Existem duas possibilidades para quem decide empreender no ramo hoteleiro: aproveitar um destino que já existe e levar até ele sua proposta de hospedagem ou construir um do zero. O grupo Nannai fez ambos. Primeiro, construiu. O local escolhido foi Muro Alto, no litoral sul pernambucano. No final da década de 1990, a praia ainda era desconhecida, embora seja vizinha da badalada Porto de Galinhas e fique a apenas 54 km do Recife. Foi ali que Tarcísio e Luiz Otávio Meira Lins, pai e filho, encontraram uma área de Mata Atlântica à beira do Oceano Atlântico, em um trecho protegido por arrecifes que formam uma piscina natural de águas mornas e cristalinas. Lugar perfeito para um hotel que remetesse à polinésia francesa. O projeto foi pensado com piscinas individuais e espelhos d’água contornando os bangalôs, entre coqueiros e o mangue. Foram cinco anos de obras até o Nannai Beach Resort abrir as portas, em dezembro de 2001. Passadas duas décadas, os proprietários levaram sua expertise para o arquipélago que já ocupava posição de destaque no imaginário de viajantes do mundo todo: Fernando de Noronha. E mesmo ali, onde a palavra paradisíaco faz sentido, a beleza do entorno é um detalhe. “Muitos hóspedes costumam dizer que o Nannai é o próprio destino. É um mundo à parte”, afirmou o gerente geral da rede, Paulo Amaral.

Contratado em 2020, durante a pandemia, Amaral lidera a estratégia de expansão do Nannai. Segundo ele, dois novos destinos estão nos planos. Sem dar detalhes, ele disse que será próximo a São Paulo, onde estão 70% dos clientes atuais. A ideia é que ambos reproduzam a forma de hospedar que os proprietários do Nannai chamam de Slow Resort. O conceito foi adaptado da gastronomia. O Slow Food é um movimento criado na década de 80 pelo italiano Carlo Petrini que tem como objetivo promover maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e valorizar os ingredientes, seus produtores e o meio ambiente. Depois veio o Slow Travel, com uma abordagem sustentável que enfatiza a consciência pessoal do turista a partir do contato com a história e a cultura local. Sob essa inspiração, os proprietários do Slow Resort pernambucano definiram os princípios de sua hotelaria em um manifesto intitulado A Natureza Humana Nannai. Ela é caracterizada por “pessoas únicas que criam experiências extraordinárias (…). E esta mágica chega pelo ar, intuitivamente, sem ninguém notar. Mas vai te transformando dia e noite”.

ESPLÊNDIDO Pode parecer exagero, mas quem se hospeda tende a concordar. O empresário Francisco Castro, 60 anos, sócio majoritário da Advanced Corretora de Câmbio, em São Paulo, já foi duas vezes ao resort de Muro Alto e está planejando sua terceira viagem. “Em uma palavra, eu diria que o Nannai é esplêndido”, afirmou. “Fico em um bangalô de frente para o mar. Acordar com aquela paisagem maravilhosa é como estar no Caribe sem sair do Brasil”, disse. “Gosto da privacidade, com uma praia e uma piscina só para nós. Dá para ficar quatro dias sem ser visto, só curtindo as belezas.” Ele destaca ainda o serviço gentil, “sempre com um sorriso no rosto”. Um fim de semana para casal na baixa temporada custa em média R$ 5 mil, sem incluir as refeições e bebidas (apenas o café da manhã está na diária).

Há motivos de sobra para o sorriso de quem trabalha lá. Segundo o gerente Amaral, o que é bom para o hóspede tem de ser bom também para a equipe. E isso pode ser comprovado por algumas das iniciativas criadas para que os colaboradores sintam-se parte da experiência. “Fizemos uma academia para os funcionários, com personal e salão de beleza, e o refeitório tem nutricionista”, disse Amaral. Um programa de avaliações trimestrais premia o desempenho dos 380 empregados diretos com o pagamento de bônus. Em 2022, o valor distribuído no programa somou R$ 1,1 milhão. “Os donos olham muito para três aspectos da operação: a equipe, a qualidade dos insumos e a satisfação do cliente. O custo não é o fator primordial”, afirmou o gerente. “Qualidade e excelência são inegociáveis para nós.”

As ações para manter o grupo de colaboradores engajados garantiram ao Nannai Resort & Spa, em 2022, o selo Great Place to Work (GPTW), que reconhece as melhores empresas para trabalhar. A avaliação é feita a partir de questionários preenchidos pelos próprios empregados. (Um parêntese sobre a mudança da assinatura, de Beach Resort para Resort & Spa: ela ocorreu depois que o Nannai construiu um centro terapêutico em parceria com a grife francesa de cosméticos L’Occitane). De volta à equipe. Um exemplo prático de como a empresa valoriza os colaboradores foi uma premiação dada ao time que trabalha na área de reservas. Depois de sugerir iniciativas para aumentar a ocupação do hotel nos meses de baixa temporada, os funcionários ganharam viagens para se hospedar em hotéis de luxo em São Paulo e visitar restaurantes que normalmente são frequentados pelos clientes que eles atendem no dia a dia do Nannai. Também participaram da experiência mesa do chef, um serviço de sete tempos no restaurante TiaTê, construído após a pandemia e que homenageia a matriarca da família Meira Lins, Dona Tereza. “O apelido dela é tia Tê e todo o conceito foi criado em torno dessa ideia, de uma tia recebendo a família para uma refeição afetiva, desde a horta até a decoração”, disse Amaral.

ARRUMADINHO Com a inauguração do TiaTê, que será levado também para o resort de Noronha, a gastronomia regional do Nannai ganhou ainda mais protagonismo. Isso porque o cardápio une o rústico e o sofisticado, com um livro de receitas aberto para a consulta dos hóspedes, assim como a cozinha, comandada pelo chef Fernando Pavan. Além de preparar ingredientes locais a partir de técnicas da alta gastronomia, caso dos pratos à base de frutos do mar, o menu traz opções típicas da região Nordeste, como arrumadinho, cartola na brasa e beijo caboclo.

Além da ampliação da rede, o grupo pretende lançar seu plano de afinidade, exclusivo a clientes especiais. A escolha dos 100 nomes que farão parte do grupo não será feita apenas a partir de assiduidade ou gastos. “Os donos e os funcionários farão uma lista com base também na postura dos clientes em relação à equipe”, disse Amaral. Se é mais fácil ser feliz em um lugar assim, faz todo sentido valorizar quem contribui para que a harmonia perdure.