15/02/2022 - 10:07
A semana começou quente com um possível conflito entre Rússia e Ucrânia. Os próximos dias podem ser fundamentais para determinar se veremos um novo conflito em escala mundial, ou se os ânimos dos agentes militares no leste europeu vão esfriar.
Nesta terça-feira (15) Vladimir Putin, presidente da Rússia, surpreendeu as lideranças mundiais ao retirar parte das tropas russas próximas à fronteira com a Ucrânia e sinalizar com uma saída diplomática.
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Como resultado disso, o mercado voltou a respirar e as bolsas da Europa, índices futuros de Nova York e as grandes criptomoedas como Bitcoin e Ethereum operam em alta durante as primeiras horas do dia.
Mas as tensões devem continuar, quer no campo diplomático ou mesmo em conflitos bélicos localizados. Na segunda os Estados Unidos mandaram seus cidadãos saírem imediatamente de Belarus e nesta quinta-feira (17) a Rússia expulsou a segunda maior autoridade dos Estados Unidos na embaixada dos EUA em Moscou, Bartle Gorman.
A medida foi vista como perigosa pelo governo norte-americano, que classificou como “iminente” a invasão na Ucrânia. O presidente Joe Biden disse que a invasão pode acontecer nos próximos dias e que o “risco é muito alto”. A Otan, por outro lado, diz que a movimentação do exército russo de saída da fronteira com a Ucrânia é mentirosa
Aí, vale a pergunta: como a disputa de duas das maiores potências militares do mundo pode afetar os investimentos e a tomada de decisões no Brasil.
Dólar e commodities
O dólar, parte mais sensível nessa equação geográfica é o primeiro indicativo de que o investidor vai, invariavelmente, perder ou ganhar com o conflito liderado por Vladimir Putin.
Um conflito armado entre Rússia e Ucrânia pode afetar as cotações de commodities como gás, petróleo e energia, os tendões de Aquiles do mercado brasileiro. Além disso, a compra de fertilizantes brasileiros por parte da Rússia, que representam cerca de 1/3 de tudo o que é comercializado, também seria afetada, enquanto a Ucrânia, por outro lado, possui presença no mercado de compra de milho e trigo.
E se o cenário é insólito no Brasil, nos Estados Unidos a situação é um pouco mais tensa. Isso porque os principais índices norte-americanos já vinham de uma semana muito negativa, com os investidores temendo um possível aperto na política monetária do Federal Reserve (FED), e iniciaram a semana em baixa.
Nesta quinta-feira o Dow Jones passou a tarde em queda de 1,03%, aos 34.574 pontos, seguido pela Nasdaq com baixa de 1,66%, aos 13.889 pontos e o S&P 500, com queda de 1,15%, aos 4.423 pontos.
“O embate afeta, sim, o Brasil bem como todos os países, porém a mais afetada seria a Europa. Mesmo assim não seria nada bom um conflito entre os países, pois causará muitos transtornos no mundo econômico. Com certeza o Dólar deve subir em relação a todas as moedas, principalmente as emergentes”, indicou o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante.
Para ele, no entanto, a sinalização de que a Rússia vai retirar suas tropas já configura um ponto positivo para o mercado, que vai correr para investimentos de risco em países com juros altos, caso do Brasil.
Alta nos combustíveis e pressão inflacionária
Brasil e Estados Unidos são dois exemplos de países em que o fantasma inflacionário pressiona a economia neste momento e os bancos centrais de ambos os países atuam por um aperto na política de juros como forma de controlar a demanda e derrubar os preços no médio e longo prazo.
“Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do barril de petróleo certamente irá subir, muito provavelmente acima dos US$ 110, uma vez que com apenas as tensões políticas o barril já chegou a US$ 90 e segue em alta, além de possível aumento de preço em outras commodities, como o milho e o trigo”, disse Heloisa Sanchez, da equipe de análise da Terra Investimentos.
O petróleo, neste sentido, atua como um encarecedor de combustíveis ao redor do mundo – agora um dos principais vilões da inflação no Brasil, por exemplo. A Rússia, uma das maiores exportadoras da commodity, pode sofrer sanções caso invada a Ucrânia. Bancos, como o JPMorgan, esperam o preço do barril na casa dos US$ 120 caso aconteça um conflito.
“Com o petróleo nesse preço, teremos impacto direto no preço dos combustíveis, que vem sendo um dos causadores do aumento da inflação no País, fato que inclusive já foi alertado na última ata do Copom com o Banco Central, informando que fatores como o aumento de preços das commodities traria impacto direto na inflação, deixando assim em aberto a magnitude dos seus próximos reajustes”, completou Heloisa.
Com os preços valorizados, gasolina e óleo diesel seriam os primeiros a sentirem a expansão: no Brasil ações da Petrobras podem valorizar e conter o estrago na bolsa brasileira, porém a alta elevada tende a encarecer outros setores.