise de 2008

 

Outros profissionais que enfrentaram um cenário adverso foram mais transparentes. “A volatilidade do mercado nos surpreendeu e afetou até mesmo setores tradicionalmente defensivos, como energia e telecomunicações”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos, empresa que gere o SulAmérica Dividendos. O fundo caiu 12,8% nos oito primeiros dias do mês, desempenho um pouco inferior ao dos 11,8% da mediana do mercado. Esses fundos optam por ações de companhias que pagam bons proventos. Em geral, empresas maduras, que não precisam realizar grandes investimentos e cujas atividades mudam pouco de um ano para outro. Por isso, esses papéis tradicionalmente tendem a oscilar menos do que a média do mercado. No entanto, não é o que vem ocorrendo neste momento, pois essas ações vem apresentando um desempenho tão volátil quanto o dos papéis mais negociados.

 

Mello diz acreditar que a recuperação do fundo vai acontecer em breve. “Essa distorção estará normalizada até o fim do ano”, afirma ele. Sua sugestão para os investidores é manter a calma. “Para investir nesse fundo, nossa recomendação é que o cotista pense em um prazo de um ano, no mínimo.” Sua sugestão esclarece a principal dúvida de quem investe em fundos de risco. O que fazer nos momentos de turbulência do mercado, quando um fundo apresenta prejuízos pesados e inesperados? “O investidor tem de montar uma estratégia para aplicar em fundos”, avalia o especialista em finanças William Eid Júnior, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo. 

 

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As carteiras menos arriscadas, como os fundos de renda fixa, destinam-se principalmente a proteger o dinheiro do investidor da inflação no longo prazo e aumentar o capital aos poucos. Na ponta do lápis, esses fundos têm rendido, depois de descontar a inflação e os impostos, percentuais ao redor de 2% ao ano. Para obter rentabilidades melhores, é preciso correr mais riscos. Para ter sucesso nessa estratégia, além de escolher um bom fundo, o investidor não pode cair na tentação de procurar acompanhar os altos e baixos do mercado. “A pior estratégia possível é querer entrar no fundo na baixa e sair dele na alta, negociando a cota do fundo como se fosse uma ação”, diz Cláudio Mifano, da gestora de recursos Claritas. Segundo ele, o grosso do resultado obtido por um gestor vem da escolha correta dos ativos em que investir, e não da hora certa de entrar e de sair. 

 

Outra recomendação é ser paciente, especialmente com as carteiras mais arriscadas. Um bom exemplo é o fundo Opportunity Midi 30, que amargou uma baixa de 33,3% nos primeiros dias de agosto. Para comparar, a mediana da categoria apresentou uma baixa de 0,2%. “Esse fundo é bastante alavancado e caiu muito na crise”, diz Dório Faerman, gestor dos principais fundos de ações do banco Opportunity. “Temos uma posição grande em ações e opções de ações da Vale e, como os papéis caíram 16% na crise, o fundo sofreu.” Faerman recomenda paciência para os investidores. “Trabalhamos com um horizonte de dez anos e, desde o lançamento do fundo, em 2001, a rentabilidade foi de quase 1.100%”, diz ele. “No devido tempo, as ações da Vale vão se recuperar dessas perdas e o fundo vai voltar a apresentar bons resultados.”

 

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