Separar os momentos da vida pessoal e do trabalho é o obstáculo mais crítico para a saúde mental de pelo menos 60% dos trabalhadores, indica pesquisa da healthtech Starbem. O estudo ouviu 5,9 mil colaboradores de 89 empresas de diversos tamanhos.

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Os percentuais afetados pelo problema variam conforme o tamanho da companhia. A menor proporção, de 60%, foi registrada nas organizações com mais de 250 empregados. Empresas médias, com número de colaboradores entre 100 e 250, apresentaram o maior percentual: 73,1%. Já nas empresas pequenas, 67,4% são impactados.

Assim, o estudo aponta que o porte da empresa não interfere sobre a presença de problemas emocionais. “De startups enxutas a corporações com milhares de colaboradores, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é a dimensão mais crítica”, diz o relatório.

Pandemia borrou linhas entre vida pessoal e trabalho

Segundo o diretor de produto e tecnologia da Starbem, Renato Barbosa, as entrevistas para a pesquisa identificaram resquícios psíquicos da vida na pandemia de covid-19 como responsáveis pela dificuldade dos trabalhadores em conciliar seu trabalho e sua família.

“No passado, tinha até aquela máxima: em casa, esquece do trabalho”, diz Barbosa. Na pandemia, os funcionários acostumaram-se a responder mensagens e e-mails a qualquer momento, de seus celulares, e o hábito não foi completamente eliminado. “Por mais que a gente tenha voltado para os nossos trabalhos [presenciais], a gente não consegue fazer essa separação.”

As entrevistas não mostraram queixas substanciais sobre a quantidade de trabalho. “A nossa pesquisa mostra que essa sobrecarga existe de fato, não porque a gente tem muita coisa para fazer, mas porque a gente nunca desliga. A gente está o tempo inteiro conectado”, explica Barbosa.

Lideranças despreparadas

A pesquisa da Starbem aponta dificuldades com suporte social e liderança como o segundo maior risco para a saúde mental dos trabalhadores. O problema foi apontado como risco médio, já que reportado por percentuais de até 47% nas pequenas empresas, 53% nas médias e 56% nas maiores.

“Não dá para as empresas negligenciarem isso, com os números alarmantes que a gente tem de problema de saúde mental e bem-estar no Brasil”, diz Barbosa. “Se a empresa não tomar uma ação, o que vai acontecer é que as pessoas vão continuar adoecendo, e cada vez mais pessoas vão adoecer.”

Entre as medidas sugeridas está o treinamento de lideranças. “A gente precisa treinar todos os líderes a lidar com esse ‘novo normal’. As pessoas passam por problemas mentais, são afastadas, passam por burnout. E elas precisam se reintegrar com sucesso, sem preconceito”, segue o diretor.

O executivo afirma que as empresas precisam adotar ainda medidas de comunicação com seus funcionários sobre saúde mental, abrir espaços para queixas e, no caso da conciliação entre trabalho e vida pessoal, incentivar os trabalhadores a se desconectarem após o expediente.

“Existem até controles tecnológicos que a empresa pode colocar para que a pessoa não mande e-mail depois do horário, não fale no chat da empresa. Mas o imprescindível, eu diria, é a comunicação, é incentivar esse equilíbrio trabalho e casa”, conclui Barbosa.