DINHEIRO ? As empresas perdem dinheiro por não se preocuparem com a qualidade de vida de seus funcionários?
ROBERT KARCH
? Lógico. Altos gastos com assistência médica, alto absenteísmo, estresse são aspectos comuns em empresas que não cuidam da saúde de seus funcionários. Mais do que isso. As empresas não se preocupam em prevenir problemas. É preciso se preocupar mesmo com o pessoal mais jovem para que os custos não sejam ainda mais altos no futuro. Os fatores de risco que se manifestam nos funcionários mais velhos normalmente estão presentes quando eles ainda são novos. Fumar é um exemplo clássico. Os custos de um jovem fumante não são tão altos, mas 20 ou 30 anos depois, eles sobem muito. Problemas como hipertensão ou diabetes em jovens nem sempre são detectados, e o custo disso é insignificante. Ter programas de promoção de saúde de qualidade que ajudem a detectar as necessidades dos funcionários é estratégico.

DINHEIRO ? Quanto as empresas perdem?
KARCH
? Para que se tenha uma idéia, 10% dos funcionários são responsáveis por 50% dos gastos com assistência médica. Devemos identificar estratégias para descobrir quem são esses 10%. Porque aí as economias poderão ser significantes. Além disso, dois terços dos gastos das empresas com assistência médica são feitos com dependentes. Pessoas que nunca pisaram no ambiente de trabalho. É por isso que as empresas devem conscientizar funcionários e familiares quanto a problemas de saúde.

DINHEIRO ? O problema é o mesmo em países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos?
KARCH
? Na maior parte dos países desenvolvidos, há uma força de trabalho mais velha. Países como Estados Unidos, Japão, Singapura são líderes no mundo no que diz respeito à economia, produção e produtividade. Ao mesmo tempo, eles competem com uma força de trabalho mais jovem e mais barata em outros países, e em alguns casos, mais produtiva. Criou-se uma verdadeira dinâmica em que a expectativa nos países desenvolvidos é de conseguir mais produtividade de trabalhadores mais velhos. E, em muitos casos, há até países como os Estados Unidos, onde a taxa de desemprego está em 3% ou 4%, ou Singapura e Japão, onde essa taxa está em 2%, que precisam conseguir mais produtividade de seus trabalhadores. E como eles são mais velhos, a questão é como mantê-los saudáveis em seus empregos para manter a eficiência.

DINHEIRO ? No Brasil, temos alta taxa de desemprego e muitos jovens na força de trabalho. Nós temos os mesmos problemas?
KARCH
? Sim e não. Em outros países que estão tentando competir numa escala global, os trabalhadores jovens geralmente são bem preparados para essa economia do conhecimento. E assim, a competição pelos trabalhadores bem preparados está se tornando muito, muito dura. Assim, mesmo em países com mão-de-obra jovem, a competição é muito forte. As empresas nesses países, sejam elas nacionais ou multinacionais, estão brigando pelos mesmos espaços no mercado. Assim, a chave para atrair os trabalhadores e mantê-los é o ambiente de trabalho, a qualidade de vida. E um dos aspectos de qualidade de vida é o comprometimento com a saúde dos funcionários, mesmo que eles sejam jovens.

DINHEIRO ? E qual é a relação entre qualidade de vida e produtividade nas empresas?
KARCH
? A produtividade no local de trabalho é afetada pela qualidade de vida no trabalho, pela segurança, pela qualidade do ar, se o fumo é permitido ou não, se há preocupação em controlar o estresse etc.

DINHEIRO ? Há algum método quantitativo para medir essa relação?
KARCH
? Não dá para dizer que há um correlação direta, mas as duas podem ser medidas. Ter um ambiente de trabalho saudável pode ser muito importante para manter um trabalhador de alta qualidade. E manter um trabalhador como esse pode estar diretamente ligado a um alto nível de produtividade. Tudo está relacionado. Daí a necessidade de se promover programas para manter a saúde dos funcionários.

DINHEIRO ? E como funciona um programa de promoção de saúde?
KARCH
? Explicando de uma forma bem geral, um programa de promoção de saúde pode ser descrito como qualquer tipo de projeto com o objetivo de manter o bem-estar dos funcionários e de seus dependentes. De outro ponto de vista, nós também detectamos quais são os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho e desenhamos programas específicos para resolvê-los. Cada indústria e cada setor do mercado pode ter problemas diferentes. Assim, uma das nossas tarefas é estabelecer um portfólio de risco dos trabalhadores. Fazemos isso por meio de pesquisas, análises das reclamações às seguradoras, pedidos de licença, etc.

DINHEIRO ? Quais são os fatores de risco mais comuns das empresas?
KARCH
? De maneira geral, no mundo desenvolvido você encontrará as principais causas de morte entre os fatores de risco: doenças cardiovasculares, relacionadas a problemas circulatórios, câncer etc. É preciso pesquisar que tipos de problemas estão presentes na sua força de trabalho.

