O que começou com o rombo gigantesco de R$ 20 bilhões da Americanas S.A. está inquietando outras varejistas do mercado de ações.

Segundo o portal UOL, mais de 1 mil fundos de investimento estão no alcance do terremoto do que pode ser afetado pelo caso da holding brasileira. 

O trio de investidores de referência da Americanas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles segue na mira de investidores, e já foi alvo em pedido do BTG Pactual para anular a proteção judicial dada à Americanas na última sexta-feira, 13. Diante da repercussão, a Istoé Dinheiro conversou com analistas para avaliar o cenário de incerteza e saber o tamanho dos riscos para outros ativos de investimento na B3.

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Como ficam as ações de outros investidores do grupo? Gera desconfiança? 

“Certamente gera desconfiança, uma vez que se cogita que os acionistas de referência (Lemann, Sicupira e Telles) já sabiam da prática – inclusive, atualmente, Sicupira e o Paulo Alberto Lemann (filho do Jorge Paulo) são membros do conselho de administração, cujo dever inclui justamente fiscalizar e aprovar as contas da diretoria”, afirma Mariana Maduro, professora de Direito Societário e mercado de capitais do IBMEC.

O 3G Capital, fundado pelo trio bilionário, já esteve no controle de outras empresas que tiveram problemas contábeis ou estratégias de negócios financeiramente agressivas noticiadas, como Banco Garantia, ALL e Kraft Heinz, segundo explica a professora. 

“A Ambev (ABEV3) sofreu queda de 4,5% no fechamento do mercado do dia 17. Nesse caso, por exemplo, acredito até que o maior receio do mercado também envolva um receio de que, para fazer frente a valores a serem aportados na Americanas, o 3G tenha que alienar parte de sua participação na empresa”, avalia. 

Companhias varejistas concorrentes: há desconfiança de que estejam fazendo a mesma coisa?

“Sem dúvida. Há notícias não formalizadas ainda de que a Via Varejo e Magalu já têm sido questionadas e estariam montando comitês para apuração do tema. No entanto, o que temos visto no mercado é aumento desses papéis”, considera Mariana. 

Um possível calote pode afetar os investimentos?

Rafael Zuanazzi, sócio da Russell Bedford Brasil, acredita que um calote da holding não teria impacto na Bolsa totalmente.  “Mais diretamente, ele afeta os bancos BTG, Bradesco, Santander e Itaú, que são seus maiores credores e os fundos com algum tipo de exposição a Americanas”, completa.

“No caso dos fundos, o investidor perderá rendimento, mas não acredito que um fundo entrará em colapso por isso. Podemos ter um aumento da desconfiança, mas acredito que o mercado já está precificando esta possibilidade nas ações dos maiores afetados”, avalia Zuanazzi.

Importante destacar que as ações das Americanas estão listadas no segmento ‘novo mercado’ da bolsa. Este segmento é o nome que se dá às empresas que estão listadas na Bolsa de Valores e que alcançaram um altíssimo nível de transparência e governança corporativa, o que o sócio da Russell Bedford Brasil acredita ter faltado.

Mariana tira de cena o risco de calote. “A empresa tem ativos e os administradores estão potencialmente expostos na pessoa física por responsabilidade civil, além do dano de imagem. Dificilmente deixarão chegar a um ponto de calote, mas, entendo que a insegurança dos bancos pode afetar, sim, a disponibilidade de crédito no mercado, aumentando juros e criando um efeito dominó”.  

Qual deve ser o comportamento do investidor, diante das ações da Americanas e outras do varejo, como a Via Varejo, Magalu, Casas Bahia, entre outras?

Zuanazzi aponta que, para quem investe nas Americanas, é uma ‘escolha de Sofia’. “Quem comprou antes do escândalo, vender agora é ter prejuízo. Pode também manter e ver os desdobramentos. Há movimento de investidores analisando ingressar na justiça contra as perdas”, explica.

Ele também explica que as recomendações de compra e venda são vedadas para quem não possui certificado específico. “Há uma série de regras, como por exemplo, não falar sobre as ações que negociou recentemente. Neste momento, cada investidor deve analisar o motivo que o levou a comprar a ação da Magalu e da Via Varejo principalmente”.

“Não costuma ser momento ideal para movimentos muito bruscos, em especial por parte de quem não é especializado no assunto”, alerta Mariana.

Quais fundos de investimento podem ser mais afetados? Há empresas que já sofrem esse impacto, como o Nubank?

Um fundo de investimento é um tipo de aplicação financeira em que há uma reunião de investidores para realizar um investimento. Ou seja, um grupo de pessoas se organiza para investir. Este investimento pode ser em ações, imóveis, moedas (dólar, euro), debêntures, entre outros.

Há informações de que mais de mil fundos possuem posições nas Americanas. Além do NuBank Reserva, Zuanazzi lista algumas divulgações de fundos que foram afetados:

• Western Asset DI Max Renda Fixa Referenciado FIC;
• Banestes apresentou um comunicado que 11 de seus fundos tem uma exposição somada de aproximadamente 10%;
• Credit Suisse também informou que os fundos CS Evolution DI Private FC FI RF, CS Evolution DI Plus e CS Evolution DI Max possuíam posições.

“Além de fundos de ações, FIIs, Fundos de Investimento em crédito privado e Fundos DI (Fundos de Investimento de Renda fixa, cuja carteira possui, pelo menos, 95% de investimentos em títulos atrelados ao CDI ou à Selic, podendo ser títulos públicos – emitidos pelo Tesouro Nacional – ou privados), também estão sendo afetados”, alerta a professora do IBMEC.

“Acredito que o importante será observar a diversificação das carteiras dos fundos que tenham alocado parte do investimento em títulos da companhia, seja no Brasil ou no exterior”, finaliza.