10/06/2020 - 1:45
As companhias aéreas começaram a retomar os voos em um cenário de muitas dificuldades, que obrigam as empresas a improvisar e, após mais de dois meses de crise devido à pandemia, o retorno à normalidade pode demorar anos.
Tripulações que são informadas sobre o destino do voo algumas horas antes da decolagem, aeroportos que cancelam de improviso autorizações de pouso e o treinamento dos pilotos: estes são alguns exemplos das dificuldades enfrentadas pelas companhias.
“Praticamente não há mais cronogramas fixos, e sim reservas para os funcionários”, explicou recentemente o presidente da Lufthansa, maior grupo europeu do setor, Carsten Spohr.
“Sabem quando têm que estar no aeroporto e são informados do destino apenas algumas horas antes”. O método, que era utilizado em casos excepcionais, agora “virou a norma”, destacou Spohr.
O retorno à normalidade é um imenso desafio para as companhias que passaram mais de dois meses completamente paralisadas.
A Lufthansa, por exemplo, tinha uma oferta de voos comparável com a da década de 1950, ou seja, quase 3.000 passageiros por dia, ao invés dos 350.000 de antes da crise do coronavírus.
“O problema é que neste momento a demanda é muito menos previsível que o habitual”, afirmou um porta-voz da companhia Etihad, de Abu Dhabi.
A inteligência artificial, muito utilizada antes da crise para o planejamento, foi deixada de lado no momento.
“Os dados coletados durante décadas são inutilizáveis, ao menos em um futuro próximo, e temos que voltar a ensinar tudo ao algoritmo”, disse Thorsten Dirks, diretor financeiro da Lufthansa.
A inteligência humana é “mais rápida e flexível”, completou.
O primeiro voo que a companhia havia programado para a Índia foi cancelado na véspera por falta de autorização de pouso.
Em outros casos, a procura é importante no último momento. Durante o fim de semana de Pentecostes, o presidente da Lufthansa fez uma reserva para encontrar a família e se viu em uma lista de espera de 70 pessoas.
“Um segundo avião teve que ser adicionado”, explicou Spohr.
No auge da crise, 700 dos 763 aviões da Lufthansa permaneceram em terra, estacionados nas pistas do aeroporto de Frankfurt.
“É possível reativar em um ou dois dias os que permaneceram nos hangares por menos de três meses”, afirmou à AFP Lara Matuschek, porta-voz do grupo.
Mas para as aeronaves que estão em “deep storage” (“armazenamento profundo”), o “procedimento de reativação é mais pesado, às vezes dura até quatro semanas”, explica.
Além disso, os profissionais devem estar atualizados com a sua formação. Na Transair, no Senegal, os pilotos voam sem passageiros para conservar as licenças.
A Etihad, que aproveitou o período em que 80% da frota permaneceu em terra em abril para manutenção, organiza a cada 45 dias treinamentos em simulador para os pilotos.
– Volta à normalidade em quatro anos –
No restante do mundo, a volta é lenta. A Singapore Airlines, com uma reativação que vai de alguns dias a uma semana de acordo com o tipo avião”, vai oferecer 12 destinos adicionais entre junho e julho.
Mas com 32 destinos contra os 135 de antes da crise, o grupo asiático opera com apenas 6% de sua capacidade.
No Japão, a volta também é progressiva para as companhias JAL e ANA, que oferecem 30% dos voos habituais em junho, o dobro de maio.
O presidente da Singapore Airlines espera uma volta à normalidade completa em quatro anos.
A Lufthansa espera oferecer em setembro voos para 90% de seus destinos de curta distância e 70% de longa distância. Mas a oferta será de apenas 40% do que era antes da crise.
Com os cancelamentos de voos comunicados apenas algumas semanas antes aos passageiros, o serviço de atendimento ao cliente está sobrecarregado. Atualmente, o grupo gasta centenas de milhões de euros por mês em reembolsos, de acordo com Spohr.
O sistema funciona no momento. “Mas quando tentamos fazer uma empresa como a nossa funcionar para ganhar dinheiro, não é um método duradouro”, conclui.