27/06/2025 - 8:27
Líderes e especialistas de todo o mundo se reunirão na próxima semana na cidade espanhola de Sevilha, convidados pela ONU, para uma conferência sobre financiamento ao desenvolvimento, afetado pelos cortes de Donald Trump e conflitos internacionais.
O objetivo, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, é encontrar “soluções” para as necessidades dos países em desenvolvimento, que “sofrem um déficit financeiro anual estimado em US$ 4 trilhões (R$ 22 trilhões)”, US$ 1,5 trilhão (R$ 8,2 trilhões) a mais do que há dez anos.
A capital da Andaluzia receberá quase 70 chefes de Estado e de Governo e 4.000 representantes da sociedade civil e das principais instituições financeiras internacionais de segunda a quinta-feira. Não haverá representação oficial dos Estados Unidos na reunião, chamada “FfD4”.
Washington se retirou do encontro e abandonou as discussões em meados de junho devido a um desacordo sobre o texto final, que, afirmou, cria “novas estruturas redundantes” e viola a “soberania” dos países.
– “Enormes desafios” –
Esta conferência sobre desenvolvimento, a primeira desde a de Addis Abeba em 2015, ocorre após Trump eliminar 83% do financiamento a programas internacionais da Usaid.
Os Estados Unidos eram de longe o maior doador a agências e organizações humanitárias, que também sofreram redução da ajuda de outros países, como França, Alemanha e Reino Unido.
Essa situação obrigou o Unicef a demitir 1.000 professores nos campos de refugiados rohingya em Bangladesh, a ONU a reduzir à metade seus programas na República Democrática do Congo e prejudicou o combate à aids no sul da África.
A situação dos países em desenvolvimento é ainda mais delicada devido à explosão da dívida pública desde a pandemia de covid-19, que obrigou os Estados a destinar mais recursos ao pagamento de seus empréstimos do que à saúde e à educação.
O momento é desafiador para a economia mundial, enfraquecida pelo aumento das tarifas dos EUA e pelos conflitos atuais, principalmente na Ucrânia e no Oriente Médio, que levaram a um aumento nos orçamentos militares.
– Sistema “obsoleto” –
“Neste contexto turbulento, não podemos deixar que nossas ambições se desvaneçam”, alertou Guterres, que vê a conferência de Sevilha como “uma oportunidade única para reformar o sistema financeiro internacional”, atualmente “obsoleto” e “disfuncional”.
O projeto de declaração adotado antes do encontro insta os bancos de desenvolvimento a “triplicarem” sua capacidade de empréstimo, os doadores a “garantirem um financiamento previsível” para gastos sociais essenciais e a comunidade internacional a fortalecer a “cooperação” contra a evasão fiscal.
O “Compromisso de Sevilha” — que será complementado durante a conferência com anúncios unilaterais — foi bem recebido pela União Europeia, mas criticado por ONGs, que acusaram os países ricos de diluírem o documento final.
“Apesar do início promissor das negociações, o texto foi esvaziado de sua substância sob pressão dos países do Norte, que priorizaram seus objetivos políticos em detrimento da verdadeira justiça financeira”, denunciou a ONG Coordinación SUD.