01/10/2008 - 7:00
NOS ÚLTIMOS MESES, O executivo Rubens Paes de Barros Sampaio Jr., 46 anos, viajou diversas vezes para a Bahia em busca de um lugar belo e tranqüilo para relaxar. O curioso é que, em vez de usar trajes de banho, Rubens era constantemente visto de terno e gravata ? às vezes, sem gravata, é verdade, debaixo do sol escaldante. Rubens não estava procurando um lugar para descansar, mas, sim, para seus futuros clientes. À frente das operações brasileiras do grupo mexicano Costamex, dono da bandeira hoteleira Royal Holiday, empresa que faturou US$ 249 milhões no ano passado, ele vai comprar um hotel no litoral baiano. ?Vamos comprar, reformar e inaugurar até o fim de 2009?, diz Rubens. Mas não será um hotel como outro qualquer. O novo empreendimento funcionará também como um clube privado. O cliente paga uma taxa de adesão que varia de R$ 30 mil a R$ 120 mil, uma anuidade de R$ 1,6 mil e poderá aproveitar o hotel por um período que varia de uma semana a três meses por ano. Além do novo empreendimento, o associado poderá desfrutar de outros 180 hotéis coligados ao redor do mundo. ?O turista brasileiro gosta de se programar. É só pagar uma vez por ano e escolher o destino?, conta Rubens. Trata-se de um modelo de negócio que tem conquistado turistas e grandes cadeias hoteleiras mundialmente. As americanas Marriott e Exclusive Resorts, por exemplo, são algumas das empresas que adotaram o sistema para ganhar mercado.
Cada rede possui um modelo próprio. A Royal Holiday, por exemplo, tem uma presença mais forte na América Latina e o tempo de adesão é de 30 anos. No Brasil, o grupo tem parcerias com alguns hotéis da cadeia Othon e também com o Jurerê Beach Village, de Florianópolis. ?E até 2013 teremos três hotéis próprios?, diz Rubens. ?Já possuímos dois mil associados no Brasil e 78 mil no mundo.? A americana Marriott, que em 1984 criou o Marriott Vacation Club, dispõe de 360 mil associados. O programa, entretanto, funciona como propriedade compartilhada e o preço do título, que passa de pai para filho e dá direito a uma semana de hospedagem por ano, varia de US$ 7,8 mil a US$ 80 mil. Já a Exclusive Resorts, empresa fundada em 2002 pelos irmãos americanos Brent e Brad Handler e que tem Michael Dell, o magnata da informática, como um dos acionistas, é diferente. O clube de férias conta com mais de 350 residências de luxo distribuídas na Europa, nos EUA, na Costa Rica, no México, na Argentina e na Tailândia. Os planos oferecidos dependem do número de dias que o turista pretende se hospedar por ano ? de dez a 60 dias. O valor da inscrição varia de US$ 40 mil a US$ 120 mil e a taxa anual vai de US$ 13,9 mil a US$ 59,9 mil. Muito caro? Já existem três mil associados.
Há quem ache o número de membros associados pequeno diante do tamanho das grandes redes. Não é. Por trás desses planos de férias, se esconde uma lucrativa estratégia de negócios. Afinal, os hotéis não apresentam 100% de ocupação durante o ano todo. Com os clubes de férias, podem preencher os quartos ociosos. Motivo: ?Uma empresa hoteleira investe, em média, cerca de US$ 80 mil por quarto em um resort?, diz Alvaro de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, a ABIH. Ela não pode se dar ao luxo de deixá-lo vazio.