É preciso ter confiança até para tomar um copo de água, quanto mais para fazer negócios ou seguir líderes.

Vivemos tempos de incerteza e de total perda de confiança nas principais instituições de nossa sociedade. E esse não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. Ocorre em todo o mundo.

Neste momento, no entanto, nossa situação é especialmente dramática. A tênue confiança recuperada pós-impeachment sequer conseguiu se sustentar por um semestre, levada de roldão pelas delações que expõem as práticas escusas de políticos de todas as correntes. O quadro atual reforça nossa percepção de que a crise política é sistêmica e não apenas concentrada em um partido ou liderança específica.

O próprio judiciário passou a perder credibilidade ao tomar decisões orientadas pela governabilidade política, sustentando o surgimento de jabuticabas, como o fato de reger o impedimento da Presidente, mas sem suspender seus direitos políticos, ou ainda retirar o Presidente do Senado da linha sucessória e mantê-lo no comando da principal casa legislativa brasileira.

As empresas também estão na berlinda. A crise de confiança não é somente dos empresários para com os rumos da economia, mas também da sociedade sobre a condução dos negócios. Não se pode deixar de frisar que, por trás de todo ato de corrupção, há uma empresa ou um setor inteiro envolvido ou beneficiando-se diretamente.

Não por acaso, pesquisa realizada anualmente em 25 países pela consultoria internacional GlobeScan, especializada em reputação, sustentabilidade e propósito, identificou, já no início de 2016, que as instituições com níveis mais baixos de confiança no mundo eram as empresas, os governos e a mídia.

No Brasil, ainda no clima pré-impeachment, a falta de confiança nos governos em geral destacava-se negativamente, enquanto as empresas, nacionais e multinacionais, rondavam uma avaliação próxima a ZERO.

Mais recentemente, em outubro, a GlobeScan lançou um novo estudo, desta vez, envolvendo os gestores de Assuntos Corporativos de grandes empresas no mundo todo, no qual conclui que a confiança é um ativo tão vital que deveria ser incluída na Gestão de Riscos das companhias.

No levantamento, apenas 21% dos entrevistados julgavam que suas empresas tinham um alto nível de confiança de seus públicos – o que indica que esse número pode ser ainda menor, se considerarmos a tendência humana por ser condescendente com sua própria imagem e atuação.

Em um mundo altamente interconectado e complexo, a gestão da confiança é uma questão urgente para as empresas. Exige uma compreensão abrangente das alavancas da credibilidade, somente possível por meio de uma grande proatividade na abertura de conversas transparentes e honestas com os públicos e na genuína integração dessas demandas às decisões estratégicas.

Segundo a pesquisa, três pilares sustentam a confiança: integridade, competência e benevolência (entendida menos como filantropia e assistencialismo e mais como a capacidade da organização de se engajar às causas da sociedade).  Vamos fazer um pequeno teste para orientar a nossa reflexão:

Pense na mídia. Ela tem se pautado pela integridade, competência e benevolência?

Agora pense nas empresas. Elas demonstram ter integridade, competência e benevolência?

E, por fim, pense nos políticos. Eles agem com integridade, competência e benevolência?