A ministra Simone Tebet, do Planejamento, afirmou nesta segunda-feira, 27, que o último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) saiu no “tom errado” e “não precisava ter esticado a corda” com o governo como ocorreu. Ela disse respeitar a decisão técnica de manter a taxa de juros no patamar atual, mas destacou que a ata é um documento político.

“Embora a decisão (sobre a taxa de juros) seja técnica, eu entendo que o comunicado e a ata são documentos políticos. As palavras têm poder e nós temos que tomar muito cuidado com elas”, afirmou a ministra, em conferência da Arko Advice.

O embate sobre a taxa de juros é o principal ponto de atrito entre o governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Banco Central.

A cúpula petista considera o patamar atual alto e teme que isso prejudique a popularidade do governo. O chefe do Executivo já foi a público diversas vezes fazer ataques ao presidente da instituição econômica, Roberto Campos Neto.

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A ministra Simone Tebet afirmou que seu papel na Esplanada é ser um “ponto de equilíbrio entre as duas narrativas que estão sendo colocadas”, mas defendeu que o Banco Central deveria levar em consideração o trabalho que está sendo desempenhado pela equipe econômica do governo e sinalizar uma redução dos juros.

O último comunicado do Copom, divulgado na quarta-feira, 22, aprofundou a crise entre a gestão petista e o Banco Central. O comitê justificou a manutenção dos juros a 13,75% ao ano mencionando fatores externos, como os episódios recentes envolvendo bancos dos EUA e da Europa. A ministra argumentou que, apesar disso, o cenário interno é favorável devido à aprovação no horizonte da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal.

“Embora a decisão (sobre a taxa de juros) seja técnica, eu entendo que o comunicado e a ata são documentos políticos. As palavras têm poder e nós temos que tomar muito cuidado com elas”, afirmou Tebet

“É óbvio que fatores externos importam, preocupam e devem ser colocados na conta quando há a decisão técnica. Mas também os fatores internos, e nesse aspecto acho que houve uma evolução. Todos nós sabemos que estamos prontos pra anunciar o arcabouço fiscal, que há uma chance muito grande de ser aprovado, não é algo que vai ter grande dificuldade, a reforma tributária nunca esteve tão amadurecida para ser votada”, afirmou a ministra.

Orçamento

No mesmo evento, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o repasse de recursos a parlamentares via emendas para irrigar suas bases eleitorais.

“Um parlamentar apresentar uma emenda ao orçamento é algo absolutamente legítimo. A representação popular se faz por meio de deputados e senadores eleitos, e é absolutamente legitimo que os parlamentares queiram levar recursos para as suas bases eleitorais, afinal de contas eles veem a Brasília para discutir temas e também para levar benefícios para as suas regiões. Não tem nada de errado nisso”, afirmou Dantas.

Segundo o ministro, porém, o atual sistema “pulverizou” os recursos públicos e fez com que o País perdesse a capacidade de fazer projetos estruturantes. “Porque se cada parlamentar tiver um quinhão elevado do orçamento, quem alocará recurso nos grandes projetos que exigem bilhões de reais?”, ponderou.

Embate entre Governo Federal e Banco Central

Após uma pressão contínua por parte do governo federal em relação à necessidade de queda de juros, o Banco Central optou por manter a Selic em 13,75% e mandar um recado ao governo sobre a sua autonomia e que poderia fazer novos aumentos apesar do alto patamar atual da taxa.

A manutenção da Selic no mesmo patamar acabou por deixar o governo menos preocupado do que o tom do comunicado.