Recorde foi impulsionado por incêndios florestais, especialmente os registrados na América do Sul.A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera registraram um aumento recorde em 2024, segundo um relatório Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado nesta quarta-feira (15/10). A agência da ONU assinala que de 2023 para 2024 a concentração média global de CO2 aumentou 3,5 partes por milhão (ppm), “o maior aumento desde o início das medições modernas em 1957”.

As concentrações dos gases metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) também atingiram níveis recordes. A alta concentração de gases de efeito estufa impede que o calor escape para o espaço, o que aquece o planeta e contribui com as mudanças climáticas.

Entre 2011 e 2022, o aumento médio anual de CO2 já era três vezes maior do que na década de 1960. De 2023 para 2024, a concentração aumentou quase cinco vezes em comparação com aquela década. Trata-se do maior aumento registrado em um único ano desde o início das medições.

Especialistas expressam preocupação crescente com os números. Segundo a cientista da OMM Oksana Tarasova, há sinais crescentes de que florestas e oceanos estão absorvendo menos dióxido de carbono. Até agora, a natureza absorvia cerca de metade das emissões, mas essa capacidade está diminuindo.

O dióxido de carbono permanece na atmosfera por muito tempo e afeta o clima por séculos. Após 1.000 anos, cerca de 15% a 40% ainda estarão presentes, estimam especialistas. O CO2 é gerado, por exemplo, na queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural para geração de energia, transporte, produção industrial e em residências.

A OMM fala em um ciclo vicioso iminente com a menor absorção dos gases de efeito estufa pelos oceanos e florestas. Isso porque menos absorção significa mais CO2 na atmosfera, o que leva a temperaturas mais altas – o que aquece os oceanos e causa mais secas, reduzindo ainda mais a absorção do gás, explicou Tarasova.

Incêndios florestais são causa de aumento

A causa do forte aumento da concentração em 2024 foram, além dos gases de efeito estufa gerados pelo ser humano, os incêndios florestais, especialmente na América do Sul, segundo a OMM. O nível de monóxido de carbono registrado foi o mais alto desde o início das medições há 22 anos. O CO vem principalmente de incêndios florestais e se oxida em CO2.

O problema foi agravado em 2024 pelo fenômeno climático natural El Niño, que ocorre de forma cíclica e causa mais secas na América do Sul e no sul da África, além de mais incêndios florestais. Em períodos de seca, os ecossistemas absorvem menos CO2.

“As retroalimentações climáticas são preocupantes”, disse Tarasova. Pontos de inflexão, também chamados de ponto de não retorno, podem ser atingidos, a partir dos quais a situação não poderá mais ser revertida, com consequências drásticas.

Ela citou como exemplos o derretimento do permafrost e o colapso do ecossistema da Amazônia. Esta semana, um relatório apontou que os recifes de corais foram o primeiro ponto de não retorno atingido pelo planeta.

2024 foi o ano mais quente desde a Revolução Industrial, que ocorreu por volta de 1750, com uma temperatura média global cerca de 1,55 °C acima do nível pré-industrial. Os oceanos também aqueceram mais do que nunca.

Acordo de Paris está em risco na iminência da COP30

As emissões de gases de efeito estufa precisam ser urgentemente reduzidas de forma drástica, afirma o relatório da OMM. Caso contrário, a meta climática do Acordo de Paris estará em risco, que é limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 °C e, se possível, a 1,5 °C acima do nível pré-industrial. Embora o aumento em 2024 já tenha ultrapassado 1,5 °C, a meta climática considera médias de longo prazo, de pelo menos dez anos.

Apesar dos dados alarmantes, Tarasova mantém a esperança: “Nunca devemos desistir. Há uma enorme diferença entre 1,5 °C e 5 °C de aquecimento. Devemos fazer tudo ao nosso alcance para proteger as florestas e os oceanos”.

cs/cn (dpa, DW)