Pujança do setor de tecnologia é motivo de orgulho no país, enquanto alta de gastos militares e redução da mão de obra preocupam.Guerra é algo caro. Além de provocar destruição, tragédias pessoais e mortes, custa muito dinheiro comprar e mobilizar equipamentos. Também custa mão de obra, como a economia de Israel vem descobrindo em várias frentes.

Desde que foi atacado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel está envolvido em intensos combates na Faixa de Gaza.

Após o início da guerra, Israel também fez ataques aéreos contra o Líbano com o objetivo declarado de atingir o Hezbollah. E, na semana passada, lançou um amplo ataque ao Irã com o objetivo declarado de desativar seu programa nuclear.

Grandes problemas e grandes orçamentos

Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, a economia de Israel está sob pressão significativa.

Muitos reservistas foram convocados para a guerra, o que os forçou a deixarem temporariamente seus empregos. Além disso, as autorizações de trabalho de muitos palestinos foram canceladas, e cruzar as fronteiras ficou cada vez mais difícil para eles.

Tudo isso dificulta o preenchimento de vagas de emprego. Em abril, o país registrou uma taxa de desemprego de 3%, abaixo dos 4,8% de 2021.

Ao mesmo tempo, aumentam os gastos militares em Israel. Em 2024, eles cresceram 65% e atingiram 46,5 bilhões de dólares, segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) publicado em abril. Os gastos militares representaram 8,8% do PIB — segundo maior percentual do mundo, depois da Ucrânia.

O orçamento do país para 2025 prevê gastos totais de 215 bilhões de dólares, alta de 21% em relação ao ano anterior. Deverá ser o maior orçamento da história de Israel. Nesse montante, estão previstos 38,6 bilhões de dólares para defesa, segundo uma reportagem do jornal The Times of Israel.

Incerteza sobre o futuro

Itai Ater, professor de economia da Universidade de Tel Aviv, afirma que a guerra é “muito cara” no momento, e que há “uma enorme incerteza sobre o futuro no curto e longo prazo”.

“Os custos militares nas frentes ofensiva e defensiva são muito altos. Isso certamente afetará o orçamento, o déficit, o PIB e a dívida israelense”, disse Ater à DW.

Os custos são realmente significativos. Nos últimos 20 meses, muitos israelenses passaram centenas de dias no serviço militar. Outros foram retirados de suas casas perto das regiões de fronteira, causando grandes perturbações em suas vidas. Os serviços sociais estão sob pressão.

Desde o início do confronto com o Irã, muitas pessoas não têm trabalhado em função dos bombardeios recorrentes, incluindo nos setores de manufatura, comércio, tecnologia e educação, diz Ater.

Os voos comerciais de e para o país também estão suspensos. As companhias aéreas retiraram seus jatos e o espaço aéreo sobre grande parte do Oriente Médio está fechado.

Alta de impostos para cobrir custos

Para compensar parte dessa pressão financeira, o governo aumentou os impostos. O imposto sobre o valor agregado para a maioria dos bens e serviços subiu de 17% para 18% no início do ano. A contribuição de saúde, deduzida do salário dos funcionários, também aumentou, assim como as contribuições para a seguridade social.

A economia israelense sofreu ao longo do último ano e meio, mas tem sido “surpreendentemente resiliente”, diz Benjamin Bental, professor emérito de economia da Universidade de Haifa.

Embora o turismo, a manufatura, a construção e a agricultura tenham sentido o impacto, outros setores, como alta tecnologia, defesa e varejo de alimentos, continuam resilientes. Em 2024, o PIB do Israel superou os 540 bilhões de dólares, melhor que o dos dois anos anteriores.

Bental destaca o desempenho sustentado do setor de alta tecnologia e o mercado de trabalho em geral, que está “mais aquecido do que nunca”. Os alertas de que infraestruturas críticas de energia e internet seriam alvo do Hezbollah ou do Irã se mostraram, até agora, infundados, mantendo as empresas em pleno funcionamento.

Dependência do setor de alta tecnologia

Não é por acaso que Israel é conhecido por sua indústria de alta tecnologia. O setor emprega 12% da força de trabalho e paga cerca de 25% do imposto sobre a renda devido aos altos salários, segundo o banco de investimentos americano Jefferies.

Os serviços e produtos de alta tecnologia representam 64% das exportações do país e cerca de 20% do PIB total.

Mas o número de funcionários do setor de alta tecnologia em Israel está estagnado desde 2022, segundo um relatório divulgado em abril pela Autoridade de Inovação de Israel.

Em 2024, pela primeira vez em uma década, o número de funcionários locais no setor de alta tecnologia diminuiu, e o número de funcionários que deixaram o país aumentou, segundo o relatório.

Hoje, essas empresas ainda têm cerca de 390 mil funcionários em Israel e outros 440 mil fora do país. Alguns temem que impostos mais altos possam levar mais empresas ou trabalhadores que conseguem operar remotamente a sair do país.

Risco de guerra de atrito

A maior incógnita neste momento é a incerteza geral da situação em Israel e na região. Isso afeta trabalhadores, empregadores e investidores.

“No entanto, se olharmos para o mercado de ações e a taxa de câmbio, parece que os investidores estão otimistas, provavelmente antecipando que a guerra terminará em breve, que a ameaça nuclear do Irã será eliminada e que a economia se recuperará e melhorará”, disse Ater.

Para os investidores, os riscos de curto prazo aumentaram, mas o impacto real depende da duração dos conflitos militares e de como eles terminarão. “Um cenário alternativo, no qual entramos em uma longa guerra de atrito com o Irã, também é provável”, disse Ater. “Nesse caso, é improvável que a economia prospere.”

Olhando para o futuro, Ater vê a situação de segurança em geral, e o conflito israelo-palestino em particular, como um dos desafios econômicos de longo prazo do país.

Além dessas tensões, ele diz que será importante também ficar de olho na divisão social interna do país e na reforma do Judiciário e suas implicações para as instituições democráticas.