Uma reviravolta na evolução da espécie humana ou a maior bravata da história da ciência? No último dia 26, a empresa americana Clonaid anunciou o nascimento do primeiro clone humano: a menina Eva, clonada da própria mãe, uma americana de 31 anos. O problema é que ninguém havia visto nenhuma das duas até a quinta-feira 2. A Clonaid informou apenas que Eva é perfeita, alegou ?questões de segurança? para manter o local do nascimento em sigilo e não apresentou provas. A comunidade científica aposta no blefe. Nem tanto pela clonagem de seres humanos, que é perfeitamente possível do ponto de vista técnico. O problema é o manto de suspeitas que cobre a Clonaid. A companhia foi criada em 1997 pelo ex-jornalista esportivo francês Claude Vorilhon, que jura ter sido raptado por alienígenas nos anos 70. Ao regressar da ?viagem?, Vorilhon virou o líder espiritual Raël e fundou o Movimento Raeliano. A seita, com sede no Canadá, professa a ?meditação sensual? como forma de atingir o ?orgasmo cósmico? e a clonagem para garantir a imortalidade. Já seriam 55 mil seguidores em mais de 80 países.

?A fundação da Clonaid foi uma jogada de marketing?, admite o português David Uzal, porta-voz da companhia e dos raelianos no Brasil. ?Raël não fazia pesquisas. Queria apenas chamar a atenção dos cientistas para o assunto.? Mas o negócio repercutiu tanto que a Clonaid deixou de ser uma caixa-postal nas Bahamas para ganhar uma sede em Las Vegas, nos EUA. Sua missão: faturar alto com a clonagem humana. Presidida pela bioquímica francesa e ?bispa? raeliana Brigitte Boisselier, a empresa tem três fontes de receitas. O grosso vem de doações de gente interessada em ter um clone. Há também a venda de máquinas que estimulam a divisão celular (US$ 9 mil) e o dinheiro dos ?investidores?. Sim, a partir de US$ 40 mil qualquer um pode ser acionista da Clonaid. ?Em breve pagaremos ótimos dividendos?, diz Uzal, que espera legalizar a clonagem no País e montar uma filial no Rio Grande do Sul. ?A Clonaid já vale US$ 100 milhões.?

?A clonagem é uma técnica sofisticada, dominada por poucos e conhecidos cientistas. Eu não vejo o nome de nenhum deles ligado à Clonaid?, afirmou a DINHEIRO o pesquisador russo Dmitri Dozortsev, professor de reprodução da Universidade de Wayne (EUA). Em 2002, uma investigação do governo americano descobriu um ?laboratório secreto? da empresa na Virgínia. Instalado próximo de um estábulo, o lugar estava infestado de moscas, e um solitário estudante de pós-graduação tentava extrair óvulos de um ovário de vaca obtido num abatedouro vizinho.

Brigitte anunciou que mais quatro bebês clonados nascerão em janeiro. Mas ela precisa provar que Eva não é mais um golpe publicitário. A bioquímica prometeu para esta semana os exames de DNA que comprovam a sua façanha. Raël aguarda de dedos cruzados, pois afirma possuir uma lista de 2 mil pessoas ávidas para ter um clone humano em casa. Cada uma, disposta a desembolsar US$ 200 mil.