A inspiração veio do bilionário sul-africano Elon Musk, dono da Tesla e do antigo Twitter, agora X. Já a iniciativa partiu do empresário Flávio Figueiredo Assis, ex-dono da empresa financeira Lecard que, diante da possibilidade de contribuir para a mudança da matriz energética no País, deu início em fevereiro de 2022 à criação da Lecar Indústria Brasileira de Automóveis Elétricos. Depois de quase dois anos de trabalho, a marca deve apresentar em dezembro o primeiro automóvel nacional 100% elétrico: o Lecar Model 459. O protótipo será enviado à Inglaterra no mês que vem para uma série de homologações e testes, com a previsão de entrar em linha de produção no Brasil no fim do ano.

A montadora visa faturar R$ 1 bilhão em 2025. “Além de criar um projeto que favorece a mobilidade e a sustentabilidade, nosso objetivo é fazer com que o Brasil seja visto de forma valorizada”, disse o fundador e CEO. “Somos a oitava economia do mundo [a nona, na verdade] e ainda não tínhamos uma montadora nacional. Vamos mudar o rumo da história.”

(Divulgação)

Apesar da determinação demonstrada pelo executivo, uma pergunta se torna inevitável: terá a Lecar o mesmo destino de outras marcas brasileiras, como Gurgel, Miura e Puma, que sucumbiram diante da concorrência das multinacionais?

O bacharel em direito e contabilista afirmou que os desafios da mudança da matriz energética são iguais para todas as montadoras, sejam elas tradicionais ou estreantes. “Acredito que em toda mudança de tecnologia surgem novos líderes”, disse.

Flávio Assis, fundador e CEO da Lecar Automóveis: “Além de criar um projeto de mobilidade sustentável, o objetivo da nossa empresa é fazer com que o Brasil tenha mais valorização. Vamos mudar o rumo da história” (Crédito:Divulgação)

• Para tentar garantir um espaço para a Lecar no mercado eletrificado, o executivo foi buscar especialistas em grandes companhias do segmento automotivo. A equipe de engenharia tem 30 profissionais com passagens por Toyota, Nissan e Ford. Ao menos 35% das peças do Lecar Modelo 459 serão importadas da China, de fornecedores que atendem também gigantes como Volkswagen e Hyundai. Os demais componentes serão produzidos no Brasil.

• O veículo 100% elétrico será fabricando na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, por causa da proximidade com vários fornecedores do ecossistema de mobilidade. O Lecar Model 459 terá um custo de R$ 279 mil e autonomia de 400 km por carga. A carga tributária é de 43%. “Precisamos que o governo se conscientize sobre a importância dos carros elétricos para o Brasil e crie uma política de incentivos a fim de termos preços mais competitivos.”

• O plano é produzir 300 veículos por mês já no primeiro ano de fabricação, gerando 600 empregos diretos. O foco das vendas será a Grande São Paulo, especialmente entre a capital, Campinas e São José dos Campos. Os investimentos até a fase inicial de produção chegam a quase R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 80 milhões em homologação, R$ 600 milhões em obras civis, ferramental, moldes e robotização da linha de produção, além de R$ 400 milhões na fabricação das primeiras 300 unidades.

• O investimento tem sido feito com capital próprio do empresário. Mas Assis não descarta a realização de um IPO em 2025 para levantar capital. A montadora visa captar R$ 5 bilhões na bolsa, para produzir 50 mil carros em cinco anos, com receita estimada em R$ 14 bilhões. O fundador garante que a sustentabilidade financeira da marca não está condicionada a bom resultado na oferta pública de ações. “Não dependemos de capital de terceiros para o sucesso do projeto e a produção de 300 carros por mês”, disse.

EM ALTA

A aposta nestá baseada em números do mercado. As vendas de veículos leves eletrificados seguem em crescimento no País. No ano passado, os emplacamentos chegaram a 93,9 mil unidades, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

Diante do desempenho, a entidade projeta a comercialização de 150 mil unidades este ano. “O veículo elétrico caiu no gosto do consumidor brasileiro, e essa tendência se confirma ano após ano”, disse Ricardo Bastos, presidente da ABVE. E a Lecar espera pegar carona nesse movimento.