Em janeiro deste ano, o governo brasileiro oficializou a candidatura do país e da cidade de Belém do Pará como opção de sede da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima em 2025 (COP-30). Passados dois meses sem que outra candidatura tenha sido protocolada e com o anúncio da decisão final previsto para o final de maio, autoridades locais dão quase certo que o evento acontecerá mesmo por lá.

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Não dá para cravar, mas diante dessa possibilidade foi difícil caminhar pelas ruas em uma visita à cidade de Belém nesta semana* sem imaginar que em apenas dois anos milhares de líderes mundiais, autoridades, cientistas, pesquisadores e homens de negócio do planeta inteiro estariam fazendo o mesmo trajeto que eu, vendo e experienciando uma das principais capitais da região conhecida como Amazônia Legal. O que eles veriam? Que Brasil eles conheceriam? Quais sensações teriam? Esse foi meu exercício.

Não foi fácil, adianto. Diante de sentimentos tão contraditórios, a busca por alguma clareza que fosse facilmente compreendida em um texto me levou à seguinte síntese: Como podemos ser tão pobres, sendo tão ricos? Foi isso que senti. E acho que se a COP-30 acontecesse hoje seria esse o Brasil que os visitantes do maior evento ambiental do planeta conheceriam: um miserável país rico.

A riqueza começa a se mostrar ainda no céu. Ao menos pela rota que fiz de São Paulo a Belém, a quantidade de copas de árvores e de água de rios que se vê de cima é estonteante. Imaginei os Europeus invejando o conforto térmico das sombras, a disponibilidade de alimento e de água doce no esticar de uma mão. Na terra, essas mesmas riquezas saltam aos olhos. A diversidade de frutas e peixes com sua explosão de cores e sabores é indescritível. A comida do Pará? Nossa Senhora! É uma experiência à parte. Das entradas à sobremesa, não dá para entender os motivos que tornaram o escargot e o crème brûlée sinônimos de boa culinária e não qualquer peixe da Amazônia ou fruta da região. Alimento bom e barato, riqueza in natura.

Mas aí vem a parte da pobreza e todo o orgulho que queremos sentir — e sentimos a despeito das evidências — não se sustenta em pé. A miséria do povo é de uma tristeza imensa. Nas ruas ao redor do Mercado Ver o Peso, valas imensas e muito lixo comem pedaço de um já disputado espaço entre carros e o comércio popular cheio de mercadorias que estampam marcas famosas: de Calvin Klein a Louis Vuitton. Perto do rio Guamá, na baía de Guajará, a mureta que serve como proteção tem indícios e cheiro de banheiro a céu aberto. Pessoas dormindo no chão visivelmente doentes estão perigosamente perto de dezenas de urubus que vivem por ali.

Do governador Helder Barbalho, o discurso da economia verde está cada vez mais vigoroso, potente e promissor. Ele garante que até a COP-30 acumulará resultados contundentes de redução de desmatamento no estado que hoje é o campeão nas estatísticas oficiais, com 48,12% do total registrado em 2022. É possível mesmo que chegue ao seu objetivo. Mas o ideal é que ele também aproveite essa oportunidade única para provar ao Brasil e ao mundo que a economia verde é de fato um grande fator de transformação social.

Se for esse o caminho, talvez tenhamos a chance de sair da promessa para finalmente mostrar para o mundo que o País tem condições e competência para liderar o processo de construção de um novo modelo econômico. E um que seja muito mais justo e sustentável para todos.

*A jornalista esteve em Belém a convite do Google