Sidão tem 49 anos de idade e uma história de vida muito bacana. Aos 13 anos surfou pela primeira vez nas águas do Guarujá. Aos 18, resolveu dar a volta ao mundo a bordo de uma prancha. Antes disso, na festa de formatura no Colégio Eduardo Prado, em São Paulo, aquele, segundo o bordão iconoclasta dos anos 60, em que ?se entrava burro e saía tarado?, tocou guitarra à Jimmy Hendrix enquanto o orador mandava palavras de resistência à ditadura militar. Já formado, pediu ao pai um empréstimo, na camaradagem, de US$ 2 mil, para botar o pé na estrada. O velho lhe assegurou que era pouco. Sidão garantiu que dava e sobrava. Um ano depois, retornou para casa.

Chamou o pai num canto. Deu-lhe US$ 100. Sobrara, sim. Em El Salvador surfou lado a lado com ?El monstro de Zunzal?, lendário tubarão daquelas plagas. No Sri Lanka, ia de uma praia a outra em cima de elefantes. Ganhava dinheiro tocando violão. Lia Dostoievsky, Herman Hesse e Lin Yutang, um filósofo chinês. ?Percebi, nas viagens, que minha vida era o mar, a liberdade do surfe, a água?, diz Sidão. ?Precisava dar um jeito de viver disso.?

Na Califórnia, enfim, descobriu o tal jeito nos corpos e nas vitrines. Depois de tanto rodar, em 1979 voltou ao Brasil e criou a OP ? as iniciais de Ocean Pacific. Mudou sua própria vida, mas também a de muitos brasileiros. A OP foi a marca mais poderosa do surfwear nos anos 80 e início dos 90. Eram 2 milhões de peças por ano. A calça Bali, de popeline de algodão com elástico na cintura e bolsos em profusão, vendeu 600 mil unidades anuais. O velcro da carteira colorida ditava o som, scraaaaatch!, de toda uma geração. A OP era uma espécie de Orkut dos tempos pré-internet. Tratava-se de uma comunidade imensa. Quem estava dentro, não saía. Quem não estava nela, queria entrar. A OP fez água, e interrompeu a produção, diante da avalanche de cópias piratas, de ou-tros rótulos que entraram na crista, como a IO (Indic Ocean) e a OM (Ocean Mediterranean). ?Também cansei da roda viva, já não estava feliz e ainda tive um grave problema de saúde?, conta Sidão. E a OP secou, saiu das prateleiras. A boa nova, agora, como uma onda no mar, que vai e vem, lambendo a areia: a OP renasce no mês de setembro em cerca de mil pontos-de-venda distribuídos pelo Brasil.

Com vocês, então, o empresário Sidney Luiz Tenucci Jr., o Sidão. Ele se associou à agência de publicidade Almap/BBDO, que cuidará da divulgação. Aliou-se a uma respeitada empresa da construção de marcas, a TBC (The Brands Company), para desenhar o renascimento. A manufatura, como convém ao novo modo de fazer dinheiro com moda, será pulverizada. Os calçados virão de Franca. Os calções e bermudas da China. O jeans do interior de São Paulo. ?É um casamento perfeito?, diz Fernando Janeiro, gerente de licenciamento da TBC. ?A OP tem a reputação, e trata-se apenas de fabricar os produtos nos melhores lugares.?

A idéia inicial é pôr 1 milhão de peças por ano nas lojas. ?Queremos imprimir romantismo à idéia de radicalismo atrelada ao surfe?, diz Marcus Sulzbacher, diretor de criação da Almap/BBDO. ?E somente uma marca com a história da OP permite essa postura.? Num dos folhetos, a peça inicial da campanha, uma frase ajuda a resumir o que vai acontecer: ?Olha o que o mar trouxe de volta?. Serão R$ 500 mil em verba de comunicação na largada.Vai dar certo? Sim, é o que indica a atual tendência da moda brasileira. ?O retorno ao mercado da marca OP é bastante oportuna, pois o esporte é um dos grandes temas da moda atual?, diz a consultora de moda e de imagem Vanessa Barone. ?Prova disso é o sucesso de grifes como Osklen (esportiva-chique), Puma e Adidas?.

Prepare-se, porque Sidão é casca grossa, como se diz dos craques nos tubos de água salgada. Para ele, quanto maior o desafio, melhor. Prepare-se porque Sidão não costuma desistir. Há receio com os novos desafios, num universo empresarial agressivo, com jeito de tubarão? Nada disso. Ele escolhe um breve hai-kai de sua autoria para resumir os novos tempos: ?O medo evapora o amor/ que evapora o medo?.