Não fosse o fato de ter nascido em Gana em 1980, o perfil de Kweku Adoboli se confundiria com o de vários outros profissionais em ascensão no mercado financeiro britânico. Morando na Inglaterra desde os 11 anos de idade, Adoboli se formou na Universidade de Nottingham em computação e administração e em 2003 foi trabalhar no escritório londrino do banco suíço UBS. Sua carreira foi rápida: tendo começado como consultor de investimentos, ele logo migrou para as lucrativas posições na mesa de operações com derivativos, onde se destacou nas operações com Exchange Traded Funds (ETFs), fundos fechados negociados em bolsas. 

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Adoboli: endereço de luxo, festas, ciclismo e vinhos finos são as paixões do fraudador

No entanto, os estudos em Nottingham, cidade do lendário Robin Hood, despertaram em Adoboli uma compulsão irreprimível para roubar do rico banco UBS em benefício de um mortal não tão pobre: ele mesmo. No dia 15 de setembro, data de seu 31º aniversário, ele foi preso na sede do UBS, acusado de fraudes que provocaram um prejuízo estimado entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2,3 bilhões ao banco suíço. Segundo Kaspar Villiger, presidente do Conselho do UBS, a fraude foi “executada profissionalmente” e nenhum cliente foi prejudicado. A maracutaia perpetrada por Adoboli, entre 2008 e 2011, lembra  o escândalo envolvendo o operador Jerôme Kerviel, que lesou o banco francês Société Générale em US$ 6,8 bilhões em 2008, com operações muito semelhantes às de Adoboli. O caso mais recente de um operador que aproveita sua posição para lesar o banco em que trabalha é mais um em uma longa lista.  

Ele mostra que, apesar das declarações dos principais executivos dos bancos sobre seu empenho em melhorar a segurança das instituições que dirigem, os controles permanecem muito frágeis e são facilmente driblados pelos operadores. Adoboli, considerado festeiro e apreciador de bons vinhos, fotografia e ciclismo, aluga um apartamento que custa mil dólares por semana em um bairro rico de Londres. Detido para investigações, ele está sendo defendido pelo escritório londrino de advocacia inglês Kingsley Napley. Os advogados conhecem o assunto: o escritório defendeu o especialista em derivativos Nick Leeson quando suas operações não autorizadas na Bolsa de Cingapura quebraram o banco inglês Barings, em 1995. 

 

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