Se uma pessoa tem o dinheiro para comprar um imóvel à vista, as coisas ficam mais fáceis, certo? Nem sempre, diz o educador financeiro e sócio-fundador do blog Dinheirama, Conrado Navarro. Segundo ele, imagine que uma pessoa tenha poupado R$ 100.000,00 (todos os números usados nos calculos são médias hipotéticas) para a compra de um imóvel neste valor. O caixa desta pessoa ficará zerado e toda a capacidade de investimento futuro dependerá de um valor mensal separado para este fim. Para o exemplo, vamos dizer que a pessoa possa investir R$ 200,00 mensais, rendendo 0,8% ao mês, para formar uma nova poupança. Ao final de 10 anos essa pessoa terá o imóvel de R$ 100.000,00 ? desconsiderando-se aqui a valorização do bem ? e mais R$ 40.043,49. Ou seja, R$ 140.043,49 de patrimônio. Em 20 anos, teria o imóvel mais R$ 144.226,24, ou R$ 244.226,24 de patrimônio. ?É interessante?, exemplifica.

Em outra simulação com os mesmos valores, agora a pessoa em questão decide investir os R$ 100.000,00 na mesma aplicação anterior, que rende 0,8% ao mês, e usar seus rendimentos para pagar um aluguel de R$ 750,00 mensais. Supondo ainda que ela consiga investir mais R$ 200,00 mensais nesta mesma aplicação. Em resumo, ele pagará um aluguel de R$ 750,00 com dinheiro proveniente de sua aplicação, e investirá mensalmente R$ 200,00. Nesse caso, em 10 anos ele terá acumulado R$ 125.755,40. Em 20 anos seriam R$ 194.538,76. Valor este descontado o aluguel, pago em dia, mês a mês.

Neste caso, Navarro lembra que a diferença acumulada pesa a favor do primeiro exemplo ? daquele que comprou o imóvel –, ainda que essa diferença não seja muito grande. O especialista lembra, porém, que se o aluguel for mais barato ou se a rentabilidade conseguida na aplicação for maior, a opção de aluguel pode se mostrar mais interessante. ?É normal chegar à conclusão de que, mesmo tendo o dinheiro na mão, ainda não é hora de comprar um imóvel?, explica o educador.

Vamos continuar com os mesmos R$ 100.000,00 como valor do imóvel. Agora, no entanto, o comprador não tem o dinheiro e, portanto, vai financiá-lo. Para isso, serão cobrados juros e o pagamento das parcelas por um determinado tempo. Suponha que essa pessoa consiga um financiamento em 20 anos (240 meses) com juros de 1,2% ao mês. Neste caso, a parcela a ser paga será de R$ 1272,68. No fim das contas, essa pessoa gastou R$ 1272,68 por mês e, ao final de 20 anos, tem seu imóvel no valor de R$ 100.000,00 (mais uma vez, sem contar possível valorização ou desvalorização do imóvel).

Se, no lugar de embarcar no financiamento, essa pessoa optasse por pagar um aluguel de R$ 750,00, investindo a diferença de R$ 522,68 (valor da parcela menos o valor do aluguel) naquela mesma aplicação de 0,8% ao mês, durante os mesmos 20 anos, quanto ela teria ao fim de 20 anos? Exatos R$ 376.920,87.

Assim, diz Navarro, as pessoas deveriam decidir pelo que é mais interessante, sem querer apenas ajeitar o futuro tendo um lugar pra morar. ?Pense em formar um patrimônio capaz de permitir que more onde quiser inclusive em um imóvel de padrão muito melhor que aquele que gostaria de comprar. E isso pode significar, em alguns casos, que pagar aluguel vá deixá-lo mais rico do que ter sua casa própria?, aconselha.

Os que os financistas querem dizer é que em um país com as maiores taxas de juros do mundo, os financiamentos de longo prazo podem comprometer de forma importante a formação do patrimônio futuro.
 
?Embora se alegue que o dinheiro gasto com aluguel é um dinheiro jogado fora, na realidade se isto abrir espaço para que a pessoa possa acumular determinado valor que possibilite a compra de um imóvel à vista, ou mesmo a redução do prazo do financiamento, o aluguel passa a ser um grande negócio?, diz Claudia Kodja, diretora da Kodja Informações e Investimentos. ?Não subestime sua capacidade de acumulação e o que a disciplina de poupança e um bom investimento podem fazer por você?, afirma Kodja.

 

E mais:

> Os tabus que cercam o sonho da casa própria


> Opção por alugar um imóvel: uma tendência


> Dez dicas para escolher bem um imóvel

 

 

> Siga a DINHEIRO no Twitter