Os provérbios são didáticos. Ajudam a explicar o mundo, embora soem batidos. Nenhum deles é mais direto que ?Pai rico, filho nobre, neto pobre?, universalmente conhecido no mundo ocidental. Na China, diz-se ?de arroz com casca a arroz com casca em três gerações?. Tratam do mesmo problema: a atávica mania de dilapidação de fortunas familiares. O advogado americano James E. Hughes Jr., estudioso do tema, debruçou-se na história de algumas das fundamentais sagas empresariais de nosso tempo para escrever ?Riqueza Familiar ? Como manter o patrimônio por gerações?. O resultado é um fascinante volume de finanças pessoais. É auto-ajuda? Para quem ultrapassou a barreira dos bilhões, sem dúvida. Para uma família como a Matarazzo, que veio da Itália para fazer o avesso da lição de casa, serve de guia de como tudo poderia ter sido diferente. A surpresa: o texto de Hughes demonstra que dinheiro é o que menos importa. Escreve o autor: ?O patrimônio de uma família consiste primeiramente em seu capital humano (os indivíduos que compõem a família) e seu capital intelectual (os conhecimentos de cada membro da família); e, em segundo lugar, em seu capital financeiro?. Nessa trilha, a filantropia transformou-se, ao longo dos tempos, no melhor método para fazer crescer o bolo. É a arte de gastar, doando, e permanecer milionário.

Casamento: ?Riqueza Familiar? é o primeiro fruto da parceria entre as editoras Letras&Lucros e Saraiva
É o que fizeram sobrenomes como os Rockefeller e os Rotschild, os Carnegie e os Krupp. Eles entenderam o real significado da expressão de origem grega antropos, que significa amor pelos homens. ?A prática da filantropia por parte de uma família oferece a seus membros a oportunidade de doar ao mundo uma parcela de seu tempo (capital humano), talento (capital intelectual) e dinheiro (capital financeiro)?, resume Hughes. É o que faz, hoje, o grande doador da atualidade, Bill Gates (leia reportagem nessa edição). Pode soar bazófia, mas não é. Pode-se, a rigor, calcular o poder da filantropia no crescimento de uma conta bancária. O site da Editora Letras&Lucros (www.letraselucros.com.br), que editou o livro em parceria com a Editora Saraiva, aponta uma curiosa relação entre o volume de doações nos Estados Unidos e o mercado de ações. O índice de papéis Dow Jones Industrial Average, que mede o comportamento de ações na Bolsa de Nova York, era negociado no patamar de 1000 pontos entre os anos 60 e 70 e saltou para mais de 9 mil pontos em 1998. Nesse mesmo período o total de doações no país subiu de US$ 25 bilhões para US$ 175 bilhões.

AS RAÍZES DA GENEROSIDADE
Como as grandes fortunas americanas criaram meios de doar tempo e dinheiro
 

1873 – JOHNS HOPKINS (1795-1873)
Investidor e construtor de estradas, legou cerca de US$ 7 milhões para hospitais e universidades nos Estados Unidos

 

1911 – ANDREW CARNEGIE (1835-1919)
Ainda em vida, o barão do aço, nascido na Escócia, montou um fundo de US$ 350 milhões. Para ele, a caridade era imperativo moral.

 

1913 – JOHN D. ROCKEFELLER (1839-1937)
O fundador da Standard Oil, o homem mais rico de seu tempo, criou uma fundação que, logo no início, aplicou US$ 450 milhões. Funciona até hoje.

 

1936 – HENRY FORD (1863-1947)
O pioneiro da indústria automobilística fundou a Fundação Ford com apenas US$ 25 mil. O lote, hoje, é de US$ 11 bilhões

2006 – BILL GATES
O pai da Microsoft e sua mulher, Melinda, já dedicaram US$ 32 bilhões de ajuda humanitária a países pobres por meio da Fundação Gates