18/05/2020 - 9:47
A reunião anual da OMS foi aberta, nesta segunda-feira (18), virtualmente pela primeira vez em sua história, com os países exigindo que a futura vacina contra o coronavírus seja um “bem público” e que a organização sanitária passe por reformas, a fim de torná-la mais responsiva a pandemias.
Ao abrir as discussões, o secretário-geral da ONU, Antonio Gurerres, criticou os países que “ignoraram as recomendações da OMS”, considerando que o mundo paga “um preço alto” pelas estratégias divergentes.
“Como resultado, o vírus se espalhou por todo o mundo e agora está se dirigindo para os países do Sul, onde pode ter efeitos ainda mais devastadores”, acrescentou, pedindo um “grande esforço multilateral em face desta tragédia”.
“Espero que a busca por uma vacina possa ser o ponto de partida”, disse ele na reunião que deve durar até terça-feira.
Neste sentindo, o presidente chinês Xi Jinping garantiu que uma eventual vacina chinesa se tornará um “bem público mundial”, prometendo que seu país dedicará dois bilhões de dólares em dois anos à luta global contra a COVID-19.
Em uma mensagem de vídeo, o presidente francês Emmanuel Macron também disse que, se uma vacina for descoberta, “será um bem público global, à qual todos deverão ter acesso”.
Apesar da escalada de tensões entre Washington e Pequim, os países esperam adotar durante esta reunião uma longa resolução promovida pela União Europeia, que apela a um “acesso universal, rápido e equitativo a todos os produtos (…) necessários para a resposta à pandemia”.
O texto também pede o lançamento “o mais rápido possível (…) de um processo de avaliação” para examinar a resposta sanitária internacional e as medidas tomadas pela Organização Mundial da Saúde diante da pandemia.
A este respeito, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na reunião que lançaria uma investigação “o mais rápido possível, no momento apropriado, para revisar as experiências e lições aprendidas e fazer recomendações para melhorar a preparação e resposta nacional e global à pandemia”.
A resolução também pede à OMS que “colabore estreitamente com a Organização Mundial de Saúde Animal, a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas e os países (…) com o objetivo de identificar a fonte zoonótica do vírus e determinar por que via foi introduzido na população humana, (…) em particular por meio de missões científicas e de colaboração de campo”.
– “Nenhum assunto evitado” –
Se a resolução for adotada, “será um resultado importante porque a OMS será o primeiro fórum mundial a concordar unanimamente sobre um texto”, disse uma fonte diplomática europeia.
“Nenhum assunto foi evitado” na resolução, como “a reforma da OMS e, em particular, de suas capacidades que se mostraram insuficientes para evitar uma crise dessa magnitude”, garantiu esta fonte à AFP.
Resta saber se os Estados Unidos apoiarão a resolução que não exige uma investigação imediata sobre a origem do vírus ou as ações tomadas pela OMS em resposta à pandemia.
Washington acusa Pequim de ter ocultado a escala da epidemia e a OMS de ter falhado na gestão da pandemia se alinhando à posição chinesa. Por essas críticas, o governo de Donald Trump suspendeu a contribuição americana à OMS.
A questão da origem do vírus também atinge as relações China-Estados Unidos. Washington vem exigindo há várias semanas uma investigação sobre a origem do vírus, porque suspeita que Pequim ocultou um acidente de laboratório que estaria na origem da pandemia.
Também acusa a China de tentar piratear uma pesquisa americana sobre uma vacina.
Ao mesmo tempo, o governo americano acredita que a OMS negligenciou um alerta precoce de Taiwan sobre a gravidade do coronavírus – o que a agência da ONU nega. E os Estados Unidos, apoiados por alguns países, pediram à OMS que “convide Taiwan” para o organismo, apesar da oposição da China.
Depois de ser observador, Taiwan foi excluído da OMS em 2016, ano em que Tsai Ing-wen chegou ao poder. A presidente se recusa a reconhecer o princípio da unidade da ilha e da China continental no mesmo país.
Em Genebra, a OMS assegura que cabe aos Estados-membros decidir se aceitam Taiwan. Pouco antes da abertura da reunião, o chefe da diplomacia taiwanesa, Joseph Wu, afirmou que havia concordado em adiar o debate para que as discussões do dia pudessem se concentrar na pandemia.
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