?Quem fuma há 30 anos não tem uma reação tão positiva às campanhas contra o fumo?

DINHEIRO ? O sr. sabe se é muito caro para as empresas se tornarem um lugar saudável para trabalhar?
KARCH
? Fazer programas de promoção de saúde tem uma boa relação custo-benefício. Se o programa for bem desenvolvido, tiver um alvo claro, e se as intervenções forem apropriadas, o retorno pode variar de 20% a 80%. Cada dólar investido pode trazer US$ 1,20 a US$ 1,80 de volta. Estudos conservadores indicam retornos de 20% a 30%. Os programas também ajudam a poupar. E essas contas não consideram nenhum dado de aumento de produtividade, apenas de redução com gastos com saúde, do absenteísmo e da utilização dos planos de saúde.

DINHEIRO ? E o que as empresas têm feito para melhorar a qualidade de vida de seus funcionários?
KARCH
? Elas estabelecem quais são os principais fatores de risco. Aqueles com os quais terão de gastar mais dinheiro se não se preocuparem. Então devem desenvolver programas contra problemas cardiovasculares, câncer, contra o fumo, para redução de colesterol e controle de peso e de estresse.

DINHEIRO ? E como um executivo pode detectar os fatores de risco de sua empresa?
KARCH
? A primeira coisa que elas fazem é estabelecer o perfil de seus funcionários. Isso pode ser feito de diferentes formas: entrevistas estruturadas, pesquisas on-line nos computadores da empresa, distribuição de questionários etc. São muitas as maneiras de obter informação. Também é possível reunir informações sobre os funcionários e seus dependentes recolhendo dados já existentes na empresas. Feito isso, é hora de definir quais fatores de risco devem ser modificados.

DINHEIRO ? Cada fator de risco deve ser tratado de forma diferente?
KARCH
? É. Veja o caso dos fumantes. Nós observamos, por exemplo, que as pessoas que fumam há 30 ou 40 anos não reagem aos programas contra o fumo da mesma maneira daquelas que fumam há 5. Quem fuma há mais tempo tem o cigarro muito mais ligado a cada aspecto da sua vida. Quem tem 20 anos ainda não está tão envolvido no processo. O tempo muda tudo. Isso varia também de pessoa. Com isso aprendemos que a aproximação deve ser adequada a cada caso.

DINHEIRO ? O sr. se lembra de alguma empresa que não costumava se preocupar com qualidade de vida de seus funcionários e quando fizeram um programa de promoção de saúde, seus resultados mudaram?
KARCH ? Há muitos estudos que mostraram que houve mudanças no que diz respeito à promoção de saúde. E os investimentos feitos tiveram resultados positivos. Johnson & Johnson fez vários estudos, Chrysler, etc. Mas não foram estudos genéricos, eles apenas destacavam dois ou três fatores. Alguns obtiveram uma redução nas reclamações, nos dias gastos em hospitais, mas podem não ter medido a produtividade. Algumas variáveis são mais facilmente medidas do que outras.

DINHEIRO ? Como definir qualidade de vida?
KARCH ? Não tenho uma definição pronta. Mas para ter qualidade de vida de verdade não adianta só se preocupar com o lado do físico, mas também com o lado social, emocional, espiritual. Temos de nos preocupar com quem somos como indivíduos. Devemos medir como é o bem-estar social da empresa. Alguns desses aspectos têm uma ligação mais direta com o ambiente de trabalho e produtividade. Mas nos nossos programas focamos mais na qualidade da saúde na vida e principalmente nas empresas.

DINHEIRO ? O que é pior: trabalhar 16 horas por dia num ambiente saudável ou 8 horas num ambiente ruim?
KARCH ? Nenhum dos dois. Um dos grandes desafios quando se fala em promoção de saúde no trabalho é criar um clima saudável. Mas por causa da economia do conhecimento, da tecnologia, da habilidade de trabalhar 24 horas por dia, de ter contato com o mundo todo, em diferentes fusos horários, as jornadas de trabalho se estendem.

DINHEIRO ? E como resolver esse problema de jornadas de 16, 18 horas por dia?
KARCH ? O que estamos tentando fazer é desenvolver programas que estabeleçam pequenos intervalos. Ao mesmo tempo, devemos manter as pessoas informadas a respeito da necessidade de descanso, de lidar com estresse, de ter uma nutrição apropriada, fazer exercícios. Tudo isso é muito importante para ter qualidade de vida.

DINHEIRO ? Quais são os melhores exemplos de programas de promoção de saúde?
KARCH ? No Brasil, fiquei impressionado com a Gessy Lever, Dow Chemical, Du Pont, Siemens. Elas são criativas e têm obtido bons resultados. Seus líderes são muito bem informados, suas políticas são visíveis. A Du Pont tem um histórico de sempre ter dado segurança aos seus funcionários e agora procura promover uma vida saudável. A Ford também tem bons programas.