17/09/2003 - 7:00
A China é um país de superlativos. População: 1,3 bilhão de habitantes. Consumidores urbanos: 350 milhões. Produto Interno Bruto: US$ 1,2 trilhão. Crescimento: 10% ao ano. Ponha-se esses números num único pacote e o resultado é um gigante destinado a enriquecer quem nele souber apostar. Há, na terra de Mao, vastas oportunidades para fazer dinheiro. Até o mercado de ações, que há pouco tempo era uma armadilha chinesa, já permite a participação de investidores estrangeiros. Para realizar as aplicações basta abrir uma conta em bancos internacionais, como o Citibank ou o Banco da China, dentro de regras estabelecidas pelo Banco Central. Mas há para os brasileiros uma outra novidade: em janeiro, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) de São Paulo abrirá um escritório dentro do prédio de alumínio e vidros azuis da Bolsa de Valores de Xangai.
?É um eldorado para os investidores ousados?, diz o engenheiro Paul Liu, presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico. Há um mês, Liu esteve em Xangai, a capital econômica, para identificar novos filões de negócios. Retornou com boas notícias. ?Há espaço para quem quer trabalhar ou apenas investir?, diz Liu.
Não faltam empregos para executivos estrangeiros no setor de serviços (restaurantes, academia de ginástica e clínicas de estética). Em cidades do Nordeste do país, como Tianjin e Dalian, o governo incentiva a imigração de autônomos (médicos, engenheiros, veterinários, músicos e publicitários). Oferece bolsas de estudo e moradia subsidiada como benefícios. Como tudo por lá é repleto de zeros à direita, também na educação há uma explosão de chances ? hoje existem cerca de 250 milhões de chineses aprendendo inglês. Como é difícil preencher a demanda, busca-se professores, e não apenas com o idioma nato. A taxa de crescimento da construção civil também é invejável: já bateu os 15% nos primeiros sete meses deste ano. Aos que se assustam com o desafio de encarar uma cultura diferente, cabe um bom alerta: na maioria dos casos a remuneração é equivalente aos padrões internacionais. A vantagem é o baixo custo de vida. É excelente atalho para poupança.
Um outro caminho para aproveitar a explosão do crescimento chinês é fincar empresas do outro lado do mundo. É fácil encontrar um parceiro chinês disposto a tocar a companhia. Desde que ingressou na Organização Mundial do Comércio em 2001, a China precisa cumprir metas de abertura econômica aos estrangeiros. A M. Cassab, empresa brasileira de importação e comercialização de insumos para as indústrias de nutrição e rações animais, farmacêuticas, cosmética e alimentação, inaugurou, há três meses, um escritório em Xangai. O objetivo da M. Cassab, ao desembarcar na capital econômica mais próspera do Leste asiático, era a redução dos custos com a importação. Anualmente a empresa compra US$ 30 milhões da China. A meta foi cumprida, sob a gestão de dois funcionários chineses com experiência em negócios internacionais. A queda nos gastos chegou a 10%. Porém, isso foi apenas um detalhe diante das possibilidades que a empresa encontrou no setor econômico de Xangai, batizado de Pudong. A companhia já montou novas unidades de negócios para desenvolver utensílios domésticos e importar alimentos brasileiros (como carne e grãos). E tem mais: planeja fazer da filial chinesa a plataforma para se expandir internacionalmente. De lá, pretende vender para Europa e Estados Unidos. ?Queremos ampliar a nossa atuação?, diz Mario Sergio Cutait, diretor da M. Cassab. Mas atenção: os orientais não têm pressa, consideram um investidor bem-sucedido aquele que ?masca sementes de girassol.? Em outras palavras: é o sujeito que tem paciência para obter lucros e sabe aceitar as diferenças culturais.