Uma leitura apressada do comunicado ao mercado feito dias atrás pelo Banco Opportunity fez muita gente pensar que o banqueiro Daniel Dantas estava a ponto de aparecer em meio às famílias Setubal e Villela na próxima reunião do Conselho da Itaúsa. Não está. Mas a polêmica instituição financeira efetivamente abocanhou uma participação acionária relevante na holding que controla o segundo maior banco privado do País. Cumprindo determinação da CVM, os fundos de investimento do Opportunity informaram no último dia 16 que detêm 5% do total de ações preferenciais da Itaúsa ? o que, excluído o bloco das famílias controladoras, os coloca entre os maiores acionistas da companhia. A gestora de recursos jura de pés juntos que seu interesse é 100% financeiro e não há nenhuma intenção de alterar a composição do controle ou a estrutura administrativa do Itaú. Mesmo assim, dado o notório apetite por negócios e encrencas do Opportunity, o mercado passou a semana passada especulando sobre o investimento em si e seus possíveis desdobramentos. Quanto valem esses 5%? O que o grupo de Dantas pode fazer com eles?

Dorio Ferman, presidente do Banco Opportunity e gestor dos fundos em questão, diverte-se com a polêmica. Diz que vinha comprando as ações ?pela qualidade dos controladores e pelo espetáculo que é a administração do Itaú?. Segundo ele, foi uma surpresa quando o volume bateu em 5% e foi preciso comunicar ao mercado. Isso prejudicou sua estratégia. Ferman pretendia comprar mais ações do banco, por ver nelas um porto seguro para o longo prazo. Agora, ele teme, muita gente vai se dar conta de que o papel tem excelente custo-benefício.

 
 Dantas: Comandante do Opportunity não terá lugar no Conselho da Itaúsa nem influirá na sua gestão. Mas virou acionista de destaque

A posição comprada pelo Opportunity é, sem dúvida, relevante. Os 5% de ações preferenciais equivalem a 3% do capital da empresa. À cotação de R$ 8,25 a unidade, valem R$ 867,7 milhões. Mesmo assim, por serem papéis sem direito a voto, não dão ao banco de Dantas nenhuma chance de ingerência na Itaúsa. ?O controle da holding é muito bem definido, e ninguém tem condições de fazer um takeover (aquisição do controle societário de uma empresa pela compra de suas ações no mercado)?, diz Ferman. ?Mesmo que pudesse, eu não teria o que mexer na gestão. É a melhor empresa do Brasil?, entusiasma-se. De acordo com especialistas, a compra de volumes elevados de ações preferenciais permite, no limite, a aproximação do investidor com a companhia. Pode render, por exemplo, uma cadeira no Conselho Fiscal. Mas risco de aquisição hostil realmente não há. ?É um investimento meramente financeiro?, confirma Bruno Pereira, analista de bancos do UBS.

Para os fundos do Opportunity, os papéis da Itaúsa representam em m’ddia 14% das carteiras de ações, perdendo apenas para os da Petrobras. “É uma grande aposta”, diz o gestor: “Espero nunca precisar vender; porque esse é o nosso cofrinho.” Ferman pode ser o maior, mas certamente não é o único membro do fã-clube do Itaúsa. Saulo Sabbá gestor de renda variável da Máxima Asset Management, também gosta muito dos papéis – e os tem em todos os fundos que administra. “é como comprar Itaú com um certo desconto (hoje da ordem de 15%)”, justifica. A conta aproximada é a seguinte: se o banco tem hoje R$ 63 bilhões de valor de mercado, a holdinhg (que tem 47% de seus resultados de lá provenientes) deveria valer quase R$ 30 bilhões. No entanto, seu valor de mercado está um pouco abaixo dos R$ 26 bilhões.

Para Sabbá, todo esse falatório sobre Opportunity na Itaúsa pode de fato estimular a alta do papel. “A leitura do mercado é: Opa!, tem gente grande comprando.” Esse tipo de alerta não costuma ter impacto no dia seguinte – e, realmente, na segunda-feira 19, o giro dessas ações ficou em R$ 23,14 milhões, abaixo da média de R$ 30,6 milhões deste primeiro semestre. Mas sinaliza fluxo positivo de recursos para os papéis. “Você, como investidor, fica mais confortável, diz Sabbá”.

R$ 867 milhões é o valor de mercado da participação do Opportunity na Itaúsa

R$ 26 bilhões é o valor de mercado da holding Itaúsa