30/09/2020 - 18:16
Forçados pelo confinamento, milhões de latino-americanos colocaram de lado suas dúvidas e medos sobre compras virtuais, fazendo do comércio eletrônico um dos grandes vencedores da pandemia da covid-19 na região.
O boom ainda forçou pequenas empresas e comércios de bairro a incorporar tecnologias ou adaptar ferramentas de comunicação para manter seus clientes.
“A covid-19 tem sido um acelerador de tendências e no comércio eletrônico isso tem sido muito forte. Mais de dez milhões de latino-americanos que nunca compraram online estão fazendo isso regularmente”, disse à AFP Óscar Silva, especialista em estratégias globais, da consultoria KPMG México.
Com presença em 18 países e um modelo de negócios comparável ao da Amazon ou eBay, o Mercado Livre é o grande player regional.
Com a queda da economia latino-americana, a plataforma fundada na Argentina dobrou as vendas no segundo trimestre. O número de compradores aumentou 45,2%, atingindo 51,1 milhões de pessoas.
Enquanto isso, sua capitalização de mercado alcançava US$ 55 bilhões, colocando-se temporariamente em pé de igualdade com a brasileira Vale, a maior empresa da América Latina.
“As pessoas temiam fraudes ou que o produto não fosse o que esperavam. É muito provável que uma grande porcentagem desses clientes permaneça depois de verificar a facilidade e a eficiência do comércio virtual”, prevê Silva.
– Sobrevivência –
David Geisen, diretor do Mercado Livre no México, destaca que “usuários fiéis agora compram em 12 dias o que compravam antes em 17, usuários frequentes em 24 dias o que compravam em 79 dias, e usuários esporádicos compram em 29 dias o que compravam em quase um ano”.
No início da quarentena, as vendas concentravam-se em máscaras, antibactericidas, termômetros e oxímetros, mas aos poucos foram desviadas para outros bens e serviços.
A febre do comércio virtual, estimulada pelo medo do contágio, se espalhou até mesmo para economias fortemente restritas, como a cubana, com vendas disparadas na plataforma governamental “tuenvio.com”, que alguns insatisfeitos rebatizaram de “tuextravio”.
“Fiz cerca de quarenta compras e tive quarenta e tantos problemas”, relata Jorge Noris, um cientista da computação, de 34 anos, em Havana à AFP.
No México também houve contratempos. Em vez de um celular caro, um homem disse ter recebido uma bebida, embora a loja – do magnata mexicano Carlos Slim – tenha finalmente lhe enviado o smartphone.
Há um alerta: segundo o especialista da KPMG, muitas empresas faliram durante esses meses porque não ofereciam vendas online ou eram ruins.
“As grandes plataformas são as vencedoras, mas também vemos empresas de bairro que mantêm seus clientes ou conquistam novos usando algo tão simples como o WhatsApp”, explica.