04/01/2002 - 8:00
Paris, 1919. Um ano após o término da Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes impõe indenizações que aniquilam a Alemanha, gerando ódio e ressentimento. Quatro anos mais tarde, os alemães conhecem a hiperinflação e nascem as condições para a ascensão do nazismo.
Bretton Woods, 1944. A Segunda Guerra está perto do fim, os alemães são novamente derrotados, mas no gélido vilarejo de New Hampshire os propósitos são nobres. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial são criados para estabilizar os fluxos de capitais e reconstruir a economia mundial. Três anos depois, o secretário de Estado americano, George Marshall, anuncia uma ajuda de US$ 13,3 bilhões para recuperar os países devastados pelo conflito. Em 1953, ele é o primeiro soldado a receber o Nobel da Paz. As décadas de 50 e 60, marcadas pela paz e pelo forte crescimento econômico, ficam conhecidas como ?os vinte anos gloriosos?. Alemanha e Japão, vencidos na guerra, tornam-se as duas nações mais prósperas do mundo depois dos Estados Unidos.
Afeganistão, 2002. Depois da primeira guerra do século 21, o Taleban e suas burcas passam a fazer parte de um passado medieval. Mas isso não basta. Osama Bin Laden é um dos tipos mais populares no mundo islâmico, a confiança na economia global está abalada e a ameaça do terrorismo ainda paira no ar. E agora?
Passada a fase de destruição, sobraram apenas dois caminhos: o da indiferença e da vingança, que marcou o primeiro Pós-Guerra, ou a tentativa de conciliação e de criação de uma agenda internacional construtiva. Propostas na segunda direção já começam a surgir. O investidor George Soros, que dirige o Instituto Sociedade Aberta, foi um dos primeiros a apresentar novas idéias. ?Precisamos ganhar os corações e mentes das pessoas que sofrem com as injustiças da globalização?, afirmou. Só assim, diz ele, pessoas como Osama Bin Laden deixarão de conquistar adeptos. Jeffrey Sachs, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional de Harvard, pensa de forma semelhante. ?Se a globalização não funcionar para todos os países, inclusive os mais pobres, a economia mundial cairá num precipício.?
Ajuda internacional. Ambos têm propostas concretas. Soros defende um aumento da assistência financeira externa aos países pobres, mas regida por leis de mercado, para evitar a corrupção. Os melhores projetos de desenvolvimento concorreriam por recursos e seriam fiscalizados por um conselho internacional. Sachs propõe que ada país desenvolvido aceite doar 0,1% de sua riqueza, o que daria US$ 25 bilhões por ano ? hoje, o volume de assistência é de US$ 6 bilhões anuais. Outro enfoque é a expansão do comércio internacional em benefício dos países em desenvolvimento. Sachs defende que tanto os Estados Unidos quanto a Europa removam seus bilionários subsídios agrícolas. Há ainda uma terceira vertente, defendida em fóruns internacionais pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. É a implementação da Taxa Tobin, um imposto sobre a movimentação de capitais especulativos, que poderia, segundo seus defensores, gerar recursos entre US$ 100 bilhões e US$ 300 bilhões por ano para serem usados no combate à pobreza. Concebida pelo economista James Tobin, Nobel em 1981, a idéia consiste em taxar entre 0,1% e 0,25% toda a movimentação internacional nos mercados de câmbio, que giram US$ 1,8 trilhão por dia.
Na mesa de discussões, já foram colocadas três sugestões econômicas: mais ajuda financeira, uma rodada de abertura dos mercados dos países ricos e a imposição de restrições ao capital especulativo. Há, também, propostas de natureza geopolítica, como a criação de um Estado da Palestina, para tentar apaziguar o Oriente Médio. Parece que, finalmente, chegou a hora de se legitimar a globalização.