26/05/2014 - 16:44
De tempos em tempos, homens de negócio se aventuram na política. Alguns chegam a ter uma carreira bem-sucedida, como o bilionário americano de mídia Michael Bloomberg, que foi prefeito de Nova York entre 2002 e 2013. Mas, até Petro Poroshenko despontar como novo presidente da Ucrânia nas eleições deste domingo 25, poucos no Ocidente o conheciam. A vitória, com 54% dos votos, foi confirmada nesta segunda-feira pela comissão eleitoral do país. Sua trajetória como empreendedor, no entanto, é uma mistura de senso de oportunidade, muita autopromoção e algumas brigas – incluindo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Poroshenko nasceu em uma pequena cidade do sudoeste de Odessa, próxima à fronteira com a Moldávia. Seu pai era um engenheiro agrícola na antiga União Soviética. Segundo a revista alemã Der Spiegel, suspeita-se que tenha cumprido dois anos de prisão por roubar propriedades do estado.
Na escola, o futuro presidente da Ucrânia não era, propriamente, um modelo de disciplina. Apesar das boas notas, nunca recebeu uma medalha e distinção. Além disso, ao se graduar, recebeu um “C” pelo seu comportamento. No serviço militar, foi despachado para o Cazaquistão para cumprir o restante de seu tempo, após arrumar uma briga com quatro cadetes.
Iguaria rara
Ao deixar as Forças Armadas, estudou Direito Internacional e Relações Internacionais em Kiev. Poroshenko terminou os estudos bem na época em que a União Soviética se esfacelava, sob a política de abertura de Mikhail Gorbachev. Sem perspectivas de seguir a carreira acadêmica, foi empurrado para o empreendedorismo por necessidade. Foi nessa época que ele começou a importar amêndoas de cacau para a Ucrânia. De acordo com o jornal britânico The Telegrah, no final dos anos 80, chocolates eram tão raros em seu país, quanto calças jeans e música pop.
O sucesso na importação de cacau permitiu a Poroshenko juntar o capital necessário para a próxima etapa – comprar fábricas de doces e chocolates. Em 1996, o empresário reuniu suas fábricas no Grupo Roshen, inspirado no miolo do seu sobrenome. Desde então, Poroshenko vem expandindo seus negócios na Ucrânia e em outros países europeus.
De acordo com a revista especializada Candy Industry, a Roshe hoje é a 18ª maior fabricante de chocolates e doces do mundo. Seu faturamento em 2012 (últimos dados disponíveis) US$ 1,3 bilhão. Com sete fábricas, a Roshe emprega 10 mil pessoas. Para se ter uma ideia, não é muito menos do que os US$ 1,7 bilhão que a argentina Arcor faturou no mesmo ranking, com 40 fábricas e 20 mil empregados.
Conhecido como “o rei do chocolate”, Poroshenko também sabe adoçar seus funcionários. Segundo a Der Spiegel, suas empresas pagam salários maiores que a média de mercado, na Ucrânia, o que lhe permite contar com um apoio quase incondicional de seus colaboradores – algo que foi visto, por exemplo, em um comício em Vinnystsia, a 200 quilômetros de Kiev. Ali, a Roshen emprega 5 mil dos 340 mil habitantes. Como “presente” para a cidade que o apoia, Poroshenko bancou a construção de uma fonte com jogos de luz e laser que se tornou a atração turística da cidade. Capaz de projetar a água a 70 metros de altura, é considerada uma das dez mais impressionantes fontes do mundo.
Além dos doces
Com o tempo, Poroshenko diversificou seus negócios. Aos 48 anos de idade e pai de quatro filhos, ele também controla o principal canal de notícias do país, um estaleiro na conturbada Crimeia – recém-anexada pela Rússia -, e fábricas de automóveis. Seu império o tornou o sétimo homem mais rico da Ucrânia, com uma fortuna estimada em US$ 1,3 bilhão pela revista americana Forbes. É, também, o 1.335º do mundo no ranking geral de bilionários.
Durante a campanha à Presidência, Poroshenko afirmou que pretende aproximar o país da União Europeia, mas sem abrir mão de uma convivência pacífica com a Rússia. Para selar a paz com Putin como líder da nação, o bilionário terá de provar que sabe deixar de lado seus interesses pessoais. O motivo é simples: as brigas políticas não são as únicas arestas com Putin que precisam ser aparadas. A Roshen, seu grupo, foi proibida de exportar chocolates para a Rússia em julho do ano passado por motivos sanitários. O país chegou a representar 40% de seus negócios. Muitos interpretaram as restrições russas como uma punição a Poroshenko, por engrossar o coro dos que se opunham à política expansionista de Putin.
A situação levantou dúvidas sobre a saúde financeira da Roshen. Em outubro do ano passado, a companhia precisou desmentir um boato de que seria vendida à norueguesa Orkla em questão de semanas. A norueguesa é a 28ª maior fabricante do setor, com faturamento de US$ 577 milhões. Na última semana, porém, Poroshenko afirmou que estava disposto a vender sua fatia na Roshen, caso vencesse as eleições. Com a confirmação de sua vitória, talvez esteja chegando a hora de o bilionário se separar da empresa que o projetou no mundo dos negócios – agora, para tentar fazer história na problemática política ucraniana.