O último domingo 13 foi histórico para o Ituano. A defesa do goleiro Wagner, impedindo o gol do zagueiro Neto, do Santos, na disputa de pênaltis que definiu o Campeão Paulista deste ano, deu ao time de Itu, no interior de São Paulo, seu primeiro título de grande expressão. É verdade que o pequeno Ituano já venceu o mesmo campeonato, em 2002, mas, naquele, os grandes do Estado não participaram do torneio.

Para sagrar-se campeão paulista, o Ituano gastou cerca de R$ 140 mil com o salário dos seus atletas, em cada uma de suas dez vitórias no torneio. Bem abaixo do que gastou a equipe santista: aproximadamente R$ 650 mil por cada uma das suas 15 vitórias. Isso só para falar do time grande com melhor desempenho no campeonato. O Corinthians, que tem a maior torcida do Estado, por exemplo, gastou bem mais: R$ 3,5 milhões por partida ganha, sendo que o time de Parque São Jorge sequer avançou às fases finais do Paulistão.

A pergunta que fica é como uma equipe do interior de São Paulo, que disputa apenas a quarta divisão do Campeonato Brasileiro, e que tem um orçamento dezenas de vezes menor do que o de seus concorrentes da capital, conseguiu chegar ao título. “Foi a premiação de uma administração segura do ex-jogador Juninho Paulista”, afirma o consultor esportivo Amir Somoggi.

Para driblar as limitações orçamentárias, Juninho apostou na ampliação da ligação da equipe com os cidadãos de Itu. A torcida, que lotou estádios durante o campeonato, foi fundamental para os resultados, principalmente contra os grandes clubes. “Eles conseguiram nutrir um sentimento dos torcedores da cidade com o clube, que não se via há tempos”, diz Somoggi. “Esse foi o maior segredo do Ituano e a tática que os pequenos devem buscar.”

Os patrocínios negociados com marcas locais também foram fundamentais. Só na final, o Ituano estampou sete marcas em sua camisa, como a da companhia de bebidas Brasil Kirin, que possui fábrica em Itu, e a da empresa de segurança Gocil. Com isso, o time levantou mais de R$ 2 milhões para reforçar o caixa para o restante da temporada. No último balanço divulgado, de 2012, o clube faturou R$ 5,2 milhões, R$ 600 mil a menos do que gastou em futebol naquele ano.

Um dos principais apoiadores foi a fornecedora de materiais esportivos paulista Kanxa. “Não queremos apenas patrocinar, mas criar parceria com os clubes que trabalhamos juntos”, afirma o gerente de marketing da empresa, Sérgio Grer, que não abre detalhes sobre o patrocínio, iniciado em 2009 com a chegada de Juninho ao Ituano. A marca também apoia outras equipes menores, como Bragantino e o Criciúma, a única patrocinada da marca na primeira divisão do campeonato brasileiro. “Mesmo a Kanxa também estando na série A, a conquista do Ituano foi a nossa maior exposição”, diz Grer.

Depois da festa e da ressaca do título, o Ituano iniciará a preparação para a quarta divisão do campeonato brasileiro. Para conseguir uma vaga na série C de 2015, o time terá que superar o principal problema das equipes menores do futebol: manter o plantel diante do assédio dos clubes das primeiras divisões do campeonato brasileiro. “Será a hora do Ituano provar que tem planejamento”, diz Pedro Daniel, consultor de esportes da BDO Brazil. “Ele voltará para a realidade de pouca mídia e disputas menores.”