Em seus discursos, o presidente Lula tem insistido que fará a economia decolar. Usará a máquina pública para estimular investimentos em infraestrutura e também tem acelerado as relações internacionais para atrair capital. Até aí, apenas o feijão com arroz de outros governos petistas. Mas há nesse plano um desafio persistente e confirmado na quinta-feira (26) pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Segundo o Salariômetro da Fundação, 46,6% dos reajustes salariais em 2022 ficaram abaixo da inflação. Apenas 25,4% tiveram aumento acima do INPC (ganho real) e 34,2% obtiveram repasse equivalente ao indicador (5,93%).

Na prática isso significa que quatro em cada dez brasileiros fecharam 2022 com o salário tendo menos poder de compra que em 2021. O resultado disso é uma grande parte da população com menos capacidade de realizar compras e garantir viabilidade para o plano de governo de estimular o PIB este ano com o consumo das famílias.

O debate no governo Lula sobre o valor do salário mínimo em 2023

Para tentar inverter esse ciclo fica nas mãos de Luiz Marinho, ministro do Trabalho a via sacra para negociar com centrais sindicais e o chefe do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) conversar com os patrões. O entendimento dentro da cúpula do governo é que Fernando Haddad (Fazenda) precisa acelerar a Reforma Tributária para que os empresários consigam repassae reajustes melhores neste ano.

Uma engrenagem difícil de montar em meio a uma gestão que precisa também se preocupar com a manutenção da democracia e incêndios constantes na caserna. Lula, por sua vez, tem cobrado de seus ministros agilidade e, principalmente, habilidade para negociar com o Congresso e colocar a casa em ordem.

Segundo a pesquisa da Fipe, o pior mês de 2022 foi abril, com 54,1% dos reajustes abaixo da inflação. O valor mediano do piso salarial subiu de R$ 1.352 em 2021 para R$ 1.481 em 2022.

Apesar da proporção ainda prejudicar o PIB, o resultado de 2022 foi melhor que o de 2021, quando quase metade (49,7%) das negociações foram inferiores à inflação. O rescaldo da pandemia foi a justificativa na maior parte dos acordos entre trabalhadores e patrões.

Para este ano, a expectativa é de que, com a inflação mais controlada, “reajustes reais positivos devem continuar”, de acordo com a Fipe. Dados prévios de janeiro já indicam melhora frente a dezembro. Neste mês, 82,4% dos reajustes ficaram acima da inflação. Outros 11,8% estavam abaixo do INPC e 5,9% iguais à inflação. Uma tarefa difícil, lenta e que precisa de um esforço conjunto da Esplanada dos Ministérios para garantir que Lula cumpra suas promessas de campanha.