A briga envolvendo o Pão de Açúcar e o francês Casino chegou ao mercado financeiro. Agora, Jean-Charles Naouri, CEO do grupo com sede em Paris, tem um novo rival: o ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco, sócio-controlador da gestora de recursos Rio Bravo. A empresa de Franco entrou com uma representação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionando a compra de ações do Pão de Açúcar comandada por Naouri.  A reclamação da Rio Bravo à CVM, formalizada pelo seu diretor de renda variável, Rafael Rodrigues, alega que o Casino teria desrespeitado o período de bloqueio de negociações. 

No dia 29 de junho, assim que foi anunciada a proposta de fusão com o Carrefour, o departamento jurídico do Pão de Açúcar seguiu a orientação da CVM e proibiu os conselheiros e acionistas controladores de negociar ações do grupo enquanto durasse o processo. A decisão foi informada por meio de e-mails. O Casino ignorou a recomendação e comprou, no mesmo dia, US$ 1,1 bilhão de ações do Pão de Açúcar, elevando sua participação no capital da empresa de 37% para 44%. Naquela data, os papéis chegaram a se valorizar  12% durante o pregão. 

 

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Poucos dias depois, em 8 de julho, a CVM abriu processo para investigar o assunto. Segundo Guilherme Affonso Ferreira, gestor de um dos fundos administrados pela Rio Bravo, o Fundamental, os demais acionistas foram prejudicados pela operação de compra do Casino.  “Pedimos esclarecimento à CVM porque nós, como sócios, deixamos de operar obedecendo à orientação da companhia”, afirmou. O fundo gerido por Ferreira detém 1% do capital da varejista, e o gestor ocupa um assento no Conselho da rede. “O Casino está na mesma situação, tem cinco conselheiros lá e, como nós, deveria ter sido impedido de operar”, diz Affonso Ferreira.

 

Por intermédio de sua assessoria, o Casino afirma que não estava impedido de negociar as ações do Pão de Açúcar, alegando que não tinha informações sobre as negociações com o Carrefour. Se esse raciocínio fosse válido, a proibição valeria apenas para o grupo vinculado a Abilio Diniz. No entanto, a regulamentação da CVM é clara ao proibir que os maiores acionistas negociem papéis antes da divulgação de um fato relevante. O próximo capítulo da novela, com  novos personagens, como a Rio Bravo, promete.