Não se passou nem um mês desde a barbeiragem do aumento do IPI sobre carros importados e o mercado já foi brindado com cortes de empregos e reajuste de preços – imagine só! – das montadoras aqui instaladas. Foi justamente para elas que o governo havia concebido a criativa ideia de um protecionismo torto para barrar a concorrência externa. Em contrapartida, pedia a manutenção da tabela do veículo nacional e a ampliação das vagas de trabalho – compromisso que elas rasgaram, sem a menor cerimônia, alegando pátios cheios por falta de compradores e queda das vendas. As demissões no setor são a mais inequívoca prova de que as montadoras investem pouco em suas linhas e no desenvolvimento tecnológico interno. Por isso seus modelos são cada vez menos atrativos e inovadores, repetindo a sina do “vendem menos porque não são melhores”. 

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Ao que parece, as fabricantes nacionais usaram a bandeira de uma rivalidade predatória por não conseguirem fazer frente à qualidade dos veículos trazidos de fora. O ministro da Economia, Guido Mantega, autor do projeto do IPI majorado, teve de chegar ao ponto, na semana passada, de convocar os representantes dessas montadoras à Brasília para cobrar o acordo. Foi iludido mais uma vez. Caiu no conto do investimento de longo prazo. Convenceu-se de que os planos de gastos de bilhões, que sairiam do papel de qualquer jeito nos próximos anos, eram em parte fruto e obra da reserva recém-criada com o IPI. Aceitou assim as “medidas conjunturais” de corte das fabricantes. E tudo ficou como está. 

 

Quem vem pagando a conta dessa política industrial caduca é, em última instância, o consumidor. Ele é quem hoje encontra em qualquer loja, de importadoras e de montadoras, os veículos com preços remarcados. Era isso que as autoridades almejavam? O Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a suspender até dezembro a aplicação do imposto mais alto. Porém, o benefício ainda não alcançou a ponta da cadeia. Boa parte das concessionárias já aumentou por conta. Com um regime automotivo distorcido, o Brasil dá marcha à ré no desenvolvimento de um setor que apresentava até então as melhores taxas de crescimento. A economia nacional como um todo perdeu inapelavelmente.