Após sinalizações desencontradas nas últimas semanas, os diretores do Banco Central iniciam a reunião do Copom, o comitê que define o rumo dos juros no país, nesta terça-feira, 06, acreditando que conseguiram desfazer os ruídos e coordenar as apostas do mercado financeiro em relação à política monetária.
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Uma sequência de declarações truncadas de diretores do Banco Central durante eventos públicos nas últimas semanas levou analistas, economistas e investidores a projetarem que a alta de juros poderia ser menor do que 0,5 ponto percentual esperado até então, com chances até de haver uma parada técnica já neste Copom, que terminará na quarta-feira,07.
Era tudo o que o BC não queria: parecer que, de antemão, está comprometido com uma atuação mais flexível nos juros num momento em que os sinais ainda são incertos, mostram uma economia aquecida, apesar de indicativos de alguma desaceleração, e sem medidas claras dos desdobramentos para o crescimento mundial do tarifaço de Donald Trump.
E, isso, antes da reunião mais importante, até agora, para a estratégia de construir credibilidade da nova equipe do Banco Central. Desde que assumiu a presidência do BC, em janeiro, ao lado de três novos diretores também nomeados pelo presidente Lula, a preocupação de Galípolo é consolidar a autonomia para atuação da instituição e gerenciar as expectativas da inflação futura.
As duas altas promovidas nas reuniões de janeiro e de março deste ano já estavam previstas desde dezembro, quando, ainda na gestão de Roberto Campos Neto, o Copom anunciou um choque de juros com três altas seguidas de 1 ponto percentual cada, na taxa Selic. Esse ciclo encerrou em março e, na reunião desta semana, o mercado tenta interpretar melhor a nova equipe sob o comando de Galípolo.
Por isso, na semana passada, coube ao presidente Gabriel Galípolo (BC) ajustar o tom e destacar que os alertas de pressões inflacionárias e os riscos explicitados nos últimos comunicados do Copom ainda se mostraram atuais. Mesclando frases como “na visão dos diretores, a comunicação [do Copom] passou bem por esses 40 dias e permaneceu vigente”, “a gente responde a uma dinâmica de inflação desafiadora, por isso, a extensão do ciclo de política monetária” e ainda que “o ambiente demanda cautela”, Galípolo deu seu recado.
Resultado: todo mundo convergiu para uma alta de 0,5 ponto neste Copom, na avaliação de um grande fundo estrangeiro. Segundo ele, a dúvida passou a ser se o BC deixará a porta aberta para nova alta ou se sinalizará que pode fazer uma parada técnica. “O comunicado dessa reunião será de extrema relevância”, avalia a economista Zeina Latiff. “Será mais um teste para essa equipe”. Para ela, com tantas incertezas no cenário interno e externo, não dá para se comprometer previamente. Por isso, avalia, depois desta alta, BC poderá aguardar e ver o comportamento da economia.