Mais de 70% dos adultos economicamente ativos estão em processo de endividamento; se pensarmos que 57% da população do país é preta, esse é o grande desafio. Essa é a reflexão de Fernanda Ribeiro, fundadora e CEO da Conta Black, fintech voltada para empreendedores negros no Brasil. Na semana em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, ela e outros porta-vozes dão dicas para quem está começando no mundo das techs startups.

+ Um caminho para a ascensão de profissionais negros

Além de dicas, eles comentam sobre os desafios para esse público e a necessidade do avanço na educação financeira.

Qual a importância de uma fintech no Brasil voltada a empreendedores negros?

Fernanda: Entendo que o nosso grande diferencial é trazer um olhar para as especificidades, baseada principalmente na vivência de pessoas pretas. Não podemos ignorar o fato de que a forma como a população negra se relaciona com o dinheiro é totalmente diferente das pessoas não negras e isso tem muito a ver com as suas vivências pessoais.

Por muito tempo fomos educados a pensar que dinheiro e pretos eram palavras rivais. Sendo assim, se faz necessário e é importante ter negócios criados por pessoas pretas pensando em pessoas pretas, inclusive quando se fala em empreendedorismo e finanças com e para pessoas pretas.

Quais as maiores dificuldades de conseguir crédito para pessoas negras? Por que?

Existem barreiras visíveis e invisíveis que impossibilitam esse acesso. Vão desde o fato de desbancarização em alguns casos até racismo algorítmico. Quando pensamos em população negra, estamos alocados na “camada social mais ignorada” nesse sentido.

A educação financeira para a população negra? É um desafio atual?

É um desafio para a população brasileira como um todo, mas obviamente quando confrontamos com o recorte de raça, a população negra é a mais atingida. A consequência disso é que hoje, mais de 70% dos adultos economicamente ativos estão em processo de endividamento, se pensarmos que 57% da população do país é preta, esse é um grande desafio. Vale a pena salientar que hoje boa parte das pessoas que saem do Ensino Médio tem dificuldade para fazer as quatro operações matemáticas.

Olhando para todos esses números/dados, conseguimos entender o tamanho do desafio. Gosto de olhar o copo “meio cheio” após a pandemia, houve um aumento na busca das pessoas por conhecimentos relacionados à finanças. Temos como propósito, utilizar ferramentas que ajudam nesse processo das pessoas.

Ideia e ecossistema em startups

A IstoÉ Dinheiro também conversou com Viviane Moreira, COO da Zeka Educação Digital, edtech focada em ensino médio. Para ela, o segredo é: não basta ter uma grande ideia, entendendo que ela pode ser realmente uma startup de sucesso.

“Entendam o mundo de startup, todos os códigos, todos os entendimentos, e principalmente, todo o conceito do que é startup. Pesquisas apontam que as startups não passam do primeiro ano. O importante é termos uma grande ideia, mas entender também o ecossistema. O empreendedorismo em startups, independente do canal que seja”, explica.

Viviane Elias é fundadora da Zeka Educação Digital. (Crédito:Larissa Isis)

A segunda dica é ter os papéis de responsabilidades muito bem definidos, principalmente nas startups que estão começando.

“Sabemos que as startups normalmente têm acumulo de funções entre os fundadores ou cofundador, ou entre o fundador e a pessoa responsável por tecnologia. Isso muitas vezes coloca em segundo plano alguns processos e estratégias que são importantes para a sobrevivência das startups. Então, tenha em mente que, às vezes, ter um plano de negócio muito bem definido dentro dessa construção da startup pode ser a chave do segredo da sobrevivência da sua startup no primeiro ano”, afirma Viviane. 

Uma dica adicional ainda neste tema, é que muitas pessoas podem terceirizar ou dividir recursos. “Por exemplo, startups que estão começando, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, já é bem comum ver a divisão de recursos, principalmente ligados à tecnologia, dados e segurança da informação. Então, a pessoa presta serviço para diversas startups, em diferentes níveis, em diferentes segmentos, e compartilha recursos, que podem ser projetos pontuais. Isso pode ser uma vantagem para quem não pode contratar um recurso dedicado, mas ainda assim consegue ter a divisão de papéis e responsabilidades muito bem desenhados”, exemplifica a CCO.

A terceira dica é conhecer todos os riscos envolvendo o seu projeto. Iniciar uma startup sem ter muito bem mapeado os riscos sociais, financeiros e operacionais ou não ter um plano e estratégia de contingência do que pode ser feito em médio ou curto prazo é um erro.

“Normalmente as startups morrem justamente por não conhecer os seus riscos ou por negligenciá-los. Muita gente entra numa onda de que toda startup começa com riscos, mas esquece que o mercado evoluiu e os investidores estão muito mais restritos e muito mais conservadores, justamente porque estão cobrando o entendimento do fundador ou do cofundador de onde ele está investindo ou qual é o risco daquele negócio”, finaliza.