Foi uma reverência espontânea. Antes de receber o prêmio Personalidade do Ano, das mãos da presidenta Dilma Rousseff, na festa da Editora Três, na primeira semana de dezembro, a atriz Lilia Cabral curvou-se numa saudação, abrindo os braços diante dela,  num sinal de estima e respeito. Durante o encontro, outra atriz premiada, Deborah Secco, não  resistiu e, ao cumprimentar a presidenta, beijou suas mãos. A identificação feminina parece explicar os gestos carinhosos da dupla de artistas. É bom ser mulher e ver outra mulher no mais alto cargo de um país. Antes de Dilma, somente a princesa Isabel exercera o papel de mandatária do Brasil, em períodos muito curtos, quando o pai, o imperador dom Pedro II, se ausentava. Depois de um ano de mandato, não é só no universo feminino que Dilma tem colhido sinais de aprovação. No mundo dos negócios, a presidenta também vem recebendo manifestações de apoio, importantes num momento em que a sintonia fina entre governo e setor privado torna-se mais do que desejável para enfrentar as densas nuvens que se aproximam da Europa. 

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Nesse caso específico, vale utilizar uma cara lição das artes marciais: podemos ser, nós mesmos, nossos maiores inimigos. Com tantas variáveis positivas da economia brasileira – reservas em alta, desemprego baixo, menor dependência das exportações e crescimento da renda da população –, ceder ao pessimismo global pode tirar o País do seu prumo.  Não se trata de fingir que o Brasil está acima do bem e do mal. Mas de debater à exaustão quais são as alternativas práticas e viáveis para superar as ameaças, administrando as vantagens de um jogo em que os brasileiros vêm marcando pontos. Pessoalmente ou por meio de emissários, Dilma tem procurado os empresários. Não é novidade, para eles, serem ouvidos pelo governante de plantão. Mas em relação a Dilma parece haver um sentimento diferente: a presidenta ouve mais do que Lula, seu antecessor, ouvia. E busca traduzir em atos o que ficou acertado com seus interlocutores. 

 

“Há mais ressonância e ela se preocupa em agir segundo nossas sugestões”, avalia Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Elétrica e Eletrônica. Quem já trabalhou com a presidenta, ainda nos tempos de ministra de Minas e Energia, lembra que ela entende de gestão pública: tem iniciativas e “acabativas”, cobrando a sequência dos assuntos para que não haja dispersão do que já foi combinado. “Decisões não têm perninhas, precisam ser cobradas”, diz um interlocutor de Dilma. A presidenta fechou, ainda, o ano com aprovação popular recorde. E é com esse rico capital político que Dilma  começará o ano de 2012. Tão ou mais valioso que os US$ 352 bilhões das reservas no Banco Central, o voto de confiança da sociedade implica também obrigação de corresponder à expectativa.Trabalhar a favor do desenvolvimento exigirá foco e a coragem de dar um passo além. 

 

É certo que, para o empresariado, encarar um ano difícil, usando o potencial criativo, não chega a ser novidade. Muitas vezes os empresários foram convocados a pensar fora da caixa para driblar dificuldades. A boa-nova será ver a presidenta usando esse potencial a favor da economia, ao mesmo tempo em que trabalha por uma gestão mais eficaz dos recursos públicos. Se operar de forma correta nessas duas frentes, poderá elevar ainda mais os níveis de aceitação de seu governo, principalmente se  continuar a travar um combate sem trégua contra a corrupção, uma chaga que envergonha a todos os brasileiros. Que venha, então, 2012, com corações e mentes escancarados ao diálogo.