04/03/2009 - 7:00
EM SEU ANIVERSÁRIO de 13 anos, o paulistano André Mantovanni pediu à mãe um presente bem diferente dos brinquedos que atraía garotos de sua idade: um baralho de tarô. Com as cartas na mão, ele começou a prever o futuro de colegas, professores e até da diretora da escola em que estudava em Sorocaba, interior paulista. O sucesso foi tanto que logo começou a cobrar R$ 10 pelos serviços e, por meio de indicação, passou a atender na pequena casa onde morava com os pais. Três anos depois viu que conquistaria mais clientes em São Paulo e foi para a capital com um livro de sua autoria debaixo do braço. Ali começava a surgir um guru da autoajuda, que, do ponto de vista dos negócios, poderia ser chamado de empresário do esoterismo. Hoje, com apenas 28 anos, Mantovanni fatura R$ 1 milhão por ano. Suas consultas, realizadas num escritório nos Jardins, bairro badalado de São Paulo, custam até R$ 500. Em seu currículo, constam 12 livros escritos e lançados por ele. No total, vendeu 52 mil exemplares. Mas está escrito nas estrelas que o futuro será ainda mais promissor. “Pretendo, no mínimo, triplicar minha renda este ano. Sou bom no que faço e é um dom despertar a confiança das pessoas”, afirma ele, sem medo de pecar pela falta de modéstia. Mas, atenção: ele garante nunca ter relegado a espiritualidade a um segundo plano em relação ao dinheiro.
Para multiplicar a receita por três, Mantovanni conta com um acordo que acaba de firmar com a EsoTV International, uma produtora húngara que fatura ?100 milhões com programas de televisão focados em esoterismo e autoajuda. A companhia investirá R$ 2,5 milhões em um portal na web e em um programa de tevê aqui no Brasil. Graças à carteira de 150 mil clientes de todas as crenças, idades e classes sociais, Mantovanni foi o escolhido para coordenar o projeto. “Terei o salário de apresentador e uma boa parte dos lucros da operação”, explica ele. A presença nas telas de computador e televisão o ajudará a divulgar ainda mais as consultas, palestras e livros de sua autoria. Essa é sua filosofia: um negócio impulsiona o outro. Por isso, decidiu abrir, em setembro de 2004, sua própria editora, a Ghemini. Como participava de programas femininos de televisão e rádio, tornou-se o principal divulgador das publicações – e só ganhava 8% do valor de capa dos exemplares vendidos pela Madras Editora. “O único entrave seria a distribuição. Então passei a vender pelo site, em consultas e por telefone”, conta ele. “Além de lucrar mais, divulgo melhor minhas obras e gero mais atendimentos e palestras.”
Mantovanni não é um empreendedor convencional. Preocupa-se mais com o que os astros lhe dizem do que com planejamento, estratégia ou outros conceitos de gestão. Mas soube aproveitar a crescente demanda por produtos de autoajuda no País – qualquer que seja o assunto. Seus livros abordam temas que vão de simpatias e anjos ao autoconhecimento por meio de baralho cigano. O primeiro deles foi escrito aos 16 anos e foi recusado por várias editoras. Até o dia em que participou de um programa de televisão e previu fatos como a morte do marido da apresentadora Hebe Camargo. A partir daí, o negócio (ou o “dom de aconselhar pessoas”, como ele diz) cresceu. “Atendo artistas, políticos e empregadas domésticas. Não faço distinção”, comenta. Apesar de saber o que fazer com a vida de muita gente, Mantovanni ainda não teve a revelação do que cursar nas faculdades. Passou, sem terminar, por cursos de teatro e filosofia. Agora cursa artes. O conhecimento esotérico adquiriu na passagem por várias religiões e a leitura de muitos livros. “Sempre sonhei em ser artista”, diz ele sem pestanejar quando questionado sobre os sonhos de criança. Mas, com o dinheiro que tem, André sabe que pode ser o que quiser.