23/08/2022 - 10:55
O estado americano do Wyoming tem pouca relevância para a economia. Exceto por sediar um encontro de integrantes do Federal Reserve, o banco central dos EUA. O primeiro foi em 1978, quando a divisão regional do Fed no Kansas resolveu fazer ali um seminário no fim das férias de verão para discutir assuntos econômicos sem as restrições da agenda oficial.
Em 1982, o evento foi realizado na estação de esqui de Jackson Hole. Foi a primeira vez que o presidente do Fed, na época Paul Volcker, foi convidado. Em 1989 foi a vez de Alan Greenspan, que comandou a política monetária americana entre 1987 e 2006, falar sobre política monetária ao lado de seus colegas do Bundesbank, o banco central alemão, e do Banco Central do Canadá. Desde então, todos os anos, a remota estação de esqui torna-se por alguns dias o local mais relevante do mundo financeiro.
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O evento deste ano não será exceção. O ponto mais importante ocorrerá na sexta-feira (26), quando Jerome Powell, presidente do Fed, fará sua avaliação sobre a inflação nos Estados Unidos. Coincidentemente, também na sexta-feira será divulgado o índice de inflação americano mais importante para o Fed, o Personal Consumption Expenditure (PCE) de julho. Nos 12 meses até junho, o PCE acumula uma inflação de 6,8%. O “núcleo” da inflação, o chamado “core index”, que exclui os preços mais voláteis dos alimentos e da energia, subiu 4,8% nesse período. Ambos estão muito acima da meta de 2% ao ano estabelecida pelo Fed. Por isso, os juros americanos já começaram a subir.
As grandes questões, que os investidores esperam ver respondidas em Jackson Hole, é até quanto eles vão subir e por quanto tempo permanecerão elevados. Isso dependerá do cenário traçado pelo Fed para a inflação. Ou seja, quando o banco central americano espera que o aperto da política monetária faça efeito.
Não por acaso, o pronunciamento de Powell está agendado para depois da divulgação do PCE, para que os dados mais recentes do cenário da inflação possam ser incluídos no quadro.
Isso faz toda a diferença. O comportamento dos preços no Brasil e nos Estados Unidos está muito parecido. Até o segundo trimestre houve aumentos sucessivos da inflação muito acima das metas, com os índices de preços pressionados pelos combustíveis e pelos alimentos. Em julho, os preços dos combustíveis caíram fortemente, seja por um alívio no mercado internacional, seja por medidas como a redução de impostos adotada no Brasil.
A confluência dessa redução dos preços da energia com o aumento dos juros nos Estados Unidos deve quebrar a inércia da inflação. Quando? Essa é a pergunta de vários trilhões de dólares, pois sua resposta vai movimentar um manancial caudaloso de dinheiro entre diferentes classes de ativos financeiros